Um filme de Hitchcock

Luísa Neves era apaixonada pelos filmes de Alfred Hitchcock. Assistira a todos, sendo que alguns várias vezes como, por exemplo: Festim Diabólico, Janela indiscreta, Os pássaros, Um corpo que cai e Psicose. Mas seu filme preferido do “Mestre do suspense” era Psicose. Ele mexia com suas emoções mais primitivas. Depois que assistira a este filme, passou a ter um medo irracional de tomar banho. Achava sempre que algum lunático entraria em seu banheiro, com uma faca, para assassiná-la, tal qual a clássica cena em que Norman Bates, vestido com as roupas da mãe, mata Marion Crane pelo fato de estar apaixonado por ela, mas não poder consumar a paixão, por causa da rejeição de sua mãe (um delírio dele já que a mãe está morta) à sua amada. Luísa morava sozinha, mas sempre fechava a porta do banheiro à chave. Ela residia em Copacabana e, ultimamente, o Rio de Janeiro não era um lugar tão seguro para se viver. Eram quatro horas da manhã, quando Luísa Neves chegou da despedida de solteira de uma amiga de infância. Ela bebeu além da conta, mas teve sorte de conseguir chegar em casa sem bater o carro, nem ser parada por uma blitz policial. Já em casa, tomou um copo de Coca-Cola e foi direto para o banheiro, sem trancar a porta à chave como sempre fazia. Devido à bebida, não tinha medo de nada, nem mesmo da morte. Luísa estava feliz com o futuro casamento de sua colega de consultório dentário e amiga de infância, Amanda Fuentes, mas com uma ponta de tristeza pelo término recente de seu noivado com o oficial da Marinha, Alex Lemes. Na despedida de solteira de Amanda, além de bolos, doces e bebidas à vontade, teve também show de strip-tease masculino. No momento em que o stripper vestido de marinheiro entrou no palco, a lembrança de Alex, ou Alê, como o chamava carinhosamente Luísa, foi inevitável. Durante o strip-tease, a dentista recordou-se, com lágrimas nos olhos, dos momentos felizes de sua relação com Alex. Lembrou-se de quando se conheceram no réveillon de 2019, num show dos irmãos sertanejos Victor e Léo, na praia de Copacabana, do beijo roubado que o moreno de olhos verdes dera nela durante a música Na linha do tempo (que eles cantaram juntos) e da explosão de fogos de artifício saudando o novo ano que chegava, que eles viram, em pé, bem agarradinhos. Vieram-lhe também à mente as brincadeiras que faziam um com o outro quando se encontravam no motel, o pedido de namoro aos pais dela, os aniversários comemorados juntos (eles faziam aniversário no mesmo dia), o pedido de noivado, após sete anos de namoro, e também o término da relação causada pela distância: ele morava em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul e ela em Copacabana, no Rio de Janeiro. A bebida diluiu a dor e o trauma causados pela separação de Alex, a quem Luísa Neves ainda amava. Com a mente bloqueada pelo álcool, Luísa tirou a roupa automaticamente e foi para o banho. Na banheira, com água tépida, a bela loira de olhos azuis quase adormeceu. De repente, a dentista escuta passos furtivos. Alguém vem em sua direção. Ela se assusta. Será que um maluco vai matá-la? Luísa se levanta da banheira o mais rápido possível, pega a toalha instintivamente e cobre seu corpo desnudo e, só então, ela vê “seu assassino”: Alex Lemes, seu ex-noivo, com um buquê de flores na mão direita e um par de alianças na mão esquerda, que lhe diz com um sorriso de felicidade: ― Casa comigo?

E Luísa Neves aceitou? Claro que sim! E, passados dois anos de um casamento muito feliz, ambos vivem na Europa, mais precisamente, em Madri na Espanha, onde ela, com 37 anos de idade, continua exercendo a odontologia e já não tem medo de deixar a porta do banheiro aberta e ele, com 45 anos de idade, largou o posto de Capitão-de Mar-e-Guerra na Marinha do Brasil para seguir seu sonho de infância: virar livreiro! (dono de livraria)

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 26/12/2017
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T6208603
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.