A Redoma e a Rosa: Cap. 04 – Ser cativado não é o mesmo que amado?
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
Antoine de Saint-Exupéry
Dudu –
Foi estranho sentir meu corpo reagindo com arrepios ao vê-la de óculos, por que aquele sentimento de alegria, ela caminha em minha direção, e um fantasma se sobrepôs em sua imagem, Gabriela caminhava mas não era ela que estava ali. Passei a viagem observando-a, como ela era familiar, as vezes encontramos com alguém que te lembra outra, isso é normal, o que não é normal é eu me encontrar com Gabriela e sempre ter sempre este mesmo sentimento. A visita ocorreu super bem, o almoço com todos foi bem harmonioso, difícil era eu deixar meu olhar sair daquele foco. Cada sorriso, cada palavra, cada movimento do seu corpo, nada era perdido, eu não entendia nem sabia mais o que eu estava fazendo Gabriela de óculos só não foi mais perturbador do que vê-la a correr pela praia de braços abertos. Estávamos no calçadão, a areia estava lotada de guarda-sol e pessoas, mas ela corria se desviando com facilidade, sua alegria era contagiante, Patrícia e o fotógrafo caminharam em seguida, fiquei para trás paralisado, o que eu estava sentindo não podia ser real. Caminhei em direção do seu corpo, apressei os passos, ela já tinha parado, por um momento eu quase gritei “Espera Gabriel!” mas não era o Gabriel, era a Gabi, ela admirava o mar, concentrada, seu rosto comum com aqueles óculos comum, tudo nela era comum, menos suas atitudes, sua alegria, sua fidelidade.
- Você sente uma paz quando olha para o mar?
- Parece que ele te acalenta – ela apenas respondeu, sabia que eu estava ali próximo a ela.
- Ele te acalenta?
- Sempre – ela nem piscou.
- Então você chora?
- Só quando não consigo ver meu futuro.
- E agora você consegue.
- Não consigo, mas eu sei que ele está lá, e isso me conforta – ela estava parafraseando o pequeno príncipe.
- Acho que eu também sinto o meu lá – já tinha entendido que ela era bem sensível.
- O mar é bonito, a areia da praia para mim tem a mesma beleza – ela então olhou para mim – o que você ver quando olhar para o mar? – olhar para ela tão próximo me deixou nervoso, mas sua pergunta tinha um significado, eu entendia, e minha resposta dependia da minha impressão, deveria então responder com base no livro, ou apenas dizer o que eu realmente sentia?
- O mar ele sempre me fascina por ter esta força incontrolável de mostrar que nada o detém e por isso concordei com você ao falar que sei que lá em sua grandiosidade o meu futuro. Mas Gabriela fiquei curioso e já que estamos aqui a filosofar, me diga, por que entre tantos livros na minha estante, você pegou em especial o do pequeno príncipe? – minha pergunta tinha uma segunda intenção, ela tinha inúmeras maneiras de responder entre as mais comuns, ela sorriu.
- Eduardo, prefiro não falar desse livro, ela me faz recordar alguém...
- Alguém que te magoou?
- Não, alguém que mesmo depois de grande continua o mesmo amável.
Ela se calou e saiu andando, de quem ela falou, como ela se recorda de alguém que é referido no presente. Ele sente está apaixonada por alguém. Ela apenas queria ficar sozinha e eu atrapalhando.
...
Gabi –
Sentada a mesa com meus amigos jantando, eu simplesmente não tocava na comida, apenas recordava os instantes em que estivemos juntos naquele sábado.
- Rei me conta uma coisa, é assim que você quando está apaixonado? – Nanda apontou para mim com o garfo.
- Se eu ficar assim, já sabe ou eu agarro o homem ou eu agarro o homem.
- Viu Gabi, tem que se entregar.
- Amigos, já falamos sobre isso, estou mais assim pois sinto que ele está desconfiando de mim, tenho medo dele descobrir sobre mim.
- Gabi, se você não quer contar para ele tudo bem, mas não deve ser uma coisa que você deva esconder, apenas fique na sua.
- Eu sei, vocês sabem muito bem minha história, o que eu sofri nas mãos daquele idiota, e sabe muito bem que eu não tenho vergonha de andar por ai, apenas não é fácil eu chegar para meu amigo de infância e falar...
- Ok, já sabemos, então vamos fazer assim, apenas esquece esse assunto, viva a sua vida, e esquece que o Dudu existe, e que apenas o Eduardo está lá. Seja profissional. – Rei pareceu sério.
- Sim, claro que eu sou profissional, não tem porque eu ficar sonhando com ele. O Dudu é passado.
Mas não foi bem assim pela manhã. A loja estava bem movimentada, eu de um lado para outro fazendo a conexão entre os sub gerentes e D´Assis e por final com o Eduardo, cada vez que eu entrava na sala dele e ele me encarava.
- Pode dizer.
- Dizer o quê? – ele pareceu espantando com minha atitude.
- Dizer o que foi dessa vez que me olhas tanto.
- Gabriela, é uma reação normal eu levantar a vista sempre que você entrar nessa sala, ou é você que está perturbada com alguma coisa?
