CASAMENTO SEM AMOR
Nair Lúcia de Britto
Ali, no altar da Igreja, no dia em que deveria estar exultante de alegria, Glória sentia-se confusa e infeliz. Não, não era com aquele homem que Glória queria se casar. Era isso que o seu coração lhe dizia, enquanto o padre lhe perguntava:
-- Glória é de sua livre e espontânea vontade casar-se com Hugo Santiago?
Por que as circunstâncias a tinham levado até ali? Quando, na verdade, era um outro homem a quem desejava ter como marido.
Apaixonara-se à primeira vista por Tom, pelo seu sorriso, pelos olhos que brilharam assim que se encontraram com os olhos dela, que brilharam também.
Mas o problema é que já estava comprometida com Hugo, um rapaz sério, honesto e que a amava profundamente. E aquele outro rapaz que fazia seu coração bater forte era apenas um desconhecido. Uma paixão passageira, talvez!
Mas o amor que sentiu por Tom, porém, era mais forte que tudo, por isso naquela noite chuvosa; quando Hugo viera ao seu encontro, tinha resolvido terminar o namoro com ele.
Quando Hugo apareceu com os cabelos molhados de chuva, que tomara por causa dela, e com um lindo cachorrinho de pelúcia, amarelo; que ele carinhosamente lhe trouxera de presente... perdeu a coragem de falar o que tinha em mente e magoar quem não merecia. Calou-se, e o namoro a seu contragosto seguiu adiante...
Numa segunda tentativa de romper o compromisso de vez, porque não conseguia parar de pensar em Tom, que dizia também gostar muito dela, não foi a coragem que lhe faltou... Foi uma armadilha do destino, em que as aparências se voltaram contra ela; impedindo-a irremediavelmente de realizar o pretendido.
Os acontecimentos seguintes praticamente a arrastaram até o noivado.
Já estava de aliança no dedo quando reviu Tom, que parou a moto numa rua, enquanto ela passava na calçada; numa última tentativa de aproximação. Ela também quis parar, correr para ele, como o seu coração desejava. Mas o senso de “dever” que a aliança de ouro, brilhando na sua mão direita, lhe impunha a impediu.
Então ela seguiu em frente, com o coração apertado porque sabia que tinha derrubado sua última chance de felicidade.
Agora, diante da voz solente do padre que a indagava sobre seu desejo de casar com Hugo, tudo que desejava era gritar: “Não!”
Mas pensou no vexame daquela situação inusitada, na sua mãe que sonhava em vê-la casada e feliz; nos convidados presentes; nos parentes... e principalmente no grande mal que causaria ao seu noivo. Enfim, pensou em todos, menos em si.
Pensou no constrangimento geral! O que os outros iriam dizer?
E foi assim que Glória, ingênua, inexperiente e imatura menina, apunhalou o próprio coração e tornou sua vida infeliz, quando finalmente respondeu ao padre:
-- Sim!
"Só amor me interessa, e estou apenas em contato com as coisas que giram em torno do amor."
Marc Chagall
Nair Lúcia de Britto
Ali, no altar da Igreja, no dia em que deveria estar exultante de alegria, Glória sentia-se confusa e infeliz. Não, não era com aquele homem que Glória queria se casar. Era isso que o seu coração lhe dizia, enquanto o padre lhe perguntava:
-- Glória é de sua livre e espontânea vontade casar-se com Hugo Santiago?
Por que as circunstâncias a tinham levado até ali? Quando, na verdade, era um outro homem a quem desejava ter como marido.
Apaixonara-se à primeira vista por Tom, pelo seu sorriso, pelos olhos que brilharam assim que se encontraram com os olhos dela, que brilharam também.
Mas o problema é que já estava comprometida com Hugo, um rapaz sério, honesto e que a amava profundamente. E aquele outro rapaz que fazia seu coração bater forte era apenas um desconhecido. Uma paixão passageira, talvez!
Mas o amor que sentiu por Tom, porém, era mais forte que tudo, por isso naquela noite chuvosa; quando Hugo viera ao seu encontro, tinha resolvido terminar o namoro com ele.
Quando Hugo apareceu com os cabelos molhados de chuva, que tomara por causa dela, e com um lindo cachorrinho de pelúcia, amarelo; que ele carinhosamente lhe trouxera de presente... perdeu a coragem de falar o que tinha em mente e magoar quem não merecia. Calou-se, e o namoro a seu contragosto seguiu adiante...
Numa segunda tentativa de romper o compromisso de vez, porque não conseguia parar de pensar em Tom, que dizia também gostar muito dela, não foi a coragem que lhe faltou... Foi uma armadilha do destino, em que as aparências se voltaram contra ela; impedindo-a irremediavelmente de realizar o pretendido.
Os acontecimentos seguintes praticamente a arrastaram até o noivado.
Já estava de aliança no dedo quando reviu Tom, que parou a moto numa rua, enquanto ela passava na calçada; numa última tentativa de aproximação. Ela também quis parar, correr para ele, como o seu coração desejava. Mas o senso de “dever” que a aliança de ouro, brilhando na sua mão direita, lhe impunha a impediu.
Então ela seguiu em frente, com o coração apertado porque sabia que tinha derrubado sua última chance de felicidade.
Agora, diante da voz solente do padre que a indagava sobre seu desejo de casar com Hugo, tudo que desejava era gritar: “Não!”
Mas pensou no vexame daquela situação inusitada, na sua mãe que sonhava em vê-la casada e feliz; nos convidados presentes; nos parentes... e principalmente no grande mal que causaria ao seu noivo. Enfim, pensou em todos, menos em si.
Pensou no constrangimento geral! O que os outros iriam dizer?
E foi assim que Glória, ingênua, inexperiente e imatura menina, apunhalou o próprio coração e tornou sua vida infeliz, quando finalmente respondeu ao padre:
-- Sim!
"Só amor me interessa, e estou apenas em contato com as coisas que giram em torno do amor."
Marc Chagall