ROMANCE; A VITRINE (Eu deveria ter escutado)

Capitulo X

EU DEVERIA TER ESCUTADO.

Minha noite com a Karoline fora maravilhosa, houve uma ligação entre nossas almas, recordo-me de ter passado horas ali, olhando para ela e falando coisas bobas, dessas que falamos quando estamos apaixonados. Naquela noite não fomos à AGROPEC, e nem a um outro lugar de Paragominas, estávamos exatamente onde queríamos estar, no olhar e nos braços um do outro. Eu não teria como esquecer aquela noite, a lua parecia a poucos metros do chão, ela fez questão talvez de vir nos abençoar, ou simplesmente encantada com o nosso romance, desceu para ver mais de perto Karoline e eu. Nos perdemos nas horas, havia um sensação incrivelmente nostálgica entre nós. A Karoline, não era exatamente uma mulher romântica, mas adorava o romantismo no seu par, e por sorte, eu era o romantismo em pessoa, tentando ser dosado é claro. Não se pode ser doce demais com uma mulher, elas amam romantismo, adoram ser apreciadas e cortejadas a vista de outras pessoas, isso faz com que elas sintam-se singulares em meio aos comuns. Mas na intimidade, atrever-se a ser os 50 tons de cinza, pode elevar os intentos delas, e fazer com que aos olhos delas, sejamos o cara mais perfeito, embora assim tão cheios de defeitos.

A mulher é um ser angelical, e quando é bem amada (no sentido duplo da palavra), ela pode ter milhões de lugares para ir, ainda sim desejará estar ali, dentro do nosso abraço, e era exatamente dentro do meu abraço, que a Karoline estava, super a vontade e segura. Para mim não havia ninguém que pudesse me arrancar dela. Ela chegou a dormir em meu colo, e eu velava por seu sono olhando apaixonadamente para ela. Seus olhos, seu rosto era ainda mais belo enquanto descansava. Os instantes seguintes foram de muita reflexão, eu a admirava e em pensamentos indagava-me: Como é possível? Aquela mulher linda que se quer notou-me na loja Stilus há dois meses, agora esta aqui, em meus braços. Eu acariciava os cabelos dela, olhava atento aos traços perfeitos do seu rosto. Foi uma noite magica!

Por volta de umas 2h da madrugada ela despertou, segurou em meu pescoço, encostou o rosto em meu peito, e olhou-me de uma forma meiga e ao mesmo tempo insinuante. Beijou-me novamente, muitas e muitas vezes. Nossos lábios tinham um encaixe perfeito, um para o outro feito.

- (Karoline) Se eu te pedir para ficar aqui e dormir comigo você fica?

- Adoraria, mas e o seu pai o que pensará disso tudo?

- (Karoline) Ora! Meu pai sabe que eu gosto de você, eu falei sobre você com ele a alguns dias, além do mais, eu tenho 22 anos e ele não me trata como um bebê.

- Então esta bem! Mas posso te pedir que deixemos para amanhã? Gostaria de realizar algumas tarefas hoje, e tenho muitos clientes que estão lá no Parque hoje. Não posso falhar com eles.

- (Karoline) Você anda trabalhando demais, pensa que eu não sei que você nem dormiu ainda? Você faz ideia do quanto isso é prejudicial para a sua saúde?

- Não se preocupe, eu ficarei bem. Arrumarei tempo para descansar.

- (Karoline) Acho bom mesmo! Eu estou super cansada, me deixa em casa?

- Ah não! Mas já? Esta cedo, além do mais você esta quase dentro da sua casa, fica mais um pouco vai?

- (Karoline) Não posso! Você é muito perigoso. Fica me seduzindo!

- Haha! Ate parece que você não me seduziu também. Eu super comportado, menino de família, um santo!

- (Karoline) Nossa! Que santinho! Vou te canonizar amanhã (risos) Vamos, serio!

- Esta bem, vamos!

