CASAMENTO SEM AMOR-II
Nair Lúcia de Britto
Quando a cerimônia do casamento, religioso, de Glória acabou, deu-se início à festa. Todos se divertiam, sorriam e conversavam, menos o pai da noiva.
Glória olhou para o seu pai consternada por vê-lo tão entristecido. Parecia estar numa cerimônia fúnebre. A verdade era que ele não concordava com aquele casamento precoce. Achava que a filha ainda era muito jovem para se casar, e que deveria continuar seus estudos.
Quando tivesse mais idade ele lhe ajudaria a encontrar um trabalho que lhe garantisse o sustento. E, quando amadurecesse, de fato, então sim, poderia pensar em casamento. Com alguém que ela escolhesse e que fosse digno do seu amor.
A expressão triste estampada no rosto do pai de Glória deixou-a ainda mais insegura e confusa sobre o passo importante que acabara de dar. Mais que isso, sentiu que aquela expressão ficaria marcada para sempre na sua memória.
Depois da festa, os noivos partiram para o Rio de Janeiro em viagem de lua-de-mel. Uma cidade maravilhosa, cujo brilho ofuscava os olhos de Glória. E o hotel suntuoso também era uma maravilha! Jamais usufruíra de tanto luxo!
Contudo Glória não estava feliz.
Aquela primeira noite de casada não era como deveria ser: um momento em que, comumente, toda noiva ansiava e desejava. De repente descobrira que aquela noite para ela, na verdade, lhe parecia um pesadelo.
Confundira amor com amizade e a sua natureza íntegra não permitia uma intimidade maior com quem, só agora reconhecia, era simplesmente um bom amigo.
Pediu-lhe que dormissem separados, pois não se sentia à vontade e nem preparada; precisava de um tempo! E assim aconteceu na noite seguinte, na outra e na outra...
Hugo foi compreensivo e Glória agradecia-lhe. Aproveitaram a praia, os restaurantes, os passeios, o Pão de Açúcar. Nesse ponto, tudo novo, tudo maravilhoso...
“Glorinha, dizia-lhe uma tia querida, nos momentos que percebia um véu de tristeza nos olhos da sobrinha, "não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe!”
Realmente! A ilusão acabou assim que os noivos voltaram para casa.
"Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos homens."
Marc Chagall
Nair Lúcia de Britto
Quando a cerimônia do casamento, religioso, de Glória acabou, deu-se início à festa. Todos se divertiam, sorriam e conversavam, menos o pai da noiva.
Glória olhou para o seu pai consternada por vê-lo tão entristecido. Parecia estar numa cerimônia fúnebre. A verdade era que ele não concordava com aquele casamento precoce. Achava que a filha ainda era muito jovem para se casar, e que deveria continuar seus estudos.
Quando tivesse mais idade ele lhe ajudaria a encontrar um trabalho que lhe garantisse o sustento. E, quando amadurecesse, de fato, então sim, poderia pensar em casamento. Com alguém que ela escolhesse e que fosse digno do seu amor.
A expressão triste estampada no rosto do pai de Glória deixou-a ainda mais insegura e confusa sobre o passo importante que acabara de dar. Mais que isso, sentiu que aquela expressão ficaria marcada para sempre na sua memória.
Depois da festa, os noivos partiram para o Rio de Janeiro em viagem de lua-de-mel. Uma cidade maravilhosa, cujo brilho ofuscava os olhos de Glória. E o hotel suntuoso também era uma maravilha! Jamais usufruíra de tanto luxo!
Contudo Glória não estava feliz.
Aquela primeira noite de casada não era como deveria ser: um momento em que, comumente, toda noiva ansiava e desejava. De repente descobrira que aquela noite para ela, na verdade, lhe parecia um pesadelo.
Confundira amor com amizade e a sua natureza íntegra não permitia uma intimidade maior com quem, só agora reconhecia, era simplesmente um bom amigo.
Pediu-lhe que dormissem separados, pois não se sentia à vontade e nem preparada; precisava de um tempo! E assim aconteceu na noite seguinte, na outra e na outra...
Hugo foi compreensivo e Glória agradecia-lhe. Aproveitaram a praia, os restaurantes, os passeios, o Pão de Açúcar. Nesse ponto, tudo novo, tudo maravilhoso...
“Glorinha, dizia-lhe uma tia querida, nos momentos que percebia um véu de tristeza nos olhos da sobrinha, "não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe!”
Realmente! A ilusão acabou assim que os noivos voltaram para casa.
"Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos homens."
Marc Chagall