Baratas

As baratas estão presentes na literatura de uma maneira expressiva, em G.H de Clarice Lispector ela tem uma participação importantíssima, no conto A Metamorfose de Kafka seu nome não é mencionado mas tudo indica que o inseto da estória seja a dita cuja.

Na indústria cinematográfica então elas ganharam mais papéis que muitos protagonistas, o mais conhecido foi o filme Joe e as baratas que fez muito sucesso nos anos 90, porque ali elas já tinham um tom mais engraçado e amigável o que distanciou o asco que as pessoas sentiam ao vê-las.

Mas elas também estão em nosso psicológico de forma associativa.

Bom comecei a falar...falar e nem me apresentei, me desculpem. Eu sou Malu. Na verdade verdadeira é Marília...mas eu sempre achei o nome forte demais, prefiro meu apelido, Malu. Me formei como jornalista e essa é minha primeira coluna e em homenagem a minhas amigas que sempre me deram força decidi escrever sobre nós.

Durante o ensino médio uma amizade verdadeira se firmou entre 3 garotas. Eu, Giselle e Paloma.

Giselle era a ruiva da sala e muito tímida, ela quase não falava, era mais de ouvir. Paloma estava a pouco tempo em Brasília, veio do Rio devido o trabalho do pai que era militar, eles viviam mudando, de nós três ela era a mais rebelde vivia aos turros com o pai..e eu Malu que era a mais comunicativa dentre nós, acho que herdei da minha mãe, ela sempre dizia "antes muitos amigos que um grande amor", falava assim por causa das constantes traições do meu pai.

Nós nos conhecemos quando o professor juntou a gente pra fazer um trabalho de História na sala e não nos desgrudamos mais. Um dia eu fiquei só em casa, meus pais iam passar o final de semana fora, então chamei Giselle e Paloma lá pra casa e claro comprei bebidas, e elas levaram igredientes para o cachorro quente.

Bebida vai..bebida vem, colocamos músicas, filmes e começamos a lembrar das cenas vexatórias da galera da sala e começamos a rir muito e claro de alguns professores também.

Foi quando lá estava na parede a famosa barata, enorme e brilhante.

Eu e Paloma subimos no sofá aos gritos. Giselle sequer se mexeu, daí eu disse pra ela matar a barata já que ela não tinha medo.

Pra minha surpresa e choque da Paloma ela disse que não podia, nós começamos a rir dela e ela começou a chorar copiosamente.

a gente desceu do sofá, eu perguntei; o que houve? Você está me assustando!

E após um longo período de choro ela disse pra gente que o convívio em casa estava muito difícil, os pais se separaram e a mãe dela passou a ser cada vez mais agressiva, que quando batia nela ela a jogava no chão e pisava em seu pescoço, nos contou que uma vez ela pisou na barata pra matá-la mas sentiu naquele momento que ela se tornou a mãe e a barata tornou-se ela, que de refém da barata ela passava a ser agressora. Um trauma.

Vimos que nossos problemas em casa não era nada perto dos da Giselle. Nós sentamos ali mesmo no chão e cada uma começou a por pra fora seus dilemas e traumas.

Os anos passaram, nos formamos, casamos, tivemos filhos e nessa caminhada estivemos sempre juntas uma dando a mão pra outra.

Estivemos juntas na alegria e na tristeza, tipo casamento. Não! Não, na verdade éramos mais leais até.

A Giselle superou os maus tratos submetidos pela criação da mãe e hoje cuida dela, mas ainda assim ela não consegue matar nenhuma barata.

Hoje sei que o que minha mãe dizia não é cem por cento verdade, mas que com certeza os amigos são pra eternidade.

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 23/01/2018
Reeditado em 23/01/2018
Código do texto: T6233676
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