O jardineiro e a Tulipa
Talvez nenhuma outra flor gostasse tanto da presença do jardineiro quanto a tulipa, que ficava recuada das demais flores. Todas as vezes que ele chegava, ela desabrochava, ficava ainda mais radiante, mesmo com sua timidez e aparente solidão. Ele sempre cantava, sua voz era a melodia mais linda aos ouvidos dela, mais até que a de todos os pássaros em coro. Ela sentia vontade de rodopiar na frequência de seu timbre, porém lembrou com dor no peito que era uma flor e flores têm raízes, são estagnadas. Ficou entorpecida, murchou.
Teve um sonho; queria ser uma linda borboleta amarela, assim, poderia tocá-lo, beijá-lo, voar, rodopiar e ser distinguida por ele. Via mais beleza nas borboletas, pois além de serem aladas, elas têm vida, diferente da sua... Suas elucubrações duraram muito tempo. O jardineiro voltou para seus aposentos, pois tinha terminado mais um dia de sua linda missão; dar um pouco de vida àquelas que sempre são desejadas desde o nosso nascimento até à morte. A tulipa ficou procurando-o entre as flores, mas ele se fora... Ficou ainda mais melancólica, dormiu e sonhou; enfim era uma borboleta amarela, podia voar, dançar, entretanto não havia o canto do jardineiro, dançava em silêncio, sem ritmo, por mais que tentasse apanhar a música, não conseguia. O que não era mais sonho; pois como ser borboleta sem o seu jardineiro? Pensou e quis acordar, pois seu sonho não tinha sentido algum, jardineiros cuidam das flores, as borboletas são livres, assim como eles, elas apenas visitam os jardins. Tulipa era flor, assim pertencia ao jardineiro, isso a deixava feliz. Ele, porém um dia quis colher uma das flores para pôr no seu quarto, ela tremeu ao ver que poderia ser a escolhida, no meio de tantas cores, beleza e a indecisão, eis que ela fora (es)colhida, sentiu até seu coração sapatear de felicidade. Hoje ela se encontra entre seus livros, aos poucos fenece, mas era assim que ela queria se eternizar- nas letras, no papel, no quarto, entre os dedos do jardineiro e ao pé de sua doce voz.