A Pulseira Escarlate
Aqui, deitado em meu leito, cavalheiros e entes queridos, não tenho o último pedido a fazer, mas sim, uma confissão de um eterno desejo que carrego dentro do meu peito por anos, ou melhor dizendo, dezenas de anos. Tudo é culpa desse intrujante Tempo que trama os nossos destinos com encontros e desencontros que pode até mesmo, nós dar e nós roubar um grande amor...
Dentro do meu ser,
Na minha alma,
Desejo nunca te perder;
A tua ausência castiga o meu desejo,
Sufocando a minha alma,
Causando-me eterno sofrimento;
Eis a causa da minha sofricidade:
Oh, tramas cruéis do destino,
É amar além da própria realidade;
Assim, viverei eternamente,
Abandonado e esquecido,
Vago perdido e solitário,
Através da realidade...
Do que foi e do que poderia ser: A felicidade.
Numa manhã de primavera, estava eu em um café, uma lanchonete com um estilo tipicamente europeu. De repente, a vi, parada na porta. Era de uma beleza radiante com um sorriso encantador, senti uma sensação de leveza, meu coração acelerou – fiquei petrificado. Talvez tenha sido um desses momentos do destino que só acontece uma vez em um milhão. Eu olhei para ela, ela me viu e depois desviou o olhar. Ela entrou e pediu um café.
Nesse momento, ela me olhou novamente e deu um sorriso. Fiquei hipnotizado, entorpecido por um instante, admirando tamanha beleza.
Cada gesto que ela fazia parecia se mover em câmera lenta! E antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, ela terminou seu lanche e foi embora. E eu não a vi novamente naquele dia. Mas eu não conseguia parar de pensar nela por horas depois disso. Dias se passaram. Porque ela não apareceu no café naquela semana, e muitos dias depois. Foi chocante. Comecei a pensar se ela seria de outro lugar ou que poderia ter acontecido.
Duas semanas inteiras depois, entrei no café e lá estava ela, radiante e encantadora e sua feição se assemelhava a deusa Afrodite em todo seu esplendor. Nossa, como eu senti a sua falta! Sentei-me a uma mesa próxima a dela. Só deus sabe como eu desejava falar com ela. E graças a Deus, o café estava vazio. Esperei até o café dela chegar. E então, andei até ela. Minha garganta estava irregular e apertada. Cada passo que eu dava só fazia a minha caminhada parecer mais longa. Mas eu segui em frente. Eu poderia mudar o sentido se ela me olhasse com desdém. O que ela estava pensando?
- Com licença senhorita, este bolo de chocolate é gotoso? Quero comer bolo, mas estou em dúvida”. Perguntei.
- O que? Sim, é. Ela exclamou antes de perceber que realmente respondeu, ou seja, não me deu muita atenção.
- Obrigado senhorita, vou pedir o mesmo. Retruquei.
- Do que você está falando? Ela perguntou.
- Posso me sentar com você? Perguntei sorridente.
- Não, você não pode. Ela respondeu séria.
- Oh ... Permita-me, só por um minuto, está bem?"
- Não! Ela insistiu.
Ela tirou a carteira e deu uma olhada no conteúdo. Eu não pude deixar de ficar fascinado pela a sua voz, macia e meiga, parecia uma voz de princesa de um conto de fadas. Nesse exato momento, perguntei se ela morava nas redondezas e ela me falou que é de outra cidade e tinha vindo para fazer compras para sua loja.
Assim, fui convencendo-a a falar comigo por alguns minutos. E foi aí que tudo começou. Nós começamos a conversar. Os minutos se estenderam em um ritmo muito rápido e o que me passava pela a cabeça era: Tenho que saber tudo sobre ela, e tudo que fazia era apenas admirá-la, contemplando cada gesto, sua meiguice e um grande senso de humor. Nós nos divertimos muito conversando, e logo ela disse que tinha que ir, já que estava ficando tarde para ela. Nós trocamos números e eu perguntei se poderíamos nos vermos novamente amanhã. Ela apenas sorriu e foi embora. Abandonado e solitário, suspirei!
Aquele momento foi mais sublime e feliz do que poderia imaginar, minutos antes de ter tomado aquela decisão. Enquanto eu olhava para ela indo embora, meus olhos estavam distraídos e não vi a pulseira de letrinhas que ela tinha esquecido na mesa. Eu a coloquei no meu bolso, segui para casa com uma chama de esperança de que aquela pulseira seria o nosso elo de ligação.
Fiquei acordado naquela noite e olhei para o seu número no meu celular. Eu queria ligar para ela, mas decidi-me escrever uma mensagem de texto. No minuto em que a mandei uma mensagem, recebi a sua ligação. Ela, também, estava pensando se deveria ou não me enviar uma mensagem. Seria coincidência ou tudo na vida tem uma ligação?
Nós conversamos e falamos até as primeiras horas da manhã, e eu só queria vê-la novamente naquele dia. Nós nos encontramos novamente no café e me senti o homem mais feliz do mundo. Ela estava sorrindo o tempo todo e nós estávamos flertando um com o outro. Eu a convidei para vermos um filme naquela noite.
De repente, ela parecia ofendida. Ela recusou. E então houve silêncio. Aquele silêncio calmo e mortal que faz você se sentir pior do que ser gritado. Perguntei a ela o que estava errado, mas ela não mencionou uma palavra.
- E o nosso encontro? perguntei em voz baixa.
- Foi interrompido. Pensei comigo mesmo.
Naquele momento, com seus olhos em lágrimas, ela levantou sua cabeça, suspirou profundamente e disse:
- Eu não posso! respondeu em voz baixa.
- Eu sinto muito! exclamou com tristeza.
E simplesmente, virou -se e foi embora.
E a única coisa que me restou foi uma pulseira de cor escarlate que continha uma descrição:"A vida é uma surpresa! Para minha esposa, Ângela!”.
Fim
Carlos Farias
Autor