Dias estressantes

Miranda trabalhava em um salão de beleza conceituado a 2 horas da cidade de onde morava, pegava dois ônibus todo dia, devido à distância e a sua ansiedade costumava ouvir músicas e ler algum livro no trajeto.

Mesmo munida de distração as confusões durante a viagem tiravam sua atenção para cenas como brigas de passageiros por causa do abre e fecha das janelas.

-Ou! Fecha essa janela, você sente calor no olho?

Dizia o passageiro sentado para o que estava em pé.

-Não é para fechar, acha ruim? Compra um carro!

As empregadas falando das manias dos patrões, os casados reclamando dos parceiros, dia era cobrador versus passageiro, dia era assédio, assim a vida ia que ia.

Miranda já chegava no trabalho cansada antes mesmo de começar a trabalhar.

Era separada, após 14 anos de dedicação seu ex-marido Urso (apelidado assim devido altura e pêlos do corpo) saiu de casa para morar com outra mulher mais jovem. Ela não se ressentiu porque já não era feliz com ele, sua saída deu esperança de recomeçar sozinha à sua maneira.

Desse casamento teve Diego então com 11 anos, filho que ela dedicava total atenção e esmero. Não tinha mais grandes sonhos, só queria tempo para ver Diego homem feito.

Um dia qualquer de trabalho, com o salão cheio de clientes na recepção, entra um senhora, bem apessoada e com passos calmos, em direção à funcionária do caixa.

Com perguntas sobre seu marido agarrou-a pelos cabelos e iniciou uma briga violenta, as mulheres corriam, produtos e esmaltes voaram, quebraram espelhos na tentativa de separá-las. A polícia rapidamente chegou e levou as pessoas que ainda estavam presentes no local, deixando o salão fechado e no prejuízo.

Após um longo tempo na delegacia, Miranda deu o depoimento do acontecido e seguiu para casa triste, cheia de amofinações pois não sabia nada de como ia ficar seu emprego com o salão destruído.

Na parada vinha o ônibus avistado por ela de longe e cheio, entrou e ficou em pé. Ali outra briga!

Briga da catinga, eram gases contra suor.

A coitada chegou em casa e após um longo banho resolveu ir à igreja em busca de paz.

Chegando lá a igreja estava cheia, com cadeiras extras e algumas pessoas em pé.O pastor estava muito empolgado, durante a pregação os presentes deram as mãos emocionados com muito clamor.

Ainda de olhos fechados Miranda ouviu chamá-la. Ao olhar para o lado era sua amiga, Diego passava mal.

Miranda depressa o levou ao hospital.

Na sala Diego estava mais calmo e explicou que teve medo de ir para o inferno, pois junto com os garotos da rua mataram um pombo a pauladas e teve medo do castigo no juízo final falado na pregação. A prova que o mínimo de inteligência faz a consciência discernir o certo do errado.

Ela tranquilamente ensinou sobre pecado e perdão, aí a cortina se abriu bruscamente.

Era o enfermeiro, careca com orelhas abertas e com olhos esbugalhados quase saltando da cara...ele explicou que provavelmente Diego teve ataque de Pânico, mas que o médico estava vindo para lhe atender. Miranda, exausta não conseguia olhar pra cara do enfermeiro, aqueles olhos gigantes e juntando tudo o que passara naquele dia começou a rir...sem parar e depois a chorar...a coitada estava um trapo, talvez de desespero, devido a tantas oscilações de humor num único dia.

Ela foi para casa com o filho. Teve uma noite pertubadora. Mas não deixou se abalar.

Após um tempo decidiu tirar um dia para si mesma.

Foi ao shopping, viu um filme e entrou numa livraria...ao selecionar a prateleira foi tocada no ombro, era o enfermeiro dos olhos grandes, se cumprimentaram, ele perguntou como Diego estava e ali iniciaram um diálogo trivial que estendeu-se até cafeteria da livraria e troca de telefones, com o passar do tempo se apaixonaram. Ela pediu para ele deixar o cabelo crescer, e acostumou-se com os olhos saltados para fora, hoje ela ri lembrando dos problemas e das viagens de ônibus, passara a atender clientes em casa e se diz feliz...aos poucos os dias ficaram menos estressante agora ela sonha em casar-se novamente e ter outro filho, a esperança se renovou provando que a vida é assim cheia de surpresas.

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 12/02/2018
Reeditado em 12/02/2018
Código do texto: T6252186
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