Carta para uma pessoa (Im)pessoal
Hoje eu falei de você. Depois de longos meses, eu voltei a falar de você com alguém. Falei sobre você e sobre nós. Falei sobre nossa história, nossa confusão sentimental e sua decisão. Falei sobre tudo o que nos envolveu e como tudo isso foi decisivo para eu estar onde estou. Falei sobre nossa viagem de final de ano, do meu pedido de namoro, do teu sorriso e do nosso último “eu te amo”. Eu lembrei de nós dois e tenho lembrado tanto ultimamente que parece assustador. Tenho pensado em como seria se eu tivesse dito tudo o que eu sentia, como disse há dois anos atrás, na nossa última vez. Tenho pensado como teria sido se, ao invés de somente te ouvir, tivesse aberto meu coração, falado a verdade, pedido uma chance, desejado te mostrar um futuro diferente, ter tido mais calma, começado devagar, ter voltado passos que pulamos por conta da saudade. Se não fôssemos tão imaturos, talvez eu já estivesse planejando te pedir em casamento e torcendo para que você aceitasse, pois ninguém mais seria capaz de ser a mãe dos meus filhos, se não você. Era você e talvez sempre seja. Eu falei de você porque eu pensei muito em ti. Não pela saudade, mas por estar assustado.
Eu sonhei com você em meus braços, tão próxima de mim, mas muito distante, pois você já não estava ali. Nele, eu chorei por conta da sua partida, mas chorei porque não pude dizer nada para ti antes de você ir. Eu não lembro das minhas últimas palavras para ti. Eu não disse a verdade quando deveria - e isso não se retrata apenas na nossa última vez ou no meu sonho. Eu nunca disse a verdade em nenhum dos momentos que eu precisava. Eu lembro do dia do nosso término, quando eu fugi por me sentir frágil demais e saber que, ali, você se machucaria ainda mais por conta da minha imaturidade. A verdade era aqui eu te amava demais para ver você chorando por nós. Eu também lembrei do dia que quase me ajoelhei por ti, comprovando ainda mais minha fragilidade, querendo seu perdão e seu amor de volta. Você exibia confiança e eu até apreciava tudo aquilo. Você era mais madura que eu e sentia mais nessa relação do que eu. Eu era jovem demais e não sabia lidar com tudo aquilo; Você era demais, sabia exatamente como fazer tudo fluir e ser tão natural para nós.
Enquanto escrevo, também me veio a memória da nossa segunda viagem, quando viajei com a sua família pela primeira vez. Nossos corpos quentes se esfriando na água gelada da piscina daquela pousada, seu abraço me aconchegando como ninguém jamais conseguiu e seus irmãos perturbando como sempre - nada que me incomodasse, já fui criança. Eu te adorava ali, tão próxima de mim, entrelaçada e tão desejada por mim. No entanto eu sempre cometi deslizes e você sempre se magoava comigo - era tão repetitivo. No dia seguinte, domingo, você ficou chateada comigo porque imaginou que eu fosse te trocar por um caso antigo, apenas por eu ter comentado com um amigo que estava com medo de encontrar certa pessoa depois de longos meses. Eu simplesmente deixei a poeira baixar e não te falei nada. Eu deveria ter dito que você era a garota da minha vida, a menina que possuía toda a minha atenção e meu coração, que eu te amava inteiramente, mas não, eu não falei. Eu me calei como viria a acontecer outras milhares de vezes. Lembrei de quando fomos ao cinema pela primeira vez. Até hoje, sempre quando assisto aquele filme, eu lembro de nós.
“Eu percebi que não importa aonde esteja, ou o que esteja fazendo, ou com quem esteja. Eu vou sempre, verdadeiramente, completamente, amar você.”
Nunca fez tanto sentido para mim, logo eu, incapaz de sentir tanto, te senti. Lembro das nossas mãos coladas, alinhadas tão perfeitas em um encaixe absurdo. Talvez tenha sido mais um dos momentos que eu viria a viver com terceiras que jamais viriam a superar os vividos contigo - infelizmente.
Lembrei de você porque eu senti você partir de mim, de alguma forma. Vi seu corpo milhares de vezes e pensei outras tantas vezes em como minha vida seria se você simplesmente partisse definitivamente daqui, de mim. Não gostei do que vi e muito menos do que senti…
Meus sonhos mandaram mensagens e parecem tão reais para uma mente que pensa em inúmeros futuros utópicos ao lado de alguém que não voltará, mas de alguma forma sente que algo está acontecendo. Você pode me ouvir? Você consegue me sentir? Você consegue me ler como antes? Você ainda sente que eu não estou bem como você sentia? Você sente que tudo está caindo ao seu lado como estava caindo ao meu por todo esse tempo? Em algum momento você se sentiu da mesma forma que eu? Em algum momento as coisas pioraram ao modo de te fazer pensar em inúmeras possibilidades para largar tudo e começar de novo? Em não começar? Em apenas fugir? Em algum momento tudo caiu para ti como para mim? Você pode sentir tudo isso? Você pode notar que tudo não está bem? Você está bem? Eu não estou bem. Eu nunca estive bem. Quebrem máscaras e mostrem meus lados reais. Mostrem o sangue que escorre pela minha face e chegam até o piso úmido do meu quarto. Eu não estou aguentando. Nada faz sentido. Nada faz sentido e talvez nunca tenha feito. Talvez eu só esteja surtando pela milésima vez no mês. Eu tenho pensado na morte o tempo inteiro, mas não se trata da minha, se trata da sua.
Como eu vou lidar com tudo isso se eu estou sozinho?
Sozinho…