A um passo do torpor
Não é a primeira vez que paro como um tolo no corredor, de frente a minha porta entreaberta, a pensar se devo ou não entrar no que foi criado para representar a tranquilidade. Mas não, eu tinha que fazer tudo errado; eu tinha que vacilar; eu tinha que perder. O valor de algo só é dado quando não se pode mais reaver, quando se perde aquilo que não dávamos conta de que um dia iríamos perder.
Não me incomodo em acender a luz. A escuridão não assusta. Não são os fantasmas que me assustam, os mortos não me assustam. Quero apenas relaxar a mente, fazê-la entrar num torpor único, fechar os malditos olhos e só acordar amanhã depois que o sol romper a madrugada e penetrar no quarto como um invasor sedento, devorando minha solidão.