Um pouco de sombra na água fria.

Às vezes eu me sinto tão feliz.

Às vezes eu me sinto tão triste.

Às vezes eu me sinto tão feliz.

Mas na maioria das vezes você só me deixa confuso, e isso me parece bom.

É estranho sentir o atrito da areia na pele. É algo bom, mas quando os grãos são grossos, como esses da Praia Vermelha, ao mesmo tempo a sensação gostosa de sentir os dedos dos pés afundarem na areia molhada passa a ser um pouco dolorosa.

Existem alguns momentos como esse, que você passa a perceber algumas coisas, como o cheiro da rolha de um Bajoz Toro Crianza se fundindo com a pele, e a umidade distinta que se cria dessa fusão confusa, de aromas de ameixa, groselha e cereja, com notas de especiarias e baunilha, e ainda assim se torna muito especial.

Nada parece tão importante quando a figura desse mar imenso, das rochas que são tão profundas, que na infância ouvi tantas vezes dizerem que se eu prendesse minha respiração e me agarrasse de forma profunda, poderia ouvir o som do Japão. E eu acreditei até me esquecer desse fato.

Um pouco da água chega próximo de mim, e o vento grita, sorri, socorre sonhos, traz verdades. O vento traz o que você quiser.

Alguém se aproxima, comenta como a noite está quente, apesar do vento está forte, mas que sorrateiramente traz o calor. Me oferece um cigarro. Digo que parei de fumar, que não acredito mais necessariamente nesse tipo de prazer. ele ri, diz que tudo é uma forma de prazer, mas que notoriamente as pessoas estão sujeitas a suprimir o prazer.

Dou de ombros.

ele continua, diz que historicamente, as pessoas foram sempre suprimidas da palavra prazer, e que grande influência disso seria a religião. Contesto.

Ele diz que as que tendenciam a dominação sim, pois são forte. Complementa em dissertar sobre a natureza do homem. Insisto na inconsistência do discurso, pois se trata de um discurso em abstrato tendo em vista as diversas correntes sobre o assunto. Ele ri. Diz que sou difícil. Ele pergunta meu nome, digo. Ele me diz o dele. Me pergunta se costumo beber esse tipo de vinho, e que causa estranheza nele, pois apesar da composição ele é bem seco. Digo que tem razão, mas que prefiro o vinho seco por me forçar a beber um pouco de água. Digo que dessa forma evito ter enxaquecas no dia seguinte. Ele diz nunca ter tido problemas com ressaca, e que o bom delas é ele poder aproveitar o sol na manhã seguinte para curá-las. Digo que prefiro não ter, apesar de concordar com ele que é a melhor forma de curá-la.

Outro rapaz se aproxima. Aparentemente está tendo uma confraternização dos estudantes da UNIRIO, não pergunto de qual curso se trata ou se tratam. O outro rapaz se identifica, parece um pouco desconfortável, mas me convida para me juntar a eles. Digo que vou ficar mais um tempo naquele local. Agradeço. Eles se levantam e dizem que vão me aguardar.

De longe a lua míngua, ela diz que nada tem a declarar. E eu ouço as ondas baterem nas pedras. De longe consigo ver pessoas mergulharem, vejo alguns barcos se moverem solitariamente.

Me levanto, passo pelos rapazes quase que despercebidamente, mas não por muito tempo. O primeiro vem atrás de mim, diz que não é justo eu beber Bajoz D.O. Toro Crianza sozinho. Tento dar uma desculpa. Ele não se convence. Em seguida o outro vem e insiste que eu passe um tempo com eles. Digo que tudo bem. Me reúno.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 13/03/2018
Reeditado em 13/03/2018
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