Na sala de espera, um homem contempla a beleza feminina por trás do manto: um rosto lindo, salpicado de sardas, e olhos esverdeados,  separados por delicada formação cartilaginosa, sobre a qual se podia dizer: ‘oh, que nariz bonito!’ Bonito também deveria ser aquele corpo coberto por longas vestes — uma freira — quanta beleza guardada nas dobras do manto!

— Morgana Montenapoleano! É você?

A freira sorriu docemente.

— Meu nome é Paola Rhoden — quero dizer: irmã Paola — e fechou o livro que lia. Ando pela vida garimpando estrelas, caçando luas, vivendo sóis que queimam estradas...

Sivory passou as vistas, ligeiramente na capa do livro.

— Essa foto...

Não concluiu a frase e Paola completou:

— Foi a última vez que estive com meu pai. Eu tinha dezessete anos. Pouco tempo depois, ele faleceu.
— Linda, muito linda!
— A música é linda. Aprendi a gostar de Pink Floyd com meu pai.
— Não falo da música — disse receoso de ser castigado pelo Céu. Ele sabia que as consagradas são servas e esposas de Deus.
 
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Adalberto Lima, trecho de "Estrela que o vento soprou..."