Treze Botões

Na manhã seguinte, acordei num quarto barato de hotel no centro de Honolulu. Para alguém que normalmente só tomava duas cervejas por noite de licença, eu passara do limite na véspera; mas era minha despedida de "Jenny", a prostituta havaiana que eu visitava regularmente toda semana, desde que fora destacado para servir em Pearl Harbor. Jenny era uma garota tranquila, ar contemplativo e pouca conversa; eu me acostumara com ela de tal modo que, quando fui informado de que teria que partir para Midway, resolvi gastar parte do meu soldo com uma noite inteira ao lado da minha "esposa-substituta", em vez dos 15 minutos que normalmente ficávamos juntos no prostíbulo em Chinatown. Ela ficou tocada pela ideia, embora fôssemos ambos práticos demais para entender que nosso relacionamento não iria além disso.

- Então, você vai partir para a guerra, Treze Botões? - Perguntou-me ela, deitada de costas em sua cama no cubículo do bordel, enquanto eu me vestia após o sexo. "Treze Botões" era como ela me chamava, pelo número de botões nas calças de marinheiro que eu usava. Devia ser mais fácil do que ter que lembrar o nome de todos os rapazes que a visitavam habitualmente, imagino.

- Pensei que podíamos passar uma noite inteira juntos... - sugeri. - Eu te levo para jantar, assistimos um filme, e depois ficamos num hotel no centro. Fazemos uma despedida decente...

- Parece divertido... - ponderou olhando para o teto, cabeça apoiada num braço. - Mas vou ter que perguntar à madame se posso sair para um programa extra. Você sabe, só podemos trabalhar durante o dia: ordens da polícia.

- Então diga que vai visitar um parente. Você é das Ilhas, não é?

- Por mim, tudo bem... você é um cara legal, Treze Botões. Da primeira vez que te vi, achei que era português; nunca te falei isso... não gosto de portugueses.

- Português? - Sentado na cama, virei-me enquanto calçava os sapatos. Jenny estava tão adorável nua, que quase me deitei com ela novamente.

- O seu bronzeado... nem parece americano. Passa o dia inteiro na praia?

Tive que rir.

- Vou bastante à praia nos fins de semana... mas o que tem contra portugueses?

- São brutos - respondeu-me, num tom de quem não queria discutir o assunto.

Inclinei-me sobre ela e a beijei.

- Até sexta-feira à noite, então.

- Até.

Batidas na porta do cubículo nos lembraram de que havia uma fila de clientes esperando lá fora. Com Jenny, eu sempre fazia questão de ser o primeiro e ela retribuía a preferência mandando que eu passasse na frente, caso me visse na fila esperando por ela.

E ali estávamos nós, no meu último dia nas Ilhas antes da partida. Jenny havia se levantado antes, e, algo pouco habitual para mim, estava vestida - com um roupão de banho que eu comprara para ela como presente de despedida. Mais: estava passando meu uniforme, a ferro.

- O que está fazendo? - Indaguei, intrigado.

- Se eu sou a sua esposa-substituta, deixe-me pelo menos experimentar um pouco do que seria a nossa rotina de casados - foi a sua resposta tranquila.

Tomamos café juntos no hotel e depois eu a deixei no prostíbulo em Chinatown.

Nunca mais nos vimos.

- [14-04-2018]