O barbante
Tamar Waisapy estava a caminho do mercado da vila, quando viu na beira da estrada, à sua frente, um pedaço de barbante colorido. Era listrado de vermelho e verde-metálico, e parecia ter sido usado para embrulhar algum presente. Como achou que iria parecer ridículo se fosse vista pegando algo atirado fora como lixo, olhou ao redor para ver se não vinha ninguém pela estrada. Não vendo ninguém, abaixou-se rapidamente e pegou o objeto. Ainda agachada, estava guardando o barbante na bolsa de palha, quando percebeu que alguém aproximava-se pelo sentido contrário. Ergueu os olhos e viu uma vizinha, Miriam Batubara, uma solteirona gorda de pele oleosa, que a encarava com as mãos na cintura.
- Tamar! Perdeu alguma coisa?
Contrafeita, a interpelada ergueu-se rapidamente, ajeitando a saia.
- Não, Miriam... achei alguma coisa! Uma coisa muito rara...
- Então, não pode ser dinheiro... - avaliou a outra.
- Melhor que dinheiro!
- Existe isso? - Questionou Miriam, curiosa.
Tamar exibiu uma ponta do pedaço de barbante. Miriam pareceu ficar decepcionada.
- Parece um barbante de embrulho de presente...
- Só parece. Na verdade, é um laço de amor perfeito!
E voltou a guardá-lo na bolsa.
- Se é um laço de amor perfeito, como está desfeito? - Ponderou Miriam, mão no queixo.
- O laço se desfaz quando alguém do par morre! - Retrucou Tamar. - E assim, pode ser usado de novo por qualquer outro casal.
- Amor perfeito... mas que tipo de amor é amor perfeito? - Atalhou Miriam.
- Amor incondicional - foi a pronta resposta.
- Gostaria de ter um amor assim - divagou Miriam, olhos nas nuvens do céu de verão.
- Pode ser seu... por apenas 2 milhões de rúpias!
Miriam arregalou os olhos.
- Com 2 milhões eu faço a minha feira do mês!
Tamar deu de ombros.
- Você que sabe. Aliás, estou indo para a feira... quem sabe, não há alguém lá interessado em comprar essa preciosidade?
Miriam pareceu inquietar-se com a possibilidade.
- Será? Olhe, Tamar... será que você não podia me vender só um pedaço do seu laço de amor perfeito?
Tamar mirou-a com ar crítico, fingindo fazer um cálculo mental:
- Pela grossura do seu pulso, acho que vai precisar de pelo menos uns 15 cm... por 500 mil rúpias, posso cortar nesse tamanho para você.
- Por favor! - Exclamou Miriam, sacando uma carteira de notas de sua bolsa e começando a contar o dinheiro.
Tamar pegou uma tesourinha de unhas e cortou um pedaço do barbante. Dinheiro e laço trocaram de mãos. As vizinhas despediram-se, muito satisfeitas, e cada uma seguiu o seu caminho.
Ao chegar à feira, Tamar viu o policial Zian Radja, que havia enviuvado recentemente. Aproximou-se dele, e com ar de mistério, indagou:
- Policial, já ouviu falar do laço de amor perfeito?
- [06-02-2017]