ROMANCE; A VITRINE (Os últimos quilômetros de uma Vida. )
Capitulo XI
Os últimos quilômetros de uma Vida.
Porque corremos tanto? Qual o motivo de nos tornarmos seres tão imparciais à nós mesmos? Eu passara os últimos quilômetros da minha vida correndo atrás de um motivo para continuar correndo, lembro-me de ter estancado os meus intentos em alguma daquelas curvas de duvidas, do porque todos respiram ares tão singulares, e você parece respirar por aparelhos. Eu andava perdido em um passado sombrio, tentando escrever um futuro com as mãos empatadas segurando o passado. A vida nunca foi fácil, mas quem foi que disse que seria? Ninguém faz ideia de quantas vezes eu desejei sair da estrada, cair em algum abismo existencial e dizer adeus! Mas acontece que nada disso fazia sentido no meu novo contexto. Eu tinha tudo o que sempre quis, eu estava descobrindo o amor nos braços e nos lábios da Karoline, eu encontrara uma família da qual passei milhões de quilômetros da minha vida procurando, e embora eu tenha sido abusivamente imprudente com minha vida, eu jamais pensei em perde-la, nem por um segundo. Sobre o estado de coma, do qual muitos tem curiosidade de saber, muitas pessoas falam a respeito de um paraíso, relatam que ao final do túnel existia um gigantesco paraíso repleto de belezas naturais. A paisagem seria tão bela que seria difícil encontrar palavras para descrever toda a visão que tiveram. Cachoeiras exuberantes, intensas árvores frutíferas, animais impressionantes e desconhecidos e cores inéditas são alguns exemplos do que geralmente é relatado, mas cientificamente falando, basicamente o coma é um estado de inconsciência no qual as pessoas ficam incapacitadas de responder a estímulos externos, mesmo quando esses estímulos são dolorosos. Esse estado é provocado por lesões cerebrais que ocorrem devido a problemas como traumas, infecções, hemorragias, falta de oxigenação e acúmulo de toxinas, por exemplo, e eles podem ser temporários e reversíveis ou permanentes.
Seja qual for a definição para este fato, o certo é que eu estava entre a vida e a morte em uma mesa de cirurgia, não posso afirmar que tenha sido fruto da minha imaginação, mas eu observava cada movimento dos médicos, e ver meu corpo ali imóvel, trouxe-me profunda angustia. Eu ouvia cada palavra, o desespero das enfermeiras, choros por outras vidas próximas ao meu leito, que não resistiram as cirurgias e entregaram-se ao outro lado da existência. Eu não estava disposto a morrer naquele dia, eu queria um ultimo abraço da Melissa! Alias eu juro que por frações de segundos ouvi ela me chamar, pediu para eu voltar para ela. Ela estendia as mãos, mas um vento forte impedia-me de chegar até ela. Olhando dali, um pouco acima dos médicos, eu chorei! Eu torci para que o Carf ali de baixo, não desistisse. Eu tive contato com os aparelhos que me mantinham respirando, as enfermeiras agitadas por conta de um tal desfibrilador, já eram somadas 3 paradas cardíacas em menos de uma hora, ali na mesa de cirurgia. Havia um cansaço visível no rosto de cada pessoa naquela sala de hospital. Eu ouvi um som estranho, era como se uma das maquinas apresentasse algum defeito, observei em uma tela que ficava um pouco acima da mesa de cirurgia. Parecia uma tv de 14 polegadas, os médicos chamavam de monitor cardíaco. Era um tipo de corrida, ou sei lá. Alguém ficava subindo e descendo montanhas naquele monitor, mas enfim pegou uma reta e o barulho começou, todos na sala ficaram estagnados, os médicos baixaram a cabeça e ameaçam sair da sala, acho que eles não gostavam de linhas retas naquele monitor, eles ficavam felizes observando alguém pegando tantas curvas naquele monitor. Tanto que após 35 segundos de retas, umas subidas e descidas tímidas apareceram no monitor novamente, e eles vibravam como se a seleção Brasileira tivesse feito um gol em final de Copa do Mundo. Acredito que aquilo tudo tivesse a ver com minhas reações. Distante de todos, e provavelmente sem o conhecimento de ninguém, eu lutava pela vida naquele hospital frio e truculento.
