Antes que você me esqueça...
Mariah, se você está lendo esta carta é sinal de que não estou mais aqui, neste mundo de lágrimas e tristezas sem fim. Você se lembra do início de nosso namoro? Eu lembro. Nós éramos crianças com todo um futuro pela frente. Você tinha 7 anos e eu 9, quando nos vimos pela primeira vez. Seu pai e sua mãe foram morar no mesmo prédio que o meu, e foi brincando no playground que nos conhecemos. Você era linda! Loirinha, pele rosada e com um sorriso de fada que me cativou. Eu tinha namorada, mas a larguei para ficar com você. Nós brincávamos e ficávamos de mãos dadas trocando selinhos como os atores de novelas da televisão. Mas nosso romance só começou a ficar sério na adolescência. Você tinha 14 e eu 16 anos. Nossos pais eram a favor de nosso namoro e isto contribuiu para ele dar certo. Nesta época, trocávamos beijos ardentes de cinema e carícias proibidas e deliciosas, mas você ainda era virgem e eu respeitava o seu tempo. Nunca a forcei a nada que você não quisesse. E nunca o faria. Quando fiz 21 anos e você 19, ficamos noivos. Você era lindíssima! Seus olhos cor de céu e seu cabelo de milho liso me enfeitiçavam! Você parecia uma amazona, uma misse: uma princesa! Todos os homens a olhavam fazendo reverência e abrindo sorrisos instantâneos, hipnotizados por sua bela aparência.
Mas você não os queria. Você queria a mim. E eu tinha certeza disto. Marcamos a data de casamento dois anos depois. Mas tudo mudou de repente. Nós estávamos na Praça Mauá admirando os navios numa bela tarde de verão. Eu ia ser promovido a oficial da Marinha e você já era professora de um colégio no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Mas, então, aconteceu meu erro crasso. Fui puxar seu cabelo para brincar com você, mas a infantil brincadeira virou o motivo de nossa separação. Você ficou irada, alegou que eu puxei seu cabelo com força, e disse as seguintes palavras que eu nunca esquecerei: “eu nunca apanhei de meu pai, nem de homem nenhum na vida, e não vou casar com você para começar a apanhar!”. Em seguida, você tirou a aliança do dedo e a atirou o mais longe que pode no mar. Eu fiz tudo que podia para você me perdoar, mas você ficou irredutível. Não quis mais saber de mim, nem de nosso futuro. Os filhos que eu teria com você, não os terei mais. Esta carta é minha despedida da vida, porque sem você, ela não vale a pena ser vivida. Um beijo em seu coração, minha adorável princesa. Até algum dia, em outro plano espiritual.
Seu devotado e eterno amante,
Leonardo Marut