Os botões da blusa, Que você usava
 E meio confusa, Desabotoava...
— Roberto Carlos —
 

 
Champanhes estouraram. Balões  subiram decorando o teto com diversas cores. “À saúde dos noivos!”  Tilintaram as taças em sintonia com um coro de vozes.  “Viva os noooivos...”
O pastor cumpriu o ritual do sacramento. E ate apressou-se para chegar ao grande momento esperado: “Eu os declaro, marido e mulher.”  O tempo cuidou para que a hora não avançasse muito. De modo que o casamento acontecesse no mesmo dia do noivado e merecesse registro no Guinness Book.
O jantar foi servido, sem que houvesse tempo para muita conversa.
— Os noivos estão cansados — disse alguém em tom zombeteiro.
— Cansados de quê?
— De esperar que os convivas se retirem.
Houve uma explosão de riso, seguido de pisadas de vultos que se retiravam.
Finalmente, a sós — pensaram os dois simultaneamente — O resto não conto, doutor...
A casa amanheceu uma bagunça.
— Larga essa vassoura, Morgana...Morga...Morguinha...
— Comerás o pão com o suor do teu próprio rosto.
— Posso te ajudar?
— Só temos uma vassoura. Recolha as bexigas e as garrafas. Ponha os cristais na pia...
— Deixa que eu arraste os móveis. São pesados demais.
— Deixa comigo. Lá em casa, sempre carreguei o piano.
Robert  perdeu a linha de raciocínio. Lembrara-se do piano de cauda da casa dos Castros. Mas com certeza, Morgana falava mesmo era do trabalho difícil, principalmente, depois da morte dos pais dela: o pai por assassinato; a mãe, por atropelamento.
— Vais passar a tua  lua-de-mel com uma vassoura na mão? Dê cá essa vassoura! Não me casei com uma bruxa.
— Bruxa?
— Posso não ter me casado com uma bruxa, mas me acho enfeitiçado.
Ela segurou o riso. Robert   era humorista, desde menino. Se tinha ele a intenção de dizer mais alguma coisa, não conseguiu. E Morgana  tremeu palpitante como Iracema nos braços de Martim.
— Ouço o bramido das ondas.
— É meu coração acelerando o tempo, para que chegue logo a hora de abraçar o teu.
— Acaso coração tem braço?
— Se tem braços, não sei. Mas, pernas tem.
— Para Bob! Não faça rir. Se eu perder o controle, acabo fazendo xixi nos lenções.
Robert riu contagiando a companheira, ela tanto riu, quanto chorou. E o riso trouxe uma torrente de água salgada a escorrer no rosto... (e nas pernas).
— Eu avisei. Agora, com licença. Preciso trocar os lenções de cama.
Morgana assumiu um semblante sério.
— Prometeste não narrar no livro nossa  lua-de-mel. Vai manter a palavra, não vai?
— Claro. Vou falar só da lua de xixi.
O quarto explodiu em gargalhada e os lenções tiveram, novamente, que serem  trocados.
 
***
Adalberto Lima, fragmento de "Estrela que o vento soprou..."