Recomeços...

Então eu voltei à velha praça, daquela cidade pequena e tão viva nas minhas lembranças. Eu voltei mesmo sabendo que já não te encontraria, mas eu tinha a ilusão de que se eu voltasse e passasse pelos mesmos lugares, revivendo nossa estória, talvez eu entendesse a dor que sinto, a saudade que não passa e a dúvida incessante que me consumiu todos esses anos: como teria sido se tivéssemos continuado?

Eu sei que bastava um telefonema e você iria ao meu encontro, mas não era assim que deveria ser, não era justo te ver sem antes entender o que se passava dentro de mim... do meu coração. Eu precisava reorganizar minha vida, criar novos caminhos e novas lembranças, mas isso só seria possível quando o passado já não me incomodasse mais, quando eu conseguisse olhar para traz e entender que o futuro talvez realmente, não fosse ao seu lado.

Eu cheguei devagar, sem avisar, estacionei e comecei a caminhar, recordando a cada passo um detalhe importante, eu ia montando o quebra-cabeças daquela noite que nos vimos pela última vez, quando nos despedimos e entre lágrimas, seguimos caminhos opostos. De tudo o que vi e revivi intimamente, aquele banco vazio envelhecido pelo tempo, com folhas caindo das árvores foi o que me atraiu mais forte, eu me vi sentada nele ao seu lado, entre beijos e carinhos em noites enluaradas.

Sim, foi nesse banco que sentamos pela primeira vez, quando nos vimos entre tantas outras pessoas, um contato visual instantâneo que nos aproximou pela eternidade. Entre soluços eu me sentei, agora sozinha nesse velho banco de praça e chorei, desejei voltar no tempo e dizer “sim”, me entregar ao seu amor e viver por você, vislumbrei uma estória feliz com você e nossos filhos alegres, brincando e correndo por ali.

Eu chorei, porque o tempo não nos pertence e cada minuto que passa, é um momento que não volta mais, nos fazendo muitas vezes, pará-lo e aproveitá-lo com toda a intensidade...ou esquecê-lo para sempre. Mas o para sempre, também um dia acaba e é nessa hora que precisamos voltar, nos reinventar para assim, continuar vivendo, seja de amor ou de saudade, mas acima de tudo, sem arrependimentos.

Não sei quanto tempo fiquei ali sentada, mas sei que foi o suficiente par anoitecer e aparecerem as estrelas e a lua, tão belas e brilhantes como sempre, me lembrando que a felicidade acontece de forma inesperada e que por imaturidade ou insegurança, muitas vezes a deixamos ir embora, sem chances de reencontrá-la novamente.

Não podia ficar ali a noite toda e então ao me levantar, percebi alguém vindo na minha direção, fiquei assustada pois havia anoitecido e eu temia por minha segurança, mas ao olhar com calma reconheci novamente entre tantas pessoas, aquele andar firme, a batida da bota no chão, o gingado e a face de peão bruto, porém tão sensível a ponto de deixar ir embora quem amava, apenas por saber que ela seria feliz. Com o coração disparado eu o vi se aproximar, com os olhos fixos nos meus e com graça, tirou o chapéu para me cumprimentar.

Entre a surpresa e a alegria, nos abraçamos sem dizer nada, apenas aproveitando a beleza desse momento. Não havia o que dizer, embora houvessem muitas coisas a serem ditas. Ele se afastou apenas o suficiente para poder me olhar nos olhos, tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, me acariciou a face, secou minhas lágrimas e me beijou...um beijo doce, terno, cheio de saudade, um beijo que dizia...”volta...eu ainda estou aqui!”, Como resistir a esse amor? Como enterrar o passado? Como vislumbrar um futuro se não for ao seu lado? Como ter dúvidas de que eu só posso ser feliz se for aqui, com ele?

E nos sentamos naquele velho banco, nos beijamos como adolescentes, rimos e choramos juntos, trocamos juras de amor eterno, pedimos perdão, nos prometemos um ao outro e novamente, eu vislumbrei o velho sonho de ser feliz aqui, nesta cidade pequena, nostálgica e sem nada do que sonhei para o futuro, porém, onde agora eu posso chamar de lar.

Se for pra ser feliz, que seja agora, pois o futuro ainda não aconteceu.