Margarina (continuação IV)

Chego na empresa às 07h10, minha assistente ainda não chegou, percebo que ela está 10 min atrasada, espero que esse atraso seja uma exceção.

Fico na minha sala a espera do Ricardo, ele não deve demorar, costuma chegar sempre lá pelas 07h40 por aí.

Eu preciso falar com ele, o meu projeto, a minha carreira dependente disso.

Enquanto espero vou adiantando outros trabalhos secundários que estão na minha mesa, são maquetes, que apesar da importância para empresa em si, não tem o mesmo valor para mim. Os faço, pois é da minha incumbência fazer, mas faço sem àquela mesma paixão que eu fiz quando foi a maquete do meu edifício ou outro projeto que eu estava engajado.

Já são 07h25, e percebo que minha assistente acaba de chegar, ela nem imagina que eu já esteja na sala. Ouço o barulho da cadeira se ajeitando, ela ponto as coisa no lugar pra começar o dia. Resolvo então lhe dá um susto, devagarinho vou até a porta onde está sentada na sua mesa do lado de fora e falo:

- Bom dia, Raquel!

A menina tomou um susto que quase caiu da cadeira. Confesso que fiz esforço pra não rir, e mantive pose.

- Bom dia senhor Adriano, tudo bem com o senhor? - ela fala com voz ainda meia trêmula, tentando disfarçar o nervosismo.

- Eu estou bem, e você?

- Estou ótima, senhor - ela fala já se recompondo do susto.

- Ah, antes que eu me esqueça, não me marque nada antes deu falar com o Ricardo. E se tiver alguma reunião até as 09h00 desmarque a minha presença, a menos que a tal reunião for com o próprio Ricardo. Segure as ligações e a note os recados. Blz?

- Blz.

- Ah, e o por quê do atraso?

- ah é, é...então sabe... o trânsito - falou ela de súbito, como se chegasse essa ideia de repente e precisasse lançá-lá logo para que não fugisse da memória.

- Beleza, só trate de não tornar esse "trânsito" corriqueiro.

- O trânsito de São paulo? - Perguntou ela de forma irônica, mas logo percebi a gafe e esboça um sorrisinho amarelo.

Eu faço um olhar de desaprovação e volto pra sala.

Os minutos passam e já eram 07h40 quando eu ouço murmúrios de vozes vindo do corredor, era o Ricardo que esteva chegando com um séquito de bajuladores. Ele passou pela minha porta, falou alguma coisa com minha assistente, que eu ouvi ela dizendo:

"Direi a ele, sim senhor." Fico extasiado, como é o caso da necessidade, assim como eu, ele também queria falar comigo.

Mas o que será que ele quer comigo...

- Seu Adriano, o Seu Ricardo quer falar com você assim que possível.

- Irei lá agora, obrigado, Raquel.

Bem, chegou a hora...

Continua...