Após deixa-la em sua casa, fui para o parque de exposições. Antes porem ainda ouvi um daqueles sermões da Karoline. Ela se preocupava e não fazia questão de esconder isso de mim. Quase me implorou para eu ir pra casa descansar, ou dormir com ela. Um dos meus maiores defeitos sempre foi a minha teimosia, e naquele dia eu não fiz nenhuma das coisas que a Karoline me pedira. Eu já havia vencido três noites de sono, e por influencia de colegas taxistas, acabei cedendo aos benditos energéticos. Comecei com o Rebite, tomei 3 de uma única vez, eu fiquei tão ligadão que se tocassem em mim, com certeza levariam um descarga elétrica. As 9h de segunda-feira, a Sra. Leia ligou para o meu celular. Meus serviços foram solicitados, a todo vapor, "Dama de Vermelho" e eu partimos para o bairro Uraim, rumo a casa das três princesinhas mais lindas do universo. A missão dessa vez, era leva-las para casa da tia, que ficava no bairro Cambuatã, Lia era uma das tias que morava mais próximo das meninas, e foi exatamente nesse dia que conheci mais um integrante da família Galvão. Quando estávamos nos aproximando do destino, a Sra. Leia percebeu algo estranho em mim, e perguntou se eu estava bem. Eu já tinha aprendido a lição de que as mães sabem de tudo, e se ela perguntou, era logico que já sabia, mas queria avaliar se eu mentiria. Contei a ela que eu já estava a 3 dias sem dormir, e que estava sobre efeito de drogas estimulantes. Imediatamente começou um outro sermão, e dessa vez, eram 4 contra 1. Foram aproximadamente 15 minutos de muitos "RALHOS". Elas me fizeram prometer que ao sair dali, eu iria para casa. Por livre e espontânea pressão, eu prometi. E dizem que: "se conselho fosse bom, não se dava! se venderia"

Ao deixa-las na casa da Lia, eu realmente estava indo em direção a minha casa no bairro Promissão II, e para chegar mais rápido, decidi ir pela JK, a rodovia que passa em frente ao Parque de Exposição, um senhor elegante, vestindo um terno na cor cinza me parou bem em frente ao Parque. Era um fazendeiro Chamado Paulo Roberto, muito conhecido na cidade principalmente pela fama de ser muito arrogante, embora eu descordasse de todos, a partir daquela corrida.

- (Paulo) Boa tarde meu Jovem!

- Boa tarde Sr! Como posso ajuda-lo?

- (Paulo) Meu jovem, minha S10 deu problema e esta na oficina, devido a uma emergência familiar, precisarei chegar em Belém às 18h, você consegue tirar 3 horas daqui pra lá?

- Claro Sr! Aqui eu sou conhecido como Ligeirinho!

- (Paulo) Ótimo! Passe apenas na minha casa para apanhar umas coisas, é logo depois do parque a direita.

Fomos a casa do Sr. Paulo, apanhamos algumas coisas, inclusive o "mala" do filho dele, um jovem cheio de vaidades e soberba. Olhava sempre de cima para baixo, foi a primeira pessoa a entrar no meu carro e reclamar dos bancos, que não eram confortáveis como os bancos da sua Hilux. Eu me contive para não responder para aquela tábua de passar roupa. Provavelmente o desconforto era por causa da massa de glúteos que lhe faltara. Ele sentava-se sobre os próprios ossos.

Partimos rumo à Belém, eram mais 348 quilômetros de experiencia para o meu histórico de motorista. o Sr. Paulo era muito extrovertido, passou quase toda a viagem conversando e isso foi ótimo, por que em muitos trechos da estradas eu fui traído por meus olhos. A viagem teria sido muito tranquila, isso se o He-Man, não tivesse surgido para vencer o "ESQUELETO" (Filho do Sr. Paulo), que queria a todo custo, destruir o meu castelo de greyscow. Chegando ao destino, uma mansão no centro de Belém, deixei os passageiros e recebi a bagatela de 500 reais pelos serviços prestados. O sr. Paulo, agradeceu e nos despedimos. Eu poderia ser novo na profissão de taxista, mas de bobo eu não tinha nada, corri para rodoviária de Belém e comecei a prospectar possíveis passageiros, para a viagem. Assim eu salvaria todo o valor da corrida ate Belém, e as demais eu colocaria gasolina.

Quatro pessoas aceitaram os valores combinados, nem uma delas para Paragominas, porém o valor das corridas já garantia além da gasolina, um lucro de 200 reais. Partimos rumo a Mãe do rio, onde 3 dos passageiros ficariam. Muita conversa, descontração, mas naquelas alturas do campeonato, minha única missão, era manter-me acordado.