Após cinco horas de cirurgia, enfim os médicos conseguiram estancar a hemorragia da minha cabeça e da minha caixa torácica. Foram colocados vários tubos em minha boca e nariz, eu me senti o Sr. CAESA, naquele momento. Embora tudo tivesse dado certo na cirurgia, meu estado era tido como grave, eu estava em coma e os médicos não sabiam o quanto a hemorragia na minha cabeça havia afetado o sistema nervoso do meu corpo. Dizem que noticias ruins correm rápido, entendi o porque naquele dia. Havia uma taxista de Paragominas no hospital naquela noite, ele estava visitando a irmã, internada no hospital a uns 25 dias. Mesmo com a cabeça enfaixada ele reconheceu-me, éramos do mesmo ponto, que fica em frente ao Hospital São Paulo, no bairro Promissão II em Paragominas. Rapidamente ligou para os amigos em Paragominas, avisando o que tinha acontecido, eu não sei como a noticia chegaria ate as minhas princesinhas, e à minha família, alias o destino mais uma vez mostrou as caras. O Sr. Carlos tinha ido ao hospital em Belém para verificar a liberação de um corpo, era um rapaz de aproximadamente 19 anos, que houvera sido assassinado em Belém, os pais eram pobres e solicitaram ajuda com a remoção do corpo, junto a SEMAS. O Sr. Carlos, tomou conhecimento e pelas características do carro, logo deduziu que poderia ser eu. Confirmado sua preocupação quanto a ser eu a pessoa ali naquela UTI, ele ligou para informar a Sra. Leia o que ocorrera, eu ouvi claramente quando ele pediu a Leia, que não falasse para as meninas sobre o acidente. De boca em boca, a noticia foi se espalhando por toda Paragominas, os taxistas são ótimos na divulgação de eventos como este. Já eram 23h21min, quando a noticia chegou aos ouvidos da Karoline. Eu não imaginara nem na melhor das minhas hipóteses, que a Karoline moveria céu e terra para estar ali comigo. Tivemos algo intenso, mas não éramos nada um para o outro, bom pelo menos não oficialmente. Ela chegara ate o hospital na quarta-feira por volta das 9h, desde então ficou por longos momentos ali me observando, ela estava triste, mas ao mesmo tempo desapontada com a situação, provavelmente se cobrando por não ter insistido para que eu ficasse e dormisse com ela na segunda-feira. Ela segurou minha mão, ela chorava baixinho. E conversou comigo como se soubesse que eu poderia ouvi-la.
- Porque você fez isso comigo? Porque me conquistou e fugiu de mim? Você não tem o direito de me abandonar agora Sr. Carf! Você prometeu ser a minha bolsa, lembra? Você é tão teimoso, e eu tão fácil de ser desdobrada. Eu deveria ter te amarrado ao lado da minha cama, não te deixado sair. Sabe de uma coisa? Eu não tive tempo de te falar isso, mas eu sempre lembrei de você o tempo todo. Todo bobão me olhando naquela loja lá do centro de Paragominas. Foi a primeira vez que alguém me olhou daquela forma, tão doce e inocente. Você é um homem incrível Sr. Carf! Por isso eu digo que você não pode ir embora assim! Agora para de fingir que esta dormindo e volta pra mim seu bobo... (Choro)
Karoline reclinou seu rosto sobre minha mão e chorou por longos minutos. Eu podia sentir o respingo de suas lagrimas em minha pele. Eu queria voltar, eu queria dizer o quanto ela era importante, mas eu não sabia como voltar. Eu sai da minha estrada, e não sabia mesmo o caminho de volta. Karoline, conseguiu ficar ali por muito tempo graças a amizade que tinha com uma das enfermeiras responsáveis. O momento mais incrível daquele episodio aconteceu quando a enfermeira chamada Renata entrou na UTI.
- (Renata) Karoline! Precisarei pedir que você aguarde lá fora amiga, iremos fazer uma medicação no paciente e o medico esta vindo ai.