- Noutro dia você disse que estava curioso por que eu estava de óculos, agora estou sem óculos, então, achei que estava curioso novamente, me desculpa se interpretei mal.
- Ok, relaxa, pode voltar ao seu trabalho. Ok – ele sorriu, e eu fiquei com cara de boba.
Mas antes de chegar a porta ele me para e meio que convida para almoçar com uma desculpa de discutir uma ideia, apenas concordei e sai.
...
Dudu –
Não jantei com a Cris naquela noite de sábado, ela não pode, estava muito ocupada, não a culpo, não quero parecer o mimado sentindo falta da namorada. Mas se ela estivesse ao meu lado naquela noite, talvez eu não tivesse pensado tanto na Gabriela. Isso já estava me incomodando, as vezes a gente tenta se conter mas simplesmente tudo volta a sua mente como se fosse uma tela, ela sorrindo, correndo em direção ao mar. Seu olhar distante talvez se lembrando de alguém, e era esse alguém que me deixava curioso. Alguém gostava dela e a faria companhia. Alguém iria beijar seus lábios e a ter nos braços. Quando me dei conta estava mordendo meus lábios, meu sangue fervia de raiva. Mas por que aquele agito todo, eu não tinha nenhum laço mais próximo com ela para está assim com ciúmes. Ciúmes?! Pela manhã eu irei está com ela, não poderei mostrar meus sentimentos, na verdade eu teria que bloqueá-los.
Como bloquear sentimentos que são testados a cada instante em que ela abria a porta do meu escritório naquela manhã de domingo. Não sei como eu parecia para ela, mas creio que estava parecendo um bobo pois ela notou algo depois de algumas entradas na sala
- Pode dizer – ela parada na minha frente, esperando eu responder.
- Dizer o quê? – procurei me manter firme.
- Dizer o que foi dessa vez que me olhas tanto.
Tentei explicar que era apenas uma reação normal, mas ela ainda me lembrou do outro dia quando falei dos óculos, afinal ela se lembrava de cada detalhe. Ela não pareceu contente com minha reação, mas voltou ao trabalho. Gabriela, era uma mulher perspicaz e inteligente, mas isso não era o que me cativava, era sua normalidade com quer falava comigo, isso nem a Cris sabia ser, digo isso pois ao observá-la estes dias pela loja e como ela interagia com os outros funcionários, ela se mostrava mais reservada e contida, diferente de quando estava a sós comigo, ela tinha uma confidencialidade que nós nunca tratamos em ter, era natural, eu podia sentir seu coração bater.
Antes dela sair da sala...
- Queria aproveitar o almoço para conversar com você sobre uma ideia, poderia ser?
- E é algo importante?
- Só uma ideia...
- Ok, tudo bem.
Ela não se mostrou incomodada, mas eu estava nervoso e agitado. Não era mais nenhum adolescente, já tive outras mulheres, mas por que então essa minha inquietação quando estava perto dela?
Próximo ao intervalo do almoço eu dei uma volta pelos departamentos e então avistei a conversando com homem alto, mais forte e mais maduro que eu, tinha um porte elegante.
Ela parecia bem intima dele, tocava no seu braço, ela sorria, e ele retribuía o sorriso, fiquei observando por um tempo e então ela olha o relógio do celular, fala alguma coisa para um dos vendedores e sai caminhando na companhia daquele homem. Espero um momento e quando ela desaparece, caminho em direção ao vendedor.
- Bom dia Senhor Eduardo.
- Bom dia, como é seu nome?
- Fabio. O senhor deseja alguma coisa?
- Era a senhorita Monteiro que estava aqui a pouco?
- Sim senhor, ela até pediu para avisar a gerencia que estava saindo para o intervalo dela.
- Estranho, ela saiu mais cedo.
- Sim, ela também disse isso, mas que retornaria antes.
- Ok obrigado.
Fiquei refletindo todo aquele intervalo de almoço, e minha conclusão foi, eu estava ficando maluco, pois nada que a Gabriela fizesse em seu tempo livre não era de minha responsabilidade, nem com quem ela andasse ou falasse, mas o motivo foi, ela marcou comigo e desmarcou em avisar. Isso me deixou irritado. Mentira. Eu estava com ciúmes, e minha raiva era justamente isso, eu estava com ciúmes. Com ciúmes de alguém que eu nem conhecia direito.
...
Gabi –
Eduardo me confundia, eu não ouvia ele falar de sua noiva, nem a via visitar a loja que um dia iria ser dela também, ele parecia interessado em mim, sua constante ronda me vigiando estava me deixando irritada, depois com aquele convite para almoço foi mais estranho ainda, não queria se enganar, queria manter o mais profissional possível, mas ele não facilitava, queria evitar aquele almoço, mantê-lo distante, e naquele inicio de tarde tive uma surpresa, um amigo do tempo da faculdade estava fazendo umas compras quando me avistou.
- Gabi?
- Pedro! Quanto tempo.
- Fazendo compras, como sempre... – ele veio logo me abraçando, ele tinha uma queda por mim, até chegamos a ficar uma vez.