A estrada em muitos momentos parecia fugir dos meus olhos. Eu estava quase vencido, mas cheguei a Mãe do Rio, deixei os passageiros e um ultimo passageiro seguia comigo, o seu destino era Ipixuna, ultima cidade antes de chegar em Paragominas. Ainda faltavam uns 115 quilômetros ate chegar em Paragominas. E confesso que foi como participar de uma guerra, sem ter uma única arma nas mãos. Para piorar ainda mais o grau de dificuldade, meu companheiro de viagem dormiu. Dali para frente era só eu, a estrada e os meus olhos. Eu estava no vermelho, os energéticos pararam de fazer efeito a umas 5 horas.

Muitos de nós já devem ter ouvido aquela teoria doutrinaria de que pagamos pelos pecados que cometemos. Eu fiquei pensando sobre a noite anterior, quando eu invadi o corpo da Karoline, quando me entreguei a ela e, ela a mim. Mas espera um pouco! Que sentido haveria em estar programado um "JUIZO FINAL", se aqui na terra já "pagamos" por nossos pecados? Na verdade, as maiores fatalidades ocorrem por nossa displicência, escolhas ruins, ambições... E eu estaria próximo a viver o meu calvário, alguns quilômetros à frente.

O sono é mais traiçoeiro do que banco quando quer empurrar empréstimo para os seus clientes, eu aumentei a velocidade do carro imaginando que assim, acionando adrenalina no meu cérebro, eu me manteria acordado, esse foi meu segundo erro naquele dia. Eu deveria ter ido para casa dormir, eu poderia ter parado o carro na estrada, eu poderia ter feito muitas coisas, porem eu decidi seguir em frente. Num dos trechos mais perigosos da BR 316, exatamente o perímetro que liga Mãe do Rio, Ipixuna e Paragominas, curvas acentuadas e barrancos intermináveis, são parte da estrada. Eu me lembro de olhar a velocidade do carro pela ultima vez, algo em torno de 120 km/h, a minha frente eu já não sabia definir que tipos de paisagens eu via, como um aparelho que tem sua fonte arrancada da tomada, eu apaguei, fui vencido pelo sono, nocauteado a 120 km/h. Eu não sentia nada além de um imenso vazio, como se toda a minha vida estivesse em branco. Eu sucumbi de tal forma, que nem mesmo as fortes pancadas na lataria do carro, que naquele momento descia capotando morro a baixo, me despertaram. Eu recordo de ouvir alguns gritos, provavelmente o meu passageiro temendo por sua vida, e aquele que deveria velar por ela, não estava consciente para ver o seu desespero. Diferente do que muitas pessoas fantasiosos dizem. Eu não vi minha vida passar como um filme diante do painel do carro, não tive tempo de fazer uma oração à Deus, pedir perdão pelos meus pecados. Eu apenas vi flash de luz, gritos muito longe de mim.

O meu passageiro escapou daquela tragédia com apenas um arranhão no ombro. Eu não tive a mesma sorte, bati a cabeça em uma das capotagens do carro. Fiquei preso nas ferragens do carro por 5h. O local onde o carro parou era de difícil acesso. A diva badalada de Paragominas, "Dama de Vermelho" , agora não passara de um vestido velho todo embolado no chão. Quem olhara de longe aquela cena, certamente não cria que houvesse sobrevivente em meio a tanto metal retorcido.

Eu não saberia detalhar como ocorrera o resgate, tudo o que eu sei é que um passageiro, do qual eu deveria cuidar e deixar em segurança ao seu destino, nos salvou naquele dia. Pela gravidade dos ferimentos, eu precisara ser levado para Belém. O estado era gravíssimo, com uma perfuração no peito e uma forte batida na cabeça, eu entrara em coma. Eu não era um indigente, graças aos documentos no carro, porem eu era indigente, por não ter quem procurasse por mim, ou notasse minha falta em tão pouco tempo.

Eu travara uma batalha ferrenha por minha vida, e tudo o que eu podia fazer, era torcer para que os paramédicos não desistissem de mim...

#Continua

(Carf)

Hámilson Karf
Enviado por Hámilson Karf em 25/02/2018
Reeditado em 25/02/2018
Código do texto: T6263608
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