AMOR DE CARNAVAL
Era o ano de 1983, Lisboa, uma das mais lindas cidades históricas da Europa, Aeroporto da Portela, soprava uma brisa airosa, era o inverno português, apesar de também ser o mês de fevereiro e ter carnaval, o renomado cirurgião plástico, Rodrigo De Castilho, resolveu trocar o frio da sua pátria pelo calor do Rio de Janeiro.
Ele não conhecia o Brasil, a não ser através das notícias vinculadas na mídia e das exibições das novelas brasileiras, sucesso absoluto em sua terra natal. Há tantos anos havia planejado realizar o sonho de conhecer o país pentacampeão mundial de futebol, no entanto, nunca lhe sobrava tempo para efetivar os seus anseios, e o momento era aquele, tinha conseguido uma folga no Hospital The Cleveland Clinic, situado em Cleveland, EUA, um dos centros médicos mais respeitados do mundo.
Já se respirava o clima momesco quando De Castilho desembarcou no Aeroporto Internacional Tom Jobim, à agência de viagens que contratara já o esperava e logo o levou para o Hotel Copacabana Palace. Ali começava a realização do seu sonho, viver toda magia; o encanto do carnaval carioca.
Sábado, primeiro dia de folia, o Copacabana Palace celebra o Carnaval com um grande baile de gala. É muito frequentado pela alta sociedade do Rio de Janeiro, assim como por celebridades, emergentes, artistas, modelos e socialites. Rodrigo dirigiu-se para o salão nobre, o cenário era deslumbrante; foi para o camarote que havia reservado estava extasiado com a beleza do recinto, não demorou muito para ser envolvido pela magia, pela emoção, só então se deu conta que estava no Brasil, no maior e mais envolvente evento do mundo, o carnaval do Rio de Janeiro.
Ela surgiu como uma Deusa do Olimpo, seu corpo escultural, pele cor de jambo, retratava a mais bela das esculturas esculpida por uma divindade mística. A máscara preta adornada por pingos dourados deixava transparecer o cintilar de um olhar azul, como os diamantes das estrelas do firmamento. Seus lábios tinham a doçura do mel das laranjeiras, seus cabelos negros como a flor da petúnia emolduravam seus desnudos ombros, foi amor à primeira vista.
Já passava das 03h da manhã, quando De Castilho caminhou até ao bar para solicitar mais um drink, e, ao retornar para o camarote, não mais encontrou a fada encantada dos seus sonhos, desapareceu como surgiu, como um passe de mágica, de nada adiantou procurá-la pelo salão, como encontrá-la se nem sequer sabia o seu nome. No seu lugar ficou à essência divina, o aroma de um perfume desconhecido. Adormeceu e quando acordou estava confuso, não sabia distinguir, se tudo tinha sido produto da sua imaginação ou se o que acontecera na noite anterior era verdadeiro.
A manhã surgia esplêndida, o príncipe dourado iniciava o seu reinado, acordando seus súditos para à vida, ao longe o Cristo Redentor abençoava à belíssima cidade do Rio de Janeiro, tinha pouco tempo; era preciso aproveitá-lo em toda à sua plenitude, pois brevemente teria de voltar aos Estados Unidos.
Às 17h foi conduzido para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, onde iria desfilar pela Escola de Samba, Beija-Flor de Nilópolis, escolha que se deu ao tomar conhecimento do enredo, que o deixou fascinado, A Grande Constelação das Estrelas Negras, para ele tudo era maravilhoso, a praça da apoteose, com o seu imponente arco, obra prima de Oscar Niemeyer, o delírio louco do público nas arquibancadas, o magnetismo das escolas de samba com as suas luxuosas fantasias, seus criativos carros alegóricos, seus adereços eram parte de um espetáculo surreal. Mas, não lhe saia do pensamento à noite anterior no Copacabana Palace; quem era ela? Porque foi embora sem se despedir; eram perguntas que ele jamais saberia responder.
Rodrigo partiu levando consigo uma saudade que iria ser a sua eterna companheira, a Beija-Flor foi a campeã do carnaval e ele sabia que agora fazia parte da sua história. Embarcou para os Estados Unidos, com a promessa de retornar no ano seguinte, pois no Rio tinha vivido os melhores momentos da sua vida.
O tempo passou rápido, e ele jamais tinha conseguido retornar ao Brasil, suas atividades profissionais não lhe permitiram realizar o tão almejado desejo, não era atoa que ele era considerado o melhor Cirurgião Plástico dos Estados Unidos, no entanto nunca conseguiu esquecer a imagem daquela mulher por quem tinha se apaixonado perdidamente.
Haviam transcorridos três anos de sua estada no Brasil, 09 de fevereiro de 1986, e, por coincidência, era carnaval. Estava em sua luxuosa cobertura na ilha de Manhattan, Nova Iorque, acompanhando pela televisão as noticias vindas do Rio de Janeiro, quando o telefone tocou, era do Hospital solicitando a sua presença, pois ocorrera um acidente aéreo e existia uma famosa modelo espanhola necessitando de uma cirurgia reconstrutora do rosto com urgência.
Rapidamente chegou ao complexo hospitalar; dirigindo-se para o centro cirúrgico onde lhe foi passado o prontuário da paciente. Nome, Serena Sanches, idade 35 anos, nacionalidade, Espanha. Estava internada há cinco dias e não corria mais perigo, no entanto havia sofrido um traumatismo facial e deveria ser operada rapidamente. O procedimento foi um sucesso, a evolução pós-operatória surpreendia o jovem médico, finalmente chegou o dia em que iria realmente conhecer a celebridade hispânica. Após a retirada da bandagem; De Castilho ficou perplexo com o resultado da sua obra prima. Aqueles olhos azuis que um dia o conquistou estavam ali diante de si, finalmente havia encontrado a mulher da sua vida, não tinha a menor dúvida, ela era a dama misteriosa pela qual tinha se apaixonado perdidamente no carnaval brasileiro do ano de 1983, nos salões do Hotel Copacabana Palace.
NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera coincidência.
Autor – José Valdomiro Silva