A COLCHA
Celina tecia seus bordados todos os dias. Aprendera com sua avó, que aprendera com sua mãe e assim vinha como tradição passando para as moças da família.
Moravam numa pequena fazenda e os dias que passavam eram sempre parecidos com o anterior.
A moça não via expectativa de sair dali e sua alegria eram seus bordados. Neles viajava e realizava seus sonhos mais secretos. Fazia colchas desde os seus quinze anos. Linhas, lãs, agulhas, tesouras, dedal faziam parte da caixa de costura.
Depois de realizar as obrigações diárias. Sentava na cadeira de balanço na varanda, olhava para o horizonte e começava a bordar.
Estava a bordar uma viagem de trem, aonde os passageiros iam absortos em seus pensamentos, crianças a brincar, pais a chamar a atenção e um jovem solitário a descer na próxima estação.
O jovem descia, pegava sua maleta colocava o chapéu na cabeça e andava a procura do freguês. Era um vendedor de sonhos. Vendia tudo, conforme o sonho de cada um. Seu rosto era sereno, suas mãos firmes e confiantes, sua voz poderosa. Ia andando pela estrada e a todos que encontrava oferecia seu produto e os vendia com muita certeza da realização.
Celina esperava que o vendedor chegasse à sua simples moradia e oferecesse a concretização dos seus sonhos e ia bordando o rapaz com a sua mercadoria.
Os desejos das pessoas, na maioria se resumiam em bens materiais e ele os ensinava como alcançar conforme o esforço que fosse despendido para o alcance dos mesmos. Alguns pediam paz, outros encontrar a Deus. Esse era o mais simples, olha a sua volta que você encontra, dizia.
Nesse dia o céu estava lindo de vermelho alaranjado e azul esverdeado. Celina sentiu uma brisa perfumada no seu rosto e serenamente pegou seus apetrechos para iniciar o bordado da quarta colcha. Como sempre fazia olhou lá no horizonte e para sua surpresa viu o rapaz chegando com sua maleta.
Levantou imediatamente da cadeira, a colcha e a agulha escorregaram no chão, e Celina sorriu com brilhos no olhar...