ENTRE CONTRATOS E MISSAIS
Era meio do expediente e os dois indecentes se encontravam. Ambos comprometidos, casados. Ela com a fé, ele com uma mulher. Ela o apanhava na porta do trabalho que ele largava sem maiores explicações. Levantava e ia, como se tragado fosse por um imã. As mãos dela suavam frio ao volante, e sob óculos escuros, disfarçava-se. Gostava de vê-lo aflito procurando o carro, e o caminhar resoluto quando o encontrava. Mal se falavam quando ele entrava. Apenas partiam sem rumo, à procura de uma rua deserta, afastada, onde pudessem se entregar um nos braços do outro. Num desejo incontido de viver. E se beijavam incessantemente, se devorando em vinte minutos, meia hora. Depois, voltavam às promessas banais. Pela família, pela ordem, pela fé, pela paz universal renunciavam àquele amor proibido. Deixava - o de volta ao trabalho e voltava à rotina das orações e missais, até a semana seguinte em que o desejo aflorasse ainda mais.
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