Gumercindo, e Baco

 
Olá, muito prazer encontrar você aqui. Me chamo Atenor Carvalho, mas pode me chamar de Tenor.
Eu sei, meu nome é estranho, é que meu pai estava um tanto fora de órbita e esqueceu de escrever o N do meu nome no papel que deu ao escrivão que assentou meu nome no registro.
Você chegou bem a tempo de ouvir o que eu estava prestes a contar aqui pros amigos, caso queira ouvir sente-se e seja bem vindo.

Pois bem.
Ontem a noite eu fuçava imagens do Google tentando encontrar novas imagens capturadas por qualquer telescópio espacial. É claro que encontrei um montão de imagens novas para mim, mas não novas para a humanidade. Estou falando de imagens do espaço espacial, não procurava por imagens de telescópios espiões que invadem a privacidade de outros países.

Quem faz pesquisa em sites de pesquisas sabe que nem tudo que nos apresentam tem a ver com o que procuramos. Por exemplo: você quer pesquisar sobre a vida e obra do palhaço Carequinha, que alegrou nossa infância sentados frete a televisão, e de repente entre as imagens do Palhaço Carequinha aparece uma coisa grande e hirta de ponta careca completamente fora do contexto.

Na minha procura de ontem a noite não houve esse tipo de susto, mas entre galáxias, estrelas, planetas e outras maravilhas, havia uma imagem de Baco. Não printei nenhuma das imagens espaciais, printei Baco e lhes digo porque; lembrei do Senhor Gumercindo.
Não, Gumercindo não era um pinguço como meu pai.

Morávamos no mesmo condomínio e nos esbarrávamos com certa frequência nas áreas comuns. Era mineiro e ainda mantinha o delicioso sotaque da terra natal. Bom papo, gostava de falar das coisas da sua terra de onde saíra para trabalhar numa estatal aqui em Pernambuco de outras épocas. Veio com esposa e sem filhos, estes nasceram aqui, e gostava de contar histórias.

Esta é uma delas.
No dia seguinte a sua festa de aniversário comemorativa dos seus dezoito anos uns amigos o levaram a uma casa noturna em uma cidade próxima, Córrego Do Velho, o nome da casa era BACO. Ao sair de lá no dia seguinte, uma manhã fria e nevoenta do mês de junho, Gumercindo jurou que nunca mais pisaria em ambiente como aquele.

No ônibus de volta para casa Gumercindo sentou-se ao lado de uma jovem de cabelos longos e negros como as asas da graúna. Os amigos espalhados em outros assentos do veículo dormiam. O ônibus chegou ao destino e os rapazes ficaram a espera de Gumercindo que nunca descia. Procuraram e não encontram o amigo dentro do ônibus. Foram perguntar ao motorista sobre o passageiro desaparecido, o motorista informou que tal rapaz descera do ônibus em companhia de uma jovem de cabelos longos e negros nas proximidades de São Roque. Alguns dias depois, e durante algum tempo, esses amigos tomaram picadas de agulhas transportando Penicilina.

Gumecindo voltou para casa em companhia da jovem de cabelos longos e negros três meses depois da festa de seu aniversário. Não precisou tomar agulhadas de Penicilina. Ele na casa dos pais, ela na casa de uma tia solteirona do Gumercindo. Gumercindo foi estudar na capital, formou-se, casou com a ainda jovem de cabelos longos e negros, e nunca se soube o que Gumercindo e seus amigos fizeram na casa noturna de nome Baco. Há suspeitas e suposições, mas nenhuma certeza.

Um mistério que dá margem a muita especulação também. Gumercindo nunca falou para onde ia a  jovem de cabelos longos e negros, se estava indo ou voltando para sua casa naquele ônibus. Gumercindo nunca diz aonde estiveram no período que passara longe de casa. Seria ela frequentadora da casa... -cala-te boca-.

Outra hora eu falo sobre certa peculiaridade do Gumercindo. De andar pelas áreas comuns do condomínio nos fins de semana com a camisa toda amassada sem passar. Essa peculiaridade explica muitas coisas.

 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 09/06/2018
Reeditado em 13/06/2018
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