ROMANCE; A VITRINE (A grande Festa)
Capítulo VI
A grande Festa.
Paragominas era um refúgio para muitos, para mim ela era RECOMEÇO. Lembro-me do dia em que eu embarquei no avião da Gol G3 1645, às 23h45min do dia 22 de abril de 2005. Eu era um jovem corajoso aventureiro, fugindo do meu passado para um futuro desconhecido. Eu não conhecia ninguém no Estado do Pará, eu era apenas um nômade, perdido em meus devaneios. Filho abandonado à própria sorte, aos 8 meses, adotado por uma família evangélica, que de Deus não tinham nada a não ser o nome. Foram tempos difíceis. É fácil zombar, fazer críticas às pessoas que cresceram sem os pais, e tornaram-se frias, distantes e anti-sociais. Sim, é fácil quando você esteve o tempo todo sobre um teto quentinho, comida e roupa lavada, as melhores escolas. Papai e mamãe para tomar suas dores.
Porém ser bom ou ruim, é UMA ESCOLHA! E naquelas alturas do campeonato da minha vida, eu já tinha escolhido o que eu seria. Eu seria o homem mais cordial, Leal, amável que eu pudesse, e eu fui. Em todos os lugares por onde andei, eu sempre busquei em estranhos, um pai e mãe que eu nunca tive. E honrei cada um a quem adotei como pais, e ali dentro daquele avião, vendo quanto o mundo fica pequeno olhando aqui de cima, me senti maior que meus problemas e inseguranças. Eu tinha poucos recursos financeiros no bolso, o suficiente para pagar um quarto por uns dois meses, o suficiente eu cria, até arrumar um emprego. O avião não chegara ao Aeroporto Internacional de Belém, e eu já fazia mil planos. O céu é diferente ali entre as nuvens, pedaços de algodão são cortados pelas asas do avião, alguém lá fora com seu flash impetuoso entre as nuvens, não pára de fotografar entre um extremo e outro. Eu preferia sim imaginar que deveras fossem mesmo flash, pois olhar para fora do avião e contemplar raios passarem tão perto das asas do nosso vôo, era amedrontador. Enfim, percebi que nos aproximávamos de uma claridade absoluta, a grande Belém iluminava o trajeto como se quisera seduzir o vôo a chegar mais rápido. Um pena que não haveria romance algum entre Belém e eu, chegando ao aeroporto, apanhei as bagagens e tomei um táxi direto para a rodoviária, o taxista pouco falava, e eu nem imaginava, que ali naquele momento eu conheceria minha segunda profissão, era empolgante ir e vir de um lugar ao outro, conhecer a cidade de ponta a ponta. Sem dúvidas eu me daria bem como taxista. O pensamento durou até eu chegar na rodoviária. Eu estava curioso e muito ansioso para conhecer a cidade de Paragominas. Eu não consegui dormir a viagem inteira naquele ônibus, 348 quilômetros pareciam uma eternidade. Tantos rostos desconhecidos ali, tão desconhecidos quanto o meu destino. Ao chegar na cidade, novamente apanhei um táxi e pedi que me levasse ao hotel mais acessível de Paragominas, passei pela primeira vez na praça Célio Miranda, e contemplei as vidraças da vitrine da loja Stilus, nem imaginei que ali seria o único lugar que avaliaria meu currículo em menos de 2 dias e aceitaria meu pedido de emprego. Consequentemente eu jamais seria capaz de deduzir, que ali eu conheceria a mais incrível mulher nesta lida: Karoline.
