DESGASTE
DESGASTE
Ele nunca parou pra observar o quanto ela era linda ao sair do banho envolvida na toalha e que era um espetáculo vê-la nas pontas dos pés à procura do vestido. E como era encantador ver o tecido deslizar pelo seu corpo. Ele nunca reparou que quando ela sentava-se na cama pra prender suas sandálias os seus cabelos caiam como cascata ao longo de suas pernas.
Você já reparou que depois do amor, ninguém te ajuda a se vestir? É uma forma inconsciente de dizer que depois do ato é cada um por si.
Para ele era fácil lhe tirar as roupas, difícil era lhe cobrir de amor sincero.
E quando ela lhe disse com voz rouca um "eu te amo", sem resposta, o silêncio lhe feriu fatalmente o ego.
Ele lhe disse, certa vez que ela era amarga. Talvez o paladar não estava tão apurado e o gosto amargo viesse de dentro, dos beijos impacientes, das palavras inconsequentes e acabou por lhe imprimir na pele este sabor.
Hoje ele a vestiu pela primeira vez, despediu -se com um beijo amargo, lhe cobriu com as flores que nunca ofertou. Então engoliu á seco as doces palavras que tanto economizou.