- (Karoline) Claro Renata! (enxugando as lagrimas dos olhos)
- (Renata) Ele é parente seu, Karoline?
- (Karoline) Não! Ele mais do que parente, é meu namorado.
Aquelas palavras fizeram o meu coração acelerar, por alguns segundos eu voltei a sentir o calor do meu corpo, e tudo o que eu mais queria era levantar daquela maldita cama, e beijar e abraçar a Karoline. Agora era oficial, eu ouvira dos próprios lábios da Karoline, que éramos NAMORADOS! Ela saiu da sala, e ficou na recepção do hospital. Ligou para o pai, e chorando disse que estava angustiada, eu não ouvi o que o pai dela dissera, mas só fez com que ela desabasse em choro. Eu queria tanto ir lá fora, dizer que ela era o meu milagre de AMOR. Para ser franco, as vezes eu tirava onda de escritor, e cheguei a escrever muitos versos para a Karoline, ate uma carta eu escrevi, tudo estava no porta-luvas do carro, talvez alguém encontre e tenha a brilhante ideia de entregar a ela, se eu não sair dessa, ao menos ela saberá o quanto eu a estimava. Agora enquanto estou a vagar por este hospital, longe dela e do meu próprio corpo, lembro-me com riqueza de detalhes, cada palavra pronunciada em minha agenda.
(A carta)
Permito que o meu coração se abra mais uma vez, em busca das expressões que tantas vezes percorrem meus pensamentos, e que parecem emanar através dos meus poros, buscando tornar-se tinta, e na ponta dos meus dedos descrever nestas poucas linhas essa saudade constante que me assola.
Por muito tempo andei perdido em minhas frustrações, aprisionado em desilusões, até você surgir, com ímpeto perfil de Anjo! Teu sorriso tão semelhante aos raios do sol, os mesmos que dia após dia visitam meu pequeno jardim de esperanças... Todas as trevas de solidão, dissipadas por teu olhar, senti meu corpo trêmulo, e mesmo com a temperatura a mil em minh'alma, percebi o suor frio, percorrer meu corpo.
Fotografei cada gesto teu para me assegurar de que sua imagem seria facilmente percebida e identificada em outra ocasião. Fui surpreendido por um olhar sereno, que de vez paralisou-me dentro do meu próprio corpo, sua presença transformou um ambiente inteiro, como a primavera pintando de flores os campos... Fiquei estagnado, a represa de emoções em mim estava quase cedendo a forte pressão do pulsar do meu coração. Sensações avassaladoras tomaram-me.
Me desprendi de todas as minhas tradições, e desejei naquele momento tatuar você em minha pele, esculpir tua formosura nas muralhas do meu coração. Sinto-me eufórico, essas palavras parecem saltar pelas folhas deste papel, já nem sei se escrevo apenas letras, ou se desenho em letras meu coração. Creio que eu já te amava, mesmo antes de conhecê-la, os teus olhos me foram faróis quando andei errante rumo as rochas da desilusão. Em meus sonhos mais abstratos já havia muitos traços perceptíveis do teu rosto, e agora que te vejo invadir minha realidade, acredito piamente que tudo é possível.
É preciso coragem para falar de sentimentos dessa forma, e mesmo correndo o risco de ser o mais antiquado ser humano da terra, dirijo-me a ti, por meio desta emissiva, pois em meio a tudo o que tenho para te falar, é no conforto da caneta e papel, que não sinto o nervosismo me roubar o diálogo. Obrigado por todas as emoções que você desperta em mim, certamente se não fosse por elas, eu não seria o mesmo romântico de outrora. Do meu ponto para você!!
Que o seu doce perfume, exale sua fragrância por todo o meu corpo, revelando em mim a existência de um homem que ama, e é amado... (Carf)
Quisera eu pudesse escrever no vazio desta parede para onde ela olha agora perdida em seu pensamentos, cada uma dessas palavras. Mesmo ali naquela sala agora, imóvel, ela saberia que eu a protejo e a quero muito...
#Continua
(Carf)