Eu pensara muito nisso na última semana, já havia passado 5 meses da minha estadia em Paragominas. 3 meses trabalhando na Stilus e 2 meses no meu táxi. Eu não poderia dizer que a primeira viagem para fora do município foi boa, ou ruim. Estar com a Karoline por 348 quilômetros, fora maravilhoso, todavia presenciar de tão perto os últimos quilômetros de vida do Sr. Adalberto, tornou essa lembrança cinza. Mas alguns capítulos da nossa vida, precisam seguir, é preciso virar a página, afinal, eu prometi ao Sr. Adalberto, que eu falaria para a Karoline, o que eu sentia. Difícil seria encontrá-la, já que ela estaria por aí, em qualquer lugar do Brasil ou do mundo. Eu fiquei tão perdido nos assuntos dela no meu táxi, que não perguntei para onde ela iria, e sinceramente, eu não seria louco de ir a fazenda do pai dela para perguntar isso. Eu precisava confiar no destino mas uma vez, e cá entre nós, o destino é “malandro” quando quer ser cupido. Era mês de Agosto, um dos meses mais badalados de Paragominas, aproximavamo-nos do dia 11 de agosto, data em que acontece a AGROPEC, maior evento agropecuário do Pará e da Região Norte. Oportunidade ímpar de bons negócios e claro, para os taxistas, maior faturamento do ano. Eu acordara um pouco triste no dia 7, era uma segunda-feira preguiçosa, tomei o café da manhã, sempre atento ao celular, a expectativa era de que a Karoline ou o pai dela, ligassem solicitando os meus serviços, o relógio marcava 6h45min, finalmente o celular tocou pela primeira vez, o número não estava na minha agenda, obviamente algum passageiro novo que houvera pego o meu cartão de visita. Do outro lado da linha, era o Sr. Carlos Eduardo Galvão, não reconheci a voz, afinal eu só houvera falado com ele uma vez, atendi o telefone e atentamente o ouvi;
- (Carlos) Bom dia, Sr. Carf!
Bom dia! Com quem eu falo por gentileza?
- (Carlos) aqui é o Carlos Eduardo, você deixou seu cartão comigo faz uns 45 dias.
Ah sim, claro! É o diretor do cemitério municipal.
- (Carlos) exatamente! Sr. Carf! Eu precisei viajar com urgência para acompanhar um caso em Castanhal, tenho alguns amigos que me deram boas referências a seu respeito, o Sr, poderia por favor apanhar minhas filhas em casa para levá-las à escola?
Claro Sr. Carlos! Passarei para apanhá-las em 10 minutos.
- (Carlos) Obrigado! Minha esposa lhe dará o valor da corrida.
Assim que o Sr. Carlos, desligou parti imediatamente para o endereço de sua casa, sua esposa me recomendou que eu não corresse muito e que não pegasse pilha com as meninas, pois elas eram um tanto “tagarelas”. Diferente do que eu ouvira a respeito das meninas, foi amor a primeira corrida. Emily de 12 anos, altamente interativa e inteligente, indagou-me sobre a minha vida, meus gostos musicais, família, era uma adolescente muito inteligente, diferente da lindíssima Erika de 9 anos. Que observava tudo com atenção. Parecia fechada, embora esbanjasse carisma ao rir da irmã mais velha, que não parava de fazer perguntas. Impossível não falar da criaturinha maravilhosa que era a Melissa, chamada carinhosamente pelas irmãs, de Mel. Mel tinha 6 anos, super sorridente, passava de um lado para o outro do banco como se quisera aborrecer as irmãs. Eram 8 minutos da casa do Sr. Carlos Eduardo, até a escola das crianças, o suficiente para perceber quão sortudos eram aqueles pais. Assim que saíram do carro, se despediram e agradeceram. Melzinha não conteve-se apenas em dizer tchau, pulou para o banco da frente do passageiro, me abraçou forte e disse:
- Obrigado Tio! Você é muito engraçado.
