UM CONTO...

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Esperava! Cálida tarde de crepúsculo ruborizando o  horizonte testemunhava  a presença daquela delicada figura feminina que mirava, incansável, a estrada que se estendia diante de seu olhar. Orlada de pedras e grama com pequeninas flores silvestres quebrando o tom verde daquela vegetação exuberante após as chuvas de verão, era um caminho bonito, com partes sombreadas pelas copas de árvores que balançavam ao vento.
Olhar melancólico! Nem tristeza e nem alegria! Apenas melancolia da solidão daquelas paragens onde poucos viandantes passavam. Ao longe, o cantar de pássaros...vez ou outra, uma gazela se aproximava da grama fresca e macia, mas sempre vigilante com receio de predadores. A jovem olhava toda aquela beleza, mas a lembrança de seu sonho insistia em ficar passeando em seus olhos amendoados.
Voltava-se, então lentamente para o interior de sua casa tão bem cuidada e limpa, embora simples. Era aconchegante aquele reduto pequeno de janelas enfeitadas de jardineiras floridas. Seus avós olhavam-na com ternura e se perguntavam por que tanta melancolia naqueles olhos belos. Em que pensaria a jovem? Com quem sonharia em suas noites?
A aldeia próxima era alegre, e as risadas de jovens como ela podiam ser ouvidas dali. Vezes uma quermesse alegrava o local, com movimento de feiras livres, quitutes, artesanato, bingos alegres e sorteios. No silêncio de seu quarto, seu pensamento corria na direção daquele jovem sério que vira algumas vezes em suas idas à aldeia. Estranho não considerá-lo tão estranho! Parecia-lhe familiar! De quando seria? Cabelos escuros caiam-lhe na testa com rebeldia. Era bonito e a olhava, mas não se aproximava.
O ruído e a animação quebravam o silêncio daquela noite e a jovem reanimou-se, ansiosa para participar do evento. Era a festa tão esperada pelo povo daquele lugarejo que ocorria duas vezes ao ano. Aprontou-se mais uma vez, esmerando-se no pentear os cabelos acobreados que lhe cobriam os ombros. Colocou uma rosa amarela de um dos lados, puxando o cabelo para trás. Olhou-se! Estava bonita, pensou consigo mesma.  Vestia um vestido rodado branco que lhe marcava o corpo bonito, cintura fina, macio como seda. Seus avós seguiram-na animados, vendo-a tão linda e sorridente.
Os jovens a olhavam e cortejavam, mas ela tinha a atenção voltada apenas para aquele rapaz quieto, sentado sobre um banco de pedra que a olhava também com interesse desde que chegara. Por que não se aproximava dela? Não parecia tímido, mas era reservado e sério. Tinha um rosto bonito, moreno e o chapéu caia-lhe levemente de lado, dando-lhe um ar sedutor. Mantinha a mão esquerda sempre no bolso da calça...escondia um defeito visível de dois dedos mais curtos que os demais. Talvez pensasse que este defeito afastaria as garotas.
Impetuosamente, a jovem foi em sua direção, enquanto os avós olhavam-na surpresos. Parou diante dele indecisa. Ele se surpreendeu com a aproximação dela, abaixando a cabeça e levantando-a rápido, com medo de ela se afastar. Sorriu-lhe e recebeu seu doce sorriso de volta. Parecia um reencontro, tal a força da atração entre ambos. Apenas estendeu sua mão tocando a dela. Entendiam-se. Continuou com a mão esquerda no bolso até que ela, com delicadeza, pediu que segurasse com as duas mãos, as suas, e assim o jovem fez. Ela as segurou com carinho e firmeza sem se surpreender, admirando seus dedos longos sem dar importância ao defeito, dizendo apenas:

"Que lindas mãos você tem!"  (28/03/2018)
Najet, editado em 21/05/2018

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Najet Cury
Enviado por Najet Cury em 21/05/2018
Reeditado em 21/05/2018
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