CASAMENTO SEM AMOR – Epílogo
Nair Lúcia de Britto

 
Para sua grande surpresa, Glória teve gêmeas: duas lindas meninas, que eram sua companhia constante, em casa, na casa dos avós ou nas simples caminhadas pertinho do mar...

Mas os filhos não salvam um casamento. E o casamento de Glória estava no fim. Sem a vigilância da mãe autoritária,  que mantinha o filho bem-comportado, Hugo “criou asas”, digamos assim.
Ele não tardou a mostrar uma face cruel, que Glória não conhecia. E aquela descoberta tornou-a ainda mais infeliz!

No meio de uma tarde de verão, Glória afinal  se decidiu. Ser honesta consigo mesma e fazer o que há muito tempo seu coração exigia. Desfazer um casamento que nunca deveria ter acontecido.

E assim fez, deixou Hugo, a casa e tudo que dentro dela havia. Consigo, levou apenas suas duas filhas.

Ela sabia que não seria nada fácil recomeçar sua vida do nada, pois nada possuía. Sabia que encontraria muitas portas fechadas, caras amarradas, julgamentos injustos. Mas estava disposta e enfrentar tudo.

“Se eu tiver que chorar, ninguém vai chorar por mim...”, bem dizia aquele samba-canção.
 
Não pretendia procurar Tom para pedir-lhe perdão, como gostaria. Mesmo porque ele já estava casado e morando em uma cidade bem distante dali. De qualquer forma, Glória sabia que ele não a perdoaria.

Caminhava  sem lenço e sem documento; rumo ao seu novo destino. Com lágrimas ardidas em seus olhos e com os pensamentos a mil....

Seu coração estava despedaçado; mas Deus lhe daria luz e coragem para seguir sua nova vida. Planejava voltar aos estudos, se formar e trabalhar para criar suas filhas.

O que lhe reservava o futuro, Glória não sabia. Só sabia que não regrediria. Que ouviria a própria razão e o seu coração. E que lutaria contra tudo e contra todos para ter uma vida digna.

Algumas pessoas se casam e são felizes para sempre! Outras não tinham a mesma sorte; e ainda outras não haviam nascido para o casamento.

Glória não poderia prever  se o seu destino era ficar sozinha. Mas, se tivesse alguém a seu lado, seria alguém que o seu coração escolhesse!

Alguém que soubesse de fato o que quer; alguém com quem pudesse estar ao lado dele, aos olhos de Deus e aos olhos do mundo...

Alguém que gostasse dela como ela era e, sobretudo, que caminhasse na sua direção de livre e espontânea vontade!

Deus não quer que seus filhos sejam infelizes! O que Ele quer é que as pessoas usem de sabedoria e dignidade para alcançar a sonhada felicidade!   
 
 
 
Pintura: Renoir
Nair Lúcia de Britto
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 02/03/2018
Reeditado em 02/03/2018
Código do texto: T6269180
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