ONDE ELA ESTÁ - CAPÍTULO XXVII – No ar esta noite
XXVII – No ar esta noite
04 de outubro de 2017
Queria perguntar a vocês se vocês já viram alguém se afogar? Em sonhos ou na própria sede, ou em algum lugar e não fizeram nada para ajudar. Se a resposta é sim, coloque Phill Collins – In the air tonight. E se a resposta é não, também
É impressionante como admiramos a dor alheia não é? No caso de Elisangela o impressionante foi o descaso alheio, muito por eu não ter sido sincero. Eu me lembro de nosso término oficial no dia 10 de abril de 2017, antes disso precisamos voltar uns dias atrás.
Eu tenho como um amigo muito querido do trabalho, Vine, não, ele não canta mexe a cadeira, quando Elisangela arrumou o emprego de madrugada, nós não tínhamos tempo para estarmos juntos durante a semana, pois eu entrava as 8 e saia as 18 e ela entrava as 19 e saia as 5:30, detalhe eu estava na zona leste e ela em Taboão da Serra, como teríamos tempo?
Eu e Vine sempre saiamos para tomar uma cerveja e falar sobre a vida, afinal os dois estavam putos com a situação que vivíamos, mas nenhum dos dois teve coragem para dizer para elas, e sabe como é a culpa é sempre de quem fica calado, porque consente. O fato de eu ficar muito tempo sem escrever, foi porque sei que você não está mais lendo e porque cartas para Portugal custam muita grana, isso não importa agora.
No dia 4 de Abril de 2017 eu tive uma visita na avenida Ibirapuera, ligeiramente próximo do Hospital onde ela trabalhava, ela me disse que sairia 16:00, mais ou menos o horário que terminaria minha visita e voltaríamos juntos para minha casa, mas ai do nada ela me ligou e falou que sairia de la as 18:30 porque faria o fechamento do caixa, Deus queira que tenha sido isso mesmo, eu não poderia esperar, ela sabia disso, pois precisava voltar para o escritório para entregar contratos e foi isso que aconteceu.
Cheguei no escritório as 17:15, entreguei o contrato que precisava, quando foi 17:40 Vine me chamou para tomar uma cerveja, fazendo os cálculos se ela sairia da Rubem Berta as 18:30, daria tempo sossegado de ir tomar uma cerveja com ele. Havia umas semanas que ela fora transferida e estava entrando no horário “normal” de trabalho.
Quando foi 19 horas eu vi que a bateria do meu celular tinha acabado, o que eu fiz? Peguei o celular do Vine e mandei mensagem para ela.
“More acabou a bateria do meu celular, estou aqui com o Vine do lado do trabalho, me responde aqui”
Ela respondeu OK.
Quando deu 19:30 eu liguei para ela e então ela me disse que estava a duas estações daqui, e eu disse “Ótimo, passa aqui e subimos juntos para casa” eu estava todo feliz, e ai veio a resposta.
“ Não vou passar em lugar nenhum, não sou obrigada a ver seu amigo bêbado, paga essa merda e vai pra casa” e se for mentira qualquer coisa que escrevi sobre nossa história, eu quero que meu órgão genital nunca mais suba. Afinal pela minha decisão formada ele não subirá mais mesmo.
Na hora eu levantei da cadeira para pagar, o problema é que na porra do bar tinha fila pra pagar, Vine também foi pagar para me deixar em casa.
Quando foi 20:04 Vine tinha me deixado aqui e as 20:00 havia uma mensagem dela para Vine escrito “Avisa o Vincenzo que ele pode ficar no bar, fui embora”
Eu corri até o metrô igual a um louco para ver se a encontrava, mas não. Eu poderia ter ido atrás dela até sua casa? Poderia, mas por algo assim? Eu espero de todo meu coração que nenhum Maurício ou alguém a tenha feito ficar até as 18:30 naquele dia. Todos que escutaram essa história me falaram a mesma coisa, “ ela nem saiu do metrô” E sabe o que é pior? No Domingo tínhamos feito amor incrivelmente, eu acordei de madrugada para fazer isso. Que se dane agora, minha medula e meu pulmão já estão deteriorados, quando se tem mielofibrose, então não ha mais com o que se preocupar, afinal segundo ela, cinquenta por cento de culpa do nosso termino é do Vine, e graças a prima dele, Desirre que mora na França e veio passar uns tempos aqui, eu serei pai sem nunca conhecer minha filha. To bem ou não tô?
Ah, Phill Collins é muito bom.
Vincenzo Ferrari”