BOB ONLINE
Bob era um rapaz online. Um jovem virtual que passava horas na frente de seu computador. Acordava tarde e antes de almoçar ligava o micro, a internet, para conferir quem estava no MSN, quem tinha entrado no seu orkut, quais os e-mails recebidos, etc.
Comia batatas fritas e voltava à máquina. Ali passava as tardes de sua vida anos após anos. Não lia livros, não assistia filmes, não jogava futebol, não caminhava até o supermercado ou padaria, o máximo que fazia era escutar músicas baixadas no computador. Pela parte da noite ia até a escola, sem vontade, mas na obrigação, por ordem dos pais. Chegava em casa por volta das 23h30min e se conectava na internet até os olhos agüentarem aquela rotina, até o sono lhe derrubar naturalmente.
Bob era infeliz e manifestava esse sentimento no seu olhar, nas suas frases, na sua expressão sombria e sem sorrisos.
Marcava encontros pela internet mas não comparecia nos locais. Dava desculpas online.
Na escola noturna pouco se comunicava. Anotava as matérias em um único caderno e passava em todas as provas sem problemas.
No computador navegava pouco em sites culturais e de informações, apenas jogava play de tiroteios e aventuras. Entrava às vezes em páginas de sexo explícito para se masturbar e corria numa Ferrari nos autódromos virtuais.
Um dia, no intervalo da aula, uma loira de olhos verdes, no bar da escola, disse que ele era lindo apesar de triste, e perguntou qual sua “doença”? Ele ficou pensando, e não soube responder. A loira insistiu e convidou o rapaz de 18 anos para levá-la até sua casa após a escola para conhecer seu quarto. Ele tentou dar uma desculpa mas ela não aceitou e insistiu. Disse que ensaiava esta fala há meses e não ia desistir. Bob acabou levando a colega até sua casa. Abriu o portão, atravessaram o jardim e subiram as escadas silenciosamente até o quarto. Bob ligou o computador e ofereceu a poltrona para a loira sentar. Pouco falava, ele só sabia teclar, tinha vergonha de sua voz, mas mesmo assim perguntou se a colega queria beber algo.
- Sim. Quero uísque, respondeu a menina.
Bob se surpreendeu, mas foi em busca da bebida na sala da casa.
O pai de Bob, ouvindo barulho de copos, foi conferir o que estava acontecendo. O rapaz disse que estava com uma visita e ela queria beber algo. O velho empresário achou estranho mas não discordou. Bob subiu as escadas. A loira agradeceu e bebeu uns goles antes de falar mais e mais.
Ela queria ver fotos dele, na praia, no campo... viram no arquivo “minhas imagens”, sentados na frente do computador.
Descobriu que ele não tinha feito uma pescaria, nem um gol, nem uma cesta. Que tinha ganhado o computador aos 13 anos e abandonado o skate aos14. Que pretendia cursas Informática e trabalhar com banco de dados e criação de sites para empresas.
Bebeu o último gole do copo de uísque e tirou a blusa. Bob viu pela primeira vez seios reais, fora do monitor do micro. Ela disse que ele podia tocar. Chegou perto do rapaz e encostou os seios em seus lábios. Ele, sentado na cadeira giratória de sua mesa, beijou os mamilos e agarrou a cintura da loira. Beijou seus lábios.
Bateram na porta.
Era a mãe querendo saber se estava tudo bem.
A loira vestiu a blusa.
- Tenho que ir embora, ela disse, me leva até a esquina da minha casa.
No caminho ela falou que queria ter outros encontros, mas que Bob deveria pegar o carro, emagrecer um pouco, levar ela para passear, ir num bar... e Bob concordou. No outro dia entrou na auto-escola, começou a ir à academia de ginástica e a visitar os sites dos bares e restaurantes da cidade. Pesquisou as páginas de motéis e não faltou mais as aulas na escola, onde encontrava a loira.
Tinha agora planos reais. A vida estava mudando. Deu adeus ao sexo virtual. Estava agora viciado no corpo real da loira. Umas duas ou três vezes por semana saiam para beber e foder. Por ele seriam todas as noites, mas ela dava umas desculpas.
A loira, de olhos verdes, deitada na cama redonda, nua, contou as notas de 100, e disse ao velho empresário:
- Curei seu filho! Vai lhe custar um pouco mais caro eu sair da vida dele sem deixar traumas, pois a paixão é a pior doença e exige uma terapia metódica. Vou me transformar aos poucos em mulher chata, indesejável, para que ele resolva me abandonar e ir a busca de outro amor, com experiência adquirida do universo feminino. Mas não se preocupe. Sou profissional!” – disse a loira que vestiu a roupa e foi ao encontro de Bob.
Ele já não ficava mais tanto tempo na frente do computador.
(Do livro OUTRAS VIDAS, 2010)