Não podia ser. Impossível. Fiquei paralisado, sem ar, meu corpo tremia, queimava, minha vista escureceu e eu caí. Acordei com Caio e Pedro ao meu lado. Eles tentavam me consolar com palavras inúteis porque eu não ouvia nada. Meu amor, meu grande amor, a única pessoa que conhecia e entendia minha alma, estava morto. Lágrimas corriam no meu rosto e eu vomitei muito. Eles me abraçaram e choraram a minha dor.
- Ele perdeu o controle da moto e bateu num poste amigo - contou Pedro -
- Vou dar uma volta - decidi -
- Está chovendo muito - ponderou Caio -
- Não importa - rebati -
- Nós vamos com você - falaram os dois ao mesmo tempo 
- Não. Quero ir sozinho.
          Levantei e saí de casa, nossa casa. A chuva caía forte e se misturava com minhas lágrimas. Eu andava e chorava. Todos os nossos momentos passaram pela minha cabeça. Parei numa árvore e vomitei novamente. Olhei para cima e ouvi sua voz: O céu é imenso neném e quando a gente morrer, vamos continuar nosso amor lá em cima, nas nuvens. Gritei, gritei alto, gritei forte, gritei até ficar sem voz, sem forças e sentar no chão. Caio e Pedro correram ao meu encontro e me abraçaram. Ficamos os três alí na chuva chorando.
          A família de Eliseu tomou conta de tudo e a mãe do filho dele posou de viúva e heroína por ter nos braços a continuação dele. O caixão estava fechado pois ele estava muito machucado. Assisti ao enterro de longe e vi seu filhinho brincando sem ter a menor idéia do que estava acontecendo. Era a cara do pai. Senti uma imensa vontade de correr e abrir o caixão para ter certeza que eu não estava tendo um pesadelo. Quando todos foram embora, coloquei uma orquidea, sua flor preferida.
- Eu te amo muito meu amor.
          Dizem que quando encontramos nossa gêmea, só amamos uma vez. Eliseu era a minha alma gêmea. Decidi que nas minhas lembranças só teria lugar para nossos bons momentos. Aquela mulher pode ter tido um filho dele, mas eu o tive por inteiro.

Até um dia meu amor.
          Três meses depois encontrei forças para mexer nas coisas dele que estavam no meu apartamento. Nossas coisas: Roupas, fotos, bonés, sapatos, tênis, uniforme de trabalho. Tudo tinha seu cheiro e sua forte presença. Comecei a esvaziar sua parte, algumas coisas para doar, e achei escondido um LP, embrulhado para presente. Olhei por alguns minutos até que resolvi abrir. Era da Tetê Espíndola com a música "escrito nas estrelas" e a seguinte dedicatória: Quero dançar essa música agarradinho com você. Você foi, você é e sempre será o meu grande e único amor. Quer casar comigo? Do seu, para sempre. Eliseu.
          A voz de Tetê Espíndola invadiu a minha sala: Caso do acaso bem marcado em cartas de tarô. Meu amor, esse amor de cartas claras sobre a mesa, é assim. Signo do destino que surpresa ele nos preparou. Meu amor, nosso amor estava escrito nas estrelas, tava sim.
- Quero sim meu amor. Sempre serei seu. - respondi olhando sua foto - Casaremos nas nuvens.
          A morte não existe e tenho certeza que um dia vou reencontrar Eliseu, mas enquanto estou por aqui, tenho uma vida para viver. Amar novamente como eu o amo, jamais, tenho certeza disso, mas preciso seguir um desejo seu: 
- Tente sempre ser feliz neném, não importa o que lhe aconteça. - ele dizia -
          Totalmente feliz eu não garanto, mas vou tentar sim meu amor. Por nós.

 
José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 16/01/2018
Reeditado em 16/01/2018
Código do texto: T6228043
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