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SUSAN KAY QUATROCCHIO
SUZY 4

 
Era moleque piquititinho nove anos, lá pelos fundos do sul de minas, quando tive minha primeira decepção amorosa.
- Pai me paga uma viajem para os EUA?
- O que você vai fazer lá?
- Vou a um festival de rock...
- Quem vai te levar?
- Vou só! Já conheço os Estados Unidos...
- Uma criança com oito anos não pode viajar sozinho...
- Vou fazer nove em outubro...
- Também não pode, sei que alem da Disney você conhece Orlando e Miame, sei que com seu QI, se estudar vai conhecer por livros os Estados Unidos melhor que todos os Americanos da tua idade. Agora me conte a verdade, o que você quer ir fazer lá?
- Me apaixonei!
- Por quem?
- Uma cantora de Rock, linda, canta bem e eu quero namorá-la.
- Quem é?
- Suzi Quatro!
- Ela já sabe?
- Ainda não! Estou indo lá para pedi-la em namoro, também preciso falar com os pais dela, para trazê-la comigo para o Brasil.
- Não sei quem é minha nora, mas sei quem é meu filho, te amo muito e gostaria que mudasse de idéia, você é muito jovem e pode se machucar e não quero te ver sofrendo.
- Sei o que faço pai, então o senhor concorda?
- Quem vai te acompanhar?
- Eu peço para o Senhor Sebastião, apesar das limitações dele, eu cuido dele e ele me acompanha.
- Negativo, ele é motorista teu e de tua irmã, caso ele vá, tua irmã ficara a pé.
- Ela usa o Paulo, motorista da mamãe...
- Negativo! Ai tua mãe pega o Virgilio e quem ficará a pé serei eu.
- O senhor dirige, serão apenas alguns dias, por favor!
-Três condições:
Primeira: Tua mãe concordar.
Segunda: Quero uma carta dela, toda planificação da viagem, tipo hotel, taxi, passagens, tempo etc.
Terceira: Tua mãe te acompanha.
- Porra pai! Levar minha mãe para o primeiro dia de namoro?
- Olhe o termo chulo! É pegar ou largar!
- Ta bom! Eu pego.
Naquela época tudo era muito difícil, às vezes uma ligação dentro do município demorava ate uma hora para completar, uma ligação internacional poderia durar tempo suficiente para eu desistir do namoro.
Não havia fax, celular, internet, zap... Ou era carta ou era telegrama, meu pai me complicou, era mais fácil eu ir aos EUA pedir Suzy em namoro que planificar uma viagem para isto.
Lembrei do irmão do meu pai, o hoje Marechal Oliveira, naquela época um General morando em Brasília; liguei na casa dele e falei com minha tia e madrinha e pedi para passar uns dias com eles, ela adorou a idéia, meu pai pediu a um funcionário para me levar de ônibus ate Brasília, foi a noite toda chacoalhando.
Expliquei meu plano para meu tio e fomos para a sede do antigo SNI, onde procurei todas as informações que necessitava, ninguém desconfiaria de um pirralho de oito anos. Aproveitei a carteirada e fui ao consulado Americano com o ajudante de ordens do meu tio e renovei meu visto, voltei para Alfenas com tudo pronto.
- Papai, tudo pronto!
Meu pai olhou aquele monte de papel timbrado do SNI, tudo registrado, onde ela estava, com quem, aonde ia, o que iria fazer, quantas vezes foi ao banheiro, a que horas dormia, agenda de shows, horários, valores, pontos de escape, pontos de informações, nomes de informantes, previsão do tempo e para terminar o visto Diplomático. Pela primeira vez na vida escutei meu pai berrar.
- Puta que o pariu! Você deve ter sido inseminado por um ET, você não é deste mundo, com todo o dinheiro que tenho eu não consigo estas coisas...
Minha mãe entrou correndo na biblioteca e assustada queria saber o que estava acontecendo.
- Teu filho, se apaixonou por uma mulher Americana que tem a idade de ser mãe dele, para concordar eu dei uma missão impossível do meu pessoal resolver em no mínimo três meses, indo ate os EUA ele de Brasília fez tudo em dois dias, não sei o que fazer...
- Temos um trato, o senhor vai me levar aos EUA, ela é apenas dez anos mais velha que eu, o senhor é dez anos mais velho que mamãe, a situação é a mesma.
Fomos para os EUA, eu e minha mãe, quando chegamos a Detroit ate minha mãe ficou impressionada com a beleza dela, com a voz e com o carinho que nos recebeu, não me humilhou, não me destratou e nem me tratou como criança, mas firmemente não aceitou ser minha namorada, estava comprometida. Me deu a entender que o motivo era por estar comprometida, apesar de nos relatórios da arapongagem, não constar nada a respeito.
Minha mãe de tão impressionada até advogou a meu favor, dizendo que eu era superdotado, QI acima da media, apesar do tamanho tinha mentalidade de 20anos e o Brasil era um país de futuro, o lado brasileiro da família era quatrocentona, ela era descendente de alemães, éramos socialmente influentes etc.
Muito simpática, agradável, me deu um beijo e se despediu, então entreguei a ela um coração de papel (Bem infantil) escrito “If you can`t love me, then i`ll find another Love”“ Se você não me amar, vou procurar outro amor”.
 Voltei para o Brasil quebrado, só aceitei voltar aos EUA para estudar após seis anos, até hoje não tenho negócios nos EUA, vou muito pouco lá e nunca mais fui a Detroit, minha mãe depois achou que foi um erro e que fiquei traumatizado, por isto tantos amores complicados.
Quando fiz a idade que ela tinha quando me conheceu, dezoito anos, eu tirei meu doutorado, mandei um convite para formatura, gentilmente recusado por uma carta e no verso tinha a letra da musica, “If you can`t give me Love”, gravada no disco que seria lançado naquele ano.
 Eu já tinha minhas empresas, alem das empresas da família que ajudava a administrar, isto amainou um pouco a dor, ate hoje quase 50 anos depois ainda me abalo. Ela tinha sua carreira e seu sucesso como cantora já estava apagando, o de atriz continuou por alguns anos. Se tivesse vindo embora comigo com certeza estivesse bem melhor.
Sharapova que o diga...
 
Cesão
Enviado por Cesão em 17/09/2017
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