ROMANCE; A VITRINE
Capítulo I - A vitrine
Era verão em Paragominas, mesmo assim naquela tarde de sábado, "São Pedro" decidira lavar as nuvens do céu e inundar a terra com aquela torrente quase inesgotável. Difícil não encontrar alguém na rua escondido em seus agasalhos, ou com aquele guarda-chuva todo envergado por conta do vento forte que espalhava a chuva por toda a cidade. Muitos moradores nem arriscaram sair de suas casas, a praça central sempre cheia de sorrisos, passeios de bicicletas, casais cochichando, estaria deserta, se não fossem os cães de rua buscando abrigo debaixo dos bancos. Até os pássaros se calaram entre os galhos das árvores naquela tarde. Alguns veículos passavam quase despercebidos por conta da forte chuva. O comércio esbanjava timidamente alguns poucos clientes que arriscavam-se em ir às compras, afinal, não há "tempo ruim" quando se pode gastar não é?
Eu me recordo de estar empilhando algumas mercadorias que chegaram pela manhã, atento ao trabalho que eu realizava pouco olhava para o movimento na rua, que aliás era quase zero, a vitrine da loja em que eu trabalhava estava bastante embaçada, mesmo assim meus olhos super treinados estavam atentos a qualquer mínimo movimento, não se pode perder oportunidades de fechar boas vendas quando o seu maior ganho são as comissões, e para um homem como eu, trabalhar na "Stilus" era como estar o tempo todo visitando o paraíso. As mulheres mais lindas da cidade sempre passavam por aquela porta de vidro, cabelos sempre impecáveis, deusas transfiguradas em pele humana. Era quase impossível não levantar pela manhã e encarar mais dia de trabalho, feliz e satisfeito, atendendo a um público tão magnífico. Mas calma! Não inveje o meu posto ainda, eu era invisível meus caros apenas um figurante em meio a tantos astros e estrelas. Mas naquela tarde chuvosa, ninguém brilharia, pelo menos era o que eu imaginara. Após arrumar as últimas mercadorias olhei distraidamente para fora da loja, e através dos vidros vi o sorriso mais apaixonante do outro lado. Ela era uma mulher fascinante, aparentava ter entre 20 a 24 anos, vestido um pouco acima do joelho, distribuído entre incríveis e aproximados 1,70 de estatura, lábios cobertos por um batom vermelho claro, a pele parecia seda. Loucura talvez, mas eu sentia que o sol, que se escondera desde as 13 h, decidira aparecer justamente ali na vitrine da "Stilus".
Ela ficou hipnotizada por aproximadamente uns 15 minutos diante de uma Bolsa Calvin Klein Tote Monograma, que estava na vitrine. Perdida na paixão por aquela bolsa, ela nem se deu conta de que do lado de dentro da loja, ela era a bolsa na vitrine para os meus olhos. Eu treinei um discursos pronto para abordá-la e falar sobre a bolsa, mas quem disse que eu me importava com a venda? Tudo o que eu queria ali era ouvir a voz dela, e conhecê-la tão bem quanto a bolsa da qual eu deveria falar para reforçar à cliente o desejo pelo fechamento da compra. Enfim, os olhos dela se desprenderam da bolsa e com um sorriso desconsertado e ao mesmo tempo hipnotizante ela comprimentou-me, pediu licença para segurar a bolsa. Se a minha Chefa me visse naquele momento, certamente eu perderia o emprego, fiquei mudo, tonto e estático. Ela não era como as clientes da loja, não amigos, não era... Ela era elegante e ao mesmo tempo simples, Era requintada e ao mesmo tempo desengonçada, Era apaixonante! Fez muitas perguntas, a respeito do material do qual a bolsa foi fabricado, perguntou sobre as tendências e de modelos parecidos. Eu me mostrei firme, falei com clareza cada resposta. Eu me sentia um acadêmico CDF, formado no curso de Bolsologia, com Doutorado em Bolsas de Grife e suas tendências, se é que isso existe. Tentei prolongar o máximo possível a conversa, torci para que a chuva desabasse de vez, e que o interior da "Stilus" fosse o lugar mais seguro para aquela linda mulher que até agora eu não sabia o nome.
O celular dela tocou, interrompendo minha "PALESTRA" sobre bolsas. Ela pediu licença delicadamente, e se afastou alguns passos. Sabe aquele ditado de que: "A curiosidade matou o gato"?, pois é! Eu ignorei o ditado, fingi que arrumaria alguns acessórios próximos a ela e me ative a ouvir a conversa como uma daquelas velhas vizinhas fofoqueiras que todo mundo tem. Quase que me ajudando, o alto falante do celular ficou um pouco mais forte no momento em que o interlocutor dissera:
- Estou indo te buscar Karoline!
Ela desligou o celular e ficou em silêncio por alguns segundos, parecia estar pensativa ou aborrecida com a ligação. Eu não quis interromper seu momento de reflexão, e antes mesmo que eu esboçasse qualquer reação, a chuva acalmou e uma Hilux de cor Prata estacionou em frente à loja antes que a buzina fosse acionada a moça deu os primeiros passos para fora da loja, e com um olhar baixo pareceu me agradecer em silêncio. Em seguida entrou no carro e se foi.
Deixando na vitrine dos meus olhos um vazio, e o desejo de saber mais sobre aquela maravilhosa mulher que ali estivera e fez-me por quase duas horas, ser o mais perdido dos vendedores.
#Continua...