Glitter

Lynn manobrou com cuidado a sua Harley-Davidson XLH azul-turquesa para uma vaga sombreada nos fundos da lanchonete de beira de estrada. Depois, prendeu no bolso da camisa de flanela xadrez os óculos escuros Ray-Ban que usava como única proteção de cabeça, apeou, encostou-se à uma parede e acendeu um cigarro, polegar esquerdo enfiado num bolso da calça jeans surrada, a bota de caubói do pé direito marcando o compasso imaginado de algum rock do T. Rex. Não precisou aguardar muito para que a porta da cozinha se abrisse e por ela saísse uma garota loura de seus 20 anos, vestido rosa de garçonete; ficou parada, olhando em sua direção com um misto de satisfação e surpresa.

- O que você fez com o seu cabelo? - Perguntou finalmente, fechando a porta atrás de si.

- Cortei - respondeu Lynn. - Acho que já devia ter feito isso há muito tempo.

- Você está parecendo... David Bowie. Se Bowie tivesse cabelo preto, claro.

Lynn ergueu as sobrancelhas.

- Isso é bom ou ruim?

Ela passou a língua pelos lábios.

- Isso é bom.

Lynn soltou uma longa baforada, antes de perguntar, em tom de desafio:

- Então, Joan? Não vai me beijar?

Ela olhou em torno, assustada.

- Aqui? No meio da rua?

Lynn deu uma risada musical.

- Além de nós, você está vendo mais alguém nas redondezas?

E fazendo um sinal com o indicador.

- Vem cá, minha Suzi Quatro...

Joan hesitou, e finalmente aproximou-se, olhos baixos, mãos atrás das costas. Lynn jogou o cigarro fora e pegou-a pelo braço, sem cerimônia. Ficaram frente a frente, encarando-se.

- Nunca beijei uma garota antes...

- Para tudo, há uma primeira vez - declarou Lynn, puxando-a para si e encerrando o diálogo.

- [17-04-2018]