Mal sabia a Mel, que só ela ria das minhas piadas. Não sei porquê mas me senti na responsabilidade de perguntar à professora a hora em que as meninas sairiam e se teriam todas as aulas. Munido das informações, enviei mensagem ao Sr. Carlos Eduardo, informando. Pouco mais de 20 minutos depois, a esposa do Sr. Carlos ligou, agradeceu o meu gesto e pediu que eu fosse apanhar as meninas às 11h30min, pois o Sr. Carlos Eduardo, não voltaria a tempo de apanhá-las. Marquei no meu despertador o horário e fui atender a outros chamados. Trabalhei tanto naquele dia 7 que nem vi as horas passarem. Logo o despertador anunciou que era hora de buscar as meninas na escola. Ao chegar, abri a porta do carro, e a primeira a entrar foi a Erika, parecia aborrecida, logo em seguida veio a Emily, gesticulando com algumas amigas, gargalhando… Emily era uma daquelas pessoas carismáticas e ao mesmo tempo brava que nem um “Siri na lata”. Por último, veio a Melzinha correndo, toda cheia de energia, com o uniforme suado e um pouco sujo, provavelmente estava brincando de rolar no pátio da escola. Mesmo assim não se preocupou, pulou em meu pescoço, me abraçou e com a voz um pouco rouca retrucou;
- (Mel) Tio! Vamos tomar sorvete? A mamãe deixa antes do almoço!
Eu poderia ter cedido a toda aquela doçura e travessura, mas nem um pai deixa os filhos tomarem sorvete antes do almoço, certo? Consegui convencer a Mel a deixar o sorvete para um outro momento, as conduzi para a sua casa, desceram fazendo festa, abraçaram a Sra. Leia Galvão, e a Melzinha falou naquele tom rouco tão dela;
- (Mel) Mamãe, convida o titio para almoçar aqui!
A Sra. Galvão riu, e antes que fizesse o convite, eu recebi uma ligação e precisei ir atender um cliente, me despedi, agradeci, fiz um cafuné na Melzinha, entrei no carro e parti. Foram muitas ligações naquele dia. A cidade estava movimentada, hotéis lotados, era o clima de AGROPEC enchendo de correria a badalada Paragominas.
Só para o parque de exposição da AGROPEC, fiz aproximadamente umas 20 corridas naquele dia. Animais lindos chegavam a todo instante em grandes caminhões. Cavalos, gados, e tantos outros que seriam atração da 51° AGROPEC.
Por volta das 22h, eu trafegava pela Rua Barão de Maraú, e alguém fez sinal, parei o veículo e o destino resolveu mais uma vez mexer com minhas estruturas emocionais. A exatos 45 dias após a corrida para Belém, entrava no meu táxi, Karoline e uma amiga por nome; Fernanda. Karoline ficou super surpresa ao me ver, pegou em minha mão, sorriu, me apresentou à Fernanda e pediu que eu a levasse para a fazenda do pai. Karoline, havia viajado para São Paulo, fora confirmar sua matrícula em um mestrado em Veterinária, ela falou o nome da Universidade, mas eu fiquei tão bobo em vê-la, que nem ouvi ou não memorizei o nome da instituição. Ao chegar na fazenda, que ficava a poucos minutos de onde eu a apanhara, desci do carro, abri a porta, e ambas desceram. Karoline pela primeira me elogiou na frente de alguém, falou o quanto eu entendia o Universo das bolsas femininas e quão cavalheiro eu era. Por fim, encerrou os elogios olhando para a amiga e indagando;
- (Karoline) Fala amiga, não é um motorista para se ter a vida toda?
Eram mais de 22h, a temperatura entre 22 a 25 graus, mesmo assim eu quase derreti ali mesmo. Karoline ainda me deu um abraço forte, agradeceu, pagou a corrida e perguntou se eu iria para festa de Abertura da AGROPEC, e eu claro disse que não perderia por nada. Parecia um convite, mas como uma mulher linda e rica convidaria um taxista para ir à uma festa como está, com ela?
Seja como for, entrei no carro eufórico, e nas escadarias da fazenda, Karoline ainda me presenteou com um sorriso e entrou. Eu não conseguia nem engatar a ré, fiquei apanhando do meu próprio carro por alguns minutos, até retomar o controle das minhas emoções, e partir… Torcendo para que a grande festa chegasse logo, e eu pudesse mais uma vez, ter na Vitrine dos meus olhos, a mais bela e apaixonante mulher: Karoline!
#Continua
(Carf)