SEPARAÇÃO
E então ela parou de falar, uma lágrima escorreu por seu olho e então ela percebeu. Correu para o quarto, pegou a mala vermelha desbotada que ganhou de aniversário de 16 anos e que tinha prometido a si mesma que nunca a usaria para aquela ocasião. Como a vida tem o dom de nos surpreender. Pegou todas as suas roupas que estavam dentro do guarda-roupa, o qual tinham comprado juntos com a intenção de ser um começo para os dois. Não estava afim de ficar mais do que o necessário naquele lugar, doía pensar que não deu certo. Fechou a mala, decidida a não pensar nos momentos felizes, agora não era a melhor hora. Pegou a mala. Já tinha o suficiente, não sabia para onde iria, mas qualquer lugar seria melhor do que ficar ali. Foi em direção à sala, ele estava sentado no sofá com as mãos na cabeça, seu cabelo estava bagunçado o que mostrava que havia passado a mão nele várias vezes, um hábito que ela considerava sexy, principalmente quando estavam na cama e ela fazia algo que o deixava envergonhado. Ele levantou os olhos e automaticamente eles se dirigiram para sua mão esquerda, a qual segurava a mala e então ele entendeu o que estava acontecendo. Ela estava indo embora. E de repente o desespero tomou conta de si, começou a se perguntar o que deu errado, a noite tinha sido perfeita, eles tinham ido jantar em seu restaurante favorito, ela havia rido de todas as suas piadas, eles estavam bem, se bem que ele tinha notado que um pouco antes de pedirem a conta ela havia ficado distante, seu sorriso já não chegava mais aos olhos, era superficial, mas ele decidiu não perguntar, ela diria se houvesse um problema. Mas então eles entraram no carro e começaram a discutir, não conseguia se lembrar o motivo, mas lembrava-se de socar o volante e de gritar, não conseguia se lembrar das suas palavras mas sabia que não haviam sido boas. E então ele voltou a realidade, ela estava parada na sua frente, com a mala feita e prestes a ir embora. Ele se levantou e caminhou na direção da mulher que havia ficado ao lado dele durante anos. Ao vê-lo se aproximar seus olhos se encheram de lágrimas, e de repente ele estava a menos de trinta centímetros de distância e ela não sabia o que fazer, ele esticou a mão e tocou seu rosto, procurava formas de conseguir fazê-la ficar, mas no momento a única coisa que conseguia pensar é que estava desesperado para não perdê-la, mas ela afastou o rosto e foi em direção a porta. Sabia que se fosse embora não teria volta, olhou para ele uma última vez, determinada a guardar cada detalhe daquele rosto que havia sido seu amigo durante um longo tempo. Ele parecia perdido, assim como ela. Eles não queriam se deixar ir, mas ficar não parecia ser suficiente. E então ela saiu e pode ouvir um grito e logo em seguida um barulho de choro vindo do apartamento que antes era a sua casa.