CASAMENTO SEM AMOR – IV
Nair Lúcia de Britto
“E agora?” Glória se perguntava. Lembrou-se da poesia de Carlos Drummond de Andrade, tão bem articulada pela sua professora, predileta, de Literatura.
“E agora, José?
A festa acabou
O povo sumiu
A noite esfriou
E agora, José?
E agora, você?”
Não guardava rancor pela hostilidade constante da mãe de Hugo para com ela. Reconhecia naquela senhora, sempre tão ríspida, suas qualidades. Forte, determinada, segura de si e principalmente muito trabalhadeira.
Viúva, criara três filhos sozinha, trabalhando duro sem dar trégua para o cansaço. Talvez fosse a vida difícil que a deixara assim tão ranzinza.
Tudo que ela fazia era sempre muito bem feito.
Fazia a comida, as compras e deixava a casa um brinco! Glória gostava da sua comida e do jeito prático como sabia dobrar as meias. Tudo ela ia ensinando para Glória, que não sabia nada, mas se esforçava por aprender.
Hugo era o filho caçula que cuidava muito bem da sua mãe; que, por sua vez, tabém cuidava dele, ou ralhava, como se Hugo fosse ainda um menino. Estavam vivendo muito bem os dois, até que Glória aparecera para, quem sabe, estragar tudo...
Glória não culpava a sogra pelo desconfrto que estava sentindo. Culpava Hugo; que lhe mentira, dizendo que teriam uma casa só para eles; que não se preocupasse. E, pior, insistindo numa união que ela não queria.
Gloria gostava de Hugo porque ele era bom, atencioso, gentil. Atendia pacientemente todas as exigências que o pai de Glória impunha: muito respeito para com a filha. Qualquer outro rapaz com certeza não suportaria.
Glória era grata a Hugo, mas só agora entendia que amizade e gratidão não eram sentimentos suficientes para justificar um casamento. Por isso culpava-se também por se deixar enredar pela chantagem emocional de Hugo; sempre que ela, instintivamente, se esquivava daquele compromisso.
Na verdade, os próprios conceitos ou preconceitos errôneos da sociedade impeliam as moças para um casamento precoce, fora de hora.
“Mulher tem que casar!”
“E casar cedo! Senão, fica pra titia ou vira uma solteirona recalcada. Também tinha que saber cozinhar, lavar e passar para bem servir o marido. Estudar muito era bobagem; não precisava!”
O que é que os outros vão dizer?
Droga! Nunca mais Glória se importaria com isso!
"O Grito", do pintor norueguês Edvard Munch
Nair Lúcia de Britto
“E agora?” Glória se perguntava. Lembrou-se da poesia de Carlos Drummond de Andrade, tão bem articulada pela sua professora, predileta, de Literatura.
“E agora, José?
A festa acabou
O povo sumiu
A noite esfriou
E agora, José?
E agora, você?”
Não guardava rancor pela hostilidade constante da mãe de Hugo para com ela. Reconhecia naquela senhora, sempre tão ríspida, suas qualidades. Forte, determinada, segura de si e principalmente muito trabalhadeira.
Viúva, criara três filhos sozinha, trabalhando duro sem dar trégua para o cansaço. Talvez fosse a vida difícil que a deixara assim tão ranzinza.
Tudo que ela fazia era sempre muito bem feito.
Fazia a comida, as compras e deixava a casa um brinco! Glória gostava da sua comida e do jeito prático como sabia dobrar as meias. Tudo ela ia ensinando para Glória, que não sabia nada, mas se esforçava por aprender.
Hugo era o filho caçula que cuidava muito bem da sua mãe; que, por sua vez, tabém cuidava dele, ou ralhava, como se Hugo fosse ainda um menino. Estavam vivendo muito bem os dois, até que Glória aparecera para, quem sabe, estragar tudo...
Glória não culpava a sogra pelo desconfrto que estava sentindo. Culpava Hugo; que lhe mentira, dizendo que teriam uma casa só para eles; que não se preocupasse. E, pior, insistindo numa união que ela não queria.
Gloria gostava de Hugo porque ele era bom, atencioso, gentil. Atendia pacientemente todas as exigências que o pai de Glória impunha: muito respeito para com a filha. Qualquer outro rapaz com certeza não suportaria.
Glória era grata a Hugo, mas só agora entendia que amizade e gratidão não eram sentimentos suficientes para justificar um casamento. Por isso culpava-se também por se deixar enredar pela chantagem emocional de Hugo; sempre que ela, instintivamente, se esquivava daquele compromisso.
Na verdade, os próprios conceitos ou preconceitos errôneos da sociedade impeliam as moças para um casamento precoce, fora de hora.
“Mulher tem que casar!”
“E casar cedo! Senão, fica pra titia ou vira uma solteirona recalcada. Também tinha que saber cozinhar, lavar e passar para bem servir o marido. Estudar muito era bobagem; não precisava!”
O que é que os outros vão dizer?
Droga! Nunca mais Glória se importaria com isso!
"O Grito", do pintor norueguês Edvard Munch