ROMANCE; A VITRINE (Um presente Divino)

Capítulo VII

Um presente Divino.

Os dias não pareciam querer ser abreviados naquela segunda semana de Agosto. Lembro-me de ter visto muitos ônibus indo e vindo na estrada que dava acesso a entrada de Paragominas, a cidade estava como uma noiva às vésperas do casamento, ornava-se para receber no altar, a AGROPEC. No dia 8, três dias antes da programação de Abertura, eu já me preparava ansioso, é claro que não seria possível estar lá dentro participando do evento, mas imaginar as tantas possibilidades de rever a Karoline, enchia meus intentos de empolgação. Eu cheguei a adiantar o meu relógio, é! Loucura eu sei, todavia de alguma forma aliviava a minha tensão. Antes que eu pudesse ligar meu slide de lembranças em meu pensamento, o celular tocou. Era o Sr. Carlos Eduardo Galvão, ele era um dos homens mais ocupados de Paragominas, vivia uma correria que deixaria qualquer outra pessoa próxima de um infarto. Porém ele gostava do que fazia. O departamento de Necrópoles, era emocionante, desde que você não tivesse medo de defuntos.

- Bom dia Sr. Carlos Eduardo!

- (Carlos) Bom dia Carf! Você estará muito ocupado essa semana?

- Não Sr, há algo que eu possa fazer pelo Sr?

- (Carlos) Essa semana está uma correria, poderíamos fechar um valor para você ir levar e buscar minhas filhas na escola?

- Claro Sr. Carlos! Horário reservado para atendê-lo.

- (Carlos) Obrigado! Você já começa hoje, eu as levei, mas estou indo até Belém.

- Deixe comigo! Vá debaixo da proteção divina Sr. Carlos!

- (Carlos) Obrigado! Até a volta!

Ainda cheguei a passar pelo Sr. Carlos próximo a rodoviária de Paragominas, eram aproximadamente 10h30min, a julgar pela hora, era óbvio que ele não poderia mesmo ir buscar as meninas. O táxi “Dama de Vermelho “ como eu batizara, era famoso e conhecido na cidade. O carro ganhou mais fama do que o próprio dono. Não existe nada melhor nesse mundo, do que o bom nome, e em Paragominas eu em 5 meses, já tinha construído o meu. As vezes eu olhava para trás e percebia quão sombria era a minha vida, entre solidão e abandonos, eu vivia ali, naquelas páginas de vida, muitos bons capítulos. Ganhei amigos, familiares de outras famílias. Embora eu tivesse um bom relacionamento com todos os meus clientes, eu tinha uma ligação muito especial com três pessoinhas incríveis. Eu costumo dizer que foi amor a primeira corrida. Emily, Erika e Melissa, eram a minha dose de bom humor, meus tesouros. Eu cuidava delas, como se eu fosse o irmão mais velho, super protetor. E existe aquele velho ditado; “Se quiser agradar os pais, trate bem os filhos”. Não era mais uma relação profissional, durante toda a semana, eu me apeguei as meninas, e elas a mim. Era surreal a ligação que existia entre as três princesas, e o jovem taxista plebeu. Emily passou a ser minha conselheira, sempre disposta a ouvir minhas histórias, e é claro, atacar de psicóloga no final. Em apenas uma semana, eu conheci defeitos e qualidades das três princesinhas mais lindas de Paragominas. A Erika, era praticamente o meu EU feminino, emotiva, distante as vezes, chorona, e de um coração enorme. A Melzinha era o meu xodó, sempre carinhosa, mas apta a fazer chantagens emocionais quando contrariada. Era difícil dizer quem eu amava mais, até porque não havia disputa de amor, embora na maioria do tempo elas brigassem entre si, se amavam e protegiam umas às outras. E ganharam um reforço no time. Eu! O novo irmão ciumento e super protetor. O amor das meninas por mim, era tão grande, que eu passei de taxista, a membro da família Galvão. Conversei algumas vezes com o Sr. Carlos Eduardo, claro, conversas relâmpagos. Ele estava sempre correndo, parava poucas vezes por longos períodos. Naquela semana, eu fui convidado a almoçar com eles, após buscar as meninas. Experimentei o famoso strogonoff da Sra. Leia. Deu vontade de lamber os dedos, mas por ética só os limpei no lenço posto sobre a mesa. Mel fez questão de sentar ao meu lado, enquanto a Emily dirigia mais umas perguntas, e a Sra. Leia, a repreendendo, dizendo que não era hora de bancar a detetive. Eu ri baixo, pois a Emily era mesmo um “Siri na lata”, qualquer deslize a tirava do sério. Erika sentou-se à mesa, e ficou em silêncio durante quase toda a refeição. Não comentei nada a respeito, mas após o almoço não pude evitar o questionamento, instigar quem sabe a Sra. Leia, a observar algo errado, no comportamento da Erika. O que eu não sabia, até por nunca ter tido uma, é que mãe sabe de tudo. A Sra. Leia Galvão, sorriu, e depois narrou com riquezas de detalhes que a Erika tinha um sentimento de rejeição, sentia que as irmãs eram mais amadas. Foi então que eu percebi porque eu achava aquela mocinha tão parecida comigo. O olhar distante, o sorriso disfarçado as vezes, guardavam uma tristeza existencial. Passei a ter um cuidado mais especial com a Erika, mostrando inclusive às próprias irmãs, que elas poderiam ajudar a Erika. Apesar de vê-las somente no período da manhã, aquela foi a minha melhor semana daqueles últimos 5 meses. Já era sexta-feira, dia 11 de Agosto de 2005, uma semana com o coração super preenchido sem pensar na Karoline. Aliás, no momento em que fui buscar as meninas, devo ter pensado alto o nome da Karoline, pois a Emily não parou mais de indagar quem era a Karoline.

