Dor e dor

"te quero, te quero, querendo quero bem"

Todos os ossos do meu corpo doem. Respirar dói. Fechar e abrir os olhos dói. E ver o medo e o desespero irem embora também dói.

Ele fala sobre o medo, sobre a falta de confiança, sobre sua obsessão sobre mim. Eu me cego. eu me calo diante de qualquer justificativa, não busco mais, não oferto. Tenho tentado aplicar o que aprendi no curso de introdução a comunicação não violenta, mas com ele não consigo. Me calar quebra a comunicação, escrever grandes textos, sem a pretensão absorciva do outro, quebra qualquer possibilidade de compreensão. E ele não quer mais. Ele não me quer mais. Diz que sente coisas por mim ainda, não explica o que é, não denomina. Mas denomina o fato de eu ser o sinônimo da sua dor.

Eu não sei explicar as coisas. Penso que me falta um grau de instrução sobre esse sentido. Mas, talvez... e se Deus me levar? Será que ele me ouve? Será que Deus está me ouvindo agora? JL não está, ele ainda não compreende as minhas construções de frases. Palavras... Ele deixou várias palavras, com vários significados, e está vivendo.

sinto uma pontada no peito, digo que está tudo ferrado, e está. Talvez nada mude. Me sinto dentro de um livro escrito por Marguerite Duras, Françoise Sagan, e adaptado por Bukowski. Por dentro tudo apodrece, e eu me perco. O medo me toma. Os dias se tornam frios, confusos, escoados. Tudo parece tão sem sentido, ou impaciente, ou sem interesse algum.

Penso em revisar a conversa da noite anterior, em que eu mal pude falar por não estar pensando direito. Eu já tinha me entupido de remédios. Nada de tragédias. Atualmente eu fujo desses caminhos falhos de escape, não leva em local algum. Eu não quero manter a dor, eu quero que ela vá embora. Pego um lápis, escrevo várias palavras que possam significar alguma coisa. Não quero nada, pois o que adianta ter algo sem que eu possa compartilhar com ele?

As pessoas me apresentam outras pessoas, que me apresentam outras pessoas, e outras. E o amor está na atitude, ele fala, não na palavra. Ele está correto, mas creio que há algo mais que isso. Eu acho que existe a capacidade interpretativa de cada situação. Eu pequei. Não sei como agir diante de emoções de forma geral.

Eu sempre fui educado a retrair as emoções. Quando criança eu costumava ter emoções bem expressivas, e quando eu as fazia, era repreendido. Eu penso que a estrutura patriarcal fere até ele mesmo, cria traumas, movimentos de abusividade pra si e para os outros. Tudo começa no sistema patriarcal, que visa o poder, o domínio. Ainda não entendi o por quê, mas acho que no momento não me interesso.

Fujo das séries, das músicas, de tudo que me remete uma experiência amorosa. Fantasioso, choro, peço a Deus, não por nós, mas por mim e por você. Peço que me livre de todos esses sentimentos, e peço também que te livre também, que você possa passar por isso tudo.

Eu já não sei mais o que fazer, não quanto tempo vai durar, não sei que consequências isso vai ter. Mas muito do meu dia eu penso que vai ficar tudo bem, e sinto dentro de mim. Eu tenho medo da forma como vai ser o "estar bem", não sei se ainda vou te amar, ou se vou te amar pra sempre. Outro dia vi um filme de uma casal que teve um fim precoce, assim como o nosso, criou marcas, e na velhice puderam resolver essas questões e foram felizes finalmente. Mas conheço também uma história real sobre o assunto, por fim o casal encontrou aconchego na velhice e na parceria um do outro. Tenho medo de durar tanto tempo assim. Eu estou cheio de medos, mas não dá outro jeito. Fico feliz que esteja bem. Eu acho que quando me remeter a você eu sempre vou finalizar com um Eu te amo, João.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 14/05/2018
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