- Trabalho aqui.
- Que legal, assim posso te ver com mais frequência.
- Está morando por aqui?
- Estou trabalhando num escritório aqui perto, e hoje tirei para ir as compras. De que horas você sai para almoçar?
- Deixa eu ver – peguei o celular, e vi que faltava poucos minutos, olhei em volta e avistei um vendedor.
- Fabio por favor avisa que vou sair para almoço mais cedo, dou desconto no retorno.
- Ok, pode deixar.
- Então Pedro, vamos.
Foi muito bom reencontrá-lo, ele estava solteiro ainda, e mais charmoso, conversamos e então sabendo que eu estaria livre depois das quatro, ele me convidou para ir ao cinema, e concordei. O Pedro era minha chance de tirar o Eduardo da cabeça, eu gostava dele, e ele era muito carinhoso. A principio eu não iria me jogar logo de cara, iria retribuir sua atenção e se rolasse algo a mais eu iria deixar.
A tarde na loja parecia tudo tranquilo, quando retorno a sala do Eduardo com alguns levantamentos, ele não me olha e apenas recebe os papeis sem me encarar. Não digo nada, seu comportamento mostrava que ele poderia está preocupado com algum assunto em particular, respeito seu momento e saio da sala, mas antes de fechar a porta ele fala.
- Poderia ter me avisado, eu te esperei.
- Desculpa senhor, não foi minha intenção, reencontrei um amigo e com a conversa esqueci...
Ele pareceu reflexivo, e depois falou com calma.
- Tudo bem, isso não tem importância, espero que tenha sido agradável.
- Foi sim, obrigado.
Fechei a porta e asai. Ele passou o resto do expediente na dele, e fecho no escritório.
Final de tarde em casa tomei aquele banho que qualquer mulher merece depois de um dia de trabalho, me preparei de forma especial.
- Vai matar quem hoje a noite? – Rei apareceu na porta do quarto todo curioso.
- Não se bate mais na porta nessa casa?
- Nanda vem cá, olha como ela está vestida, me diga, ela não esta parecendo com aquelas assassinas de lobos maus?
Nanda me olhou e depois falou bem séria.
- Gabi, você não se veste assim desde que a gente veio morar aqui com você, quem é o cara?
- Pedro, vamos ao cinema...
- Ao cinema com esta roupa, a senhora não vai... se olhe direito no espelho, saia justa, blusa com decote quase deixando os seis saltarem, nem se fosse para uma balada você iria assim. E tem mais o que está acontecendo?
- Realmente estou ridícula. Me ajuda que ele está chegando para me pegar.
- Você deu seu endereço para ele? – Rei ficou surpreso. O motivo, tínhamos combinados de não ficar dando nossos endereços para desconhecidos.
- Ele é um amigo da faculdade, é de confiança – avisei.
Depois de tudo, estava pronta, o Pedro chegou na hora. Ele parecia que estava também com segundas intenções, mas não dei bandeira.
Assistimos o filme, um drama romântico, nada memorável, mas aquele tipo de programa me fazia falta. Andamos por algumas lojas do shopping e depois fomos para um dos restaurantes. Estávamos ao lado do carro dele, no estacionamento, quando ele se dirigi para abrir a minha porta.
- O que o senhor pensa em fazer? – minha pergunta foi num tom irônico.
- Gabi, não seja boba, me deixa ser gentil contigo.
- Pedro, quando é que você vai entender que eu não curto esse tipo de romantismo.
- Sabe é por este tipo de comportamento que eu gosto mais ainda de você, me faz cada vez mais esquecer que você já foi um garoto antes.
- Viu, mais um motivo para você não querer abrir a porta para mim.
- Não é isso, veja bem, eu tinha parado de pensar em você depois do nosso ultimo encontro, aquele que você me disse toda a verdade, e eu fui deixado por você, me recordo bem que eu não tive a chance de te falar que eu não me importava, pois eu gostava muito de você...
- Gostava?
- Ainda gosto, e eu queria mais uma chance para te mostrar todo meu carinho por você.
Ele se aproxima de mim, sinto um frio pois pressinto a sua ousadia. Ele toca meu queixo. Fecho os olhos, não consigo revidar, estou paralisada. Talvez pelo fato de está carente, ou de apenas querer alguém e esquecer aquele que não pode ser meu.
...
Dudu –
Chego ao shopping, não sei bem ao certo para onde ir, nem qual filme ela foi assistir, procuro lugar para estacionar, se pelo menos a amiga dela soubesse de mais detalhes, pior foi a conversa dela de não querer me contar, como se eu fosse algum estranho. Estranho. Nós éramos estranhos, é verdade, mas foi curioso como ela me conhecesse, como se a Gabriela falasse de mim para ela. Finalmente encontro um lugar para estacionar. Ao caminhar em direção aos elevadores, me deparo com uma cena. Gabriela ao lado daquele homem, e ele está quase a beijando. Meu coração dispara, não consigo encarar o final, dou meia volta, entro no carro e saio o mais rápido possível.
continua...