Sabe?
Sabe quando você está viajando de carro, o tempo nublado, e abre somente uma fresta da janela? O vento frio bate na sua testa e bagunça o seu cabelo. Mas você não o joga para trás, porque gosta do carinho que ele faz na sua pele, caminhando pelos seus poros guiado pela corrente de ar. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você está em seu quarto e subitamente é invadido por um vazio estranho e, muitas vezes, assustador? Você coloca um fone de ouvido — o maior que tem —, inicia aquela música alta que parece te preencher novamente e passa o resto da tarde encarando o teto. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você é criança, está aproveitando um dia de sol e, de repente, cai uma tempestade? Você fica triste por ser obrigado a voltar para dentro. Então, como não tem mais nada para fazer, sobe no sofá e assiste à água cair. Depois de dez minutos — o que parece ser algo em torno de quatro horas para uma criança — você percebe que também há beleza na chuva. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você está assistindo a um filme e uma cena — por algum motivo impossível de se encontrar — te surpreende? Você se arrepia, seu estômago parece desaparecer sem aviso, seus pulmões te obrigam a parar de respirar, seus olhos resolvem que aquilo é bonito demais para ser visto e colocam algumas lágrimas entre você e a tela. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você encontra um livro que parece ter sido escrito somente para agradar o seu gosto? Você passa uma semana — um mês para os mais lentos, ou uma hora para os mais entusiastas — lendo-o. Apega-se aos personagens, passa raiva, ri e se entristece. Descobre uma ou duas frases incríveis sobre algo que você nunca havia pensado e, então, uma hora a história chega ao fim. Você sente como se alguns de seus órgãos saíssem pela porta, rumo a uma longa viagem de férias; como se um amigo querido acabasse de sofrer um trágico acidente. E, como não há outra opção, você deita no chão e tenta reorganizar seus pensamentos agora distorcidos. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você chega em casa depois de passar meia hora fora? Seu cachorro te recebe como se você estivesse voltando de um intercâmbio de três anos. Consegue imaginar o que ele sente? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você se pega olhando para as nuvens? Elas formam coelhos, gatos, cachorros, castelos, dragões, batalhas épicas, uma folha de árvore, em constante mudança e você esquece, por um minuto, todos os problemas. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você pisa pela primeira vez na areia macia — ou dura — da praia e resolve entrar no oceano? Uma gota de água um tanto abusada entra na sua boca e você descobre que a água do mar é muito mais salgada do que imaginava. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você está do lado de fora da casa no calor? Uma brisa fresca te pega de surpresa e acaricia o seu rosto como se fosse um amante que não te vê há muito tempo. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você encontra um detalhe novo naquele filme que já assistiu umas trinta vezes? Você fica nostálgico, eufórico e seu cérebro dispara, arremessando em frente aos seus olhos milhões de teorias e suas terríveis consequências para a história e os personagens. Sabe? Então guarde este sentimento.
Sabe quando você está caminhando no parque? O cachorro de alguém se apaixona por você, sem nenhum motivo aparente, e você lhe afaga a cabeça só para vê-lo fechar os olhos de tanto deleite. Sabe? Então acredito que já saiba o que fazer com este sentimento.
Já descobriu o padrão por trás de todos esses sentimentos? Saberia nomear mais? Tenho certeza de que sim. Consegue dizer quantos sentimentos desse tipo existem? Eu não. Mas se você juntar todos eles — até mesmo aqueles que nem você nem eu conhecemos — e misturá-los, saberá mais ou menos como é parte do que sinto por você. Portanto, guarde este sentimento. Segure-o com todas as suas forças e eu garanto que ele será sempre seu.