Vencido pela insistência da minha Autarquia Emily, acabei contando toda a história, era engraçado e ao mesmo tempo constrangedor. As meninas fizeram um coro, e juntas passaram toda a nossa ida para casa cantando:

“Tá namorando, tá namorando “

Como me faziam bem aquelas criaturinhas, eram minha dose diária de bom humor. Emily, esperou as meninas descerem do carro, e me olhando um pouco preocupada disse delicadamente:

- Espero que essa menina te faça bem, se não eu quebro aquilo que ela chama de cara 😌

Eu sorri! A abracei forte e agradeci os cuidados. Falei rápido com o Sr. Carlos Eduardo, recebi o pagamento pelos serviços do transporte das meninas e entrei no carro. Erika parecia desapontada, me olhou chateada, provavelmente cria que eu iria almoçar com elas, mas não foi possível, além do mais eu já estava me sentindo constrangido ou pelo menos desconfortável por estar invadindo demais o tempo da família Galvão. O que eu não imaginava, é que para eles, eu já era como um filho. O Sr. Carlos Eduardo, embora fosse um homem de poucas palavras, observara minha postura responsável e via em mim, um braço direito para futuramente ajudá-lo no setor administrativo do cemitério e do departamento de Necrópoles. O problema era que defuntos me deixavam com calafrios, e noites sem dormir. Não era muito minha “praia” pensar em encarar um trabalho como aquele.

Fui para casa, tomei um daqueles banhos demorados, e não pensava em mais nada que não fosse a Karoline. Faltavam apenas 5h para a festa de Abertura da AGROPEC, e era ali que eu falaria para ela o que eu sentia. Mandei a “Dama de Vermelho” para o salão de beleza (Lavagem), tudo deveria estar impecável naquela noite, fui ao centro da cidade, eu não entendia muito de como me vestir para uma festa de rodeio, já que está era a primeira vez que participaria de uma. Eu queria estar bem vestido, impressionar alguém naquela noite. Comprei uma Bota West Country, uma calça jeans FAST BULL LYCRA STRIPE, e um chapéu PRALANA TEXANO CAFÉ. Eu estava pronto! Naquela noite eu entraria na arena dos olhos da Karoline, e tentarei ficar em seu olhar por 8 segundos…

Enfim o grande momento chegou, às 17h os cavalos tomaram as ruas de Paragominas, lindas mulheres, as ruas pareciam passarelas. Mas os meus olhos só queriam encontrar uma pessoa naquela multidão. E eu a busquei freneticamente em cada portão de entrada, em cada carro que chegava, o som do lado de dentro do parque de exposição, já estava sendo testado, o número de pessoas chegando aumentava, conforme os minutos iam passando. Já eram 20h quando os fogos de artifícios anunciaram o início da festa, em meio a multidão, meus olhos já cansados, esboçavam desistência. Eu estava indo para o carro, quando ela passou por mim. Aquele Perfume Feminino 212 VIP Rosé, invadiu o ambiente, ela era uma deusa desfilando aqui na terra. Os olhares se perdiam nela. Fernanda, a amiga estava com ela, antes que ela passasse pelos portões, corri até lá, segurei em sua mão, ela virou assustada, fitou fixamente os meus olhos. Sorriu e me abraçou. Me repreendeu pelo susto, mas logo delicadamente falou-me que sentiu minha falta, pedi licença à Fernanda, para que eu pudesse sequestrar a Karoline por alguns minutos. Eu estava eufórico, suava frio. Provavelmente pálido, e com a respiração ofegante. Karoline estava inquieta e curiosa, olhava-me como se perguntasse em silêncio do que se tratava. Puxei o fôlego, e por frações de segundos ouvi o Sr. Adalberto falando:

- Vai lá meu nobre rapaz, é a sua chance.

Antes que eu falasse qualquer coisa, uma amiga dela a puxou e abraçou e ela foi se afastando aos poucos sem perceber que eu mais uma vez ficara para trás…

#Continua

(Carf)

Hámilson Karf
Enviado por Hámilson Karf em 23/02/2018
Código do texto: T6262040
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