ONDE ELA ESTÁ - CAPÍTULO XVII - Perdendo minha religião

XVII – Perdendo minha religião

09 de Setembro de 2017, Lisboa – Portugal

Doni estava andando pela rua com a nova carta de Vincenzo no bolso, decidiu parar em uma cafeteria que tinha ali próximo, pediu um cappuccino e um salgado, tirou a carta um pouco amassada de seu bolso e começou a ler.

“São Paulo, 05 de Setembro de 2017

Olá, Doni. Hoje tive que me atrasar no trabalho de novo, pois vomitei sangue novamente, isso é um saco. Com dezessete dias escrevendo pra você, eu espero que você já tenha entendido qual é o real motivo de eu escrever essas cartas, caso não, ainda haverá mais algumas. Você já colocou em xeque sua fé ou sua religião? Então lá vai… R.E.M – Losing my relegion. Acredite ou não, quando ela me chutou a primeira música que tocou na minha playlist foi essa. Eu acredito que não é você quem escolhe a música, mas é ela quem te escolhe. Assim que cheguei em casa eu mandei a letra dessa música pra ela, mas ela nem deve ter lido, ela deve ter achado que fui eu quem escreveu e como ela odiava 90% das coisas que eu escrevia…

15 de janeiro de 2016.

Completamos um ano de namoro, e havíamos combinado de sair para jantar, onde tudo começou no Kenko. Eu estava participando de um processo seletivo na empresa que concede empréstimo para estudantes de faculdade, igual ao Fies. Eu teria a última etapa no dia 16, um sábado. Era só falar com a gerente, mas ai me ligaram e falaram que minha etapa final seria as 20 hrs do dia 15. Eu estava precisando de emprego, Liguei para Elisangela e disse o ocorrido.

Cara as palavras dela foram as seguintes:

“Você não dá valor ao nosso relacionamento, nosso dia de comemorar e você está me dizendo que uma empresa te chamou as 20 hrs para fazer entrevista? Esquece esse jantar, vai lá então com sua entrevista”

Nem o fato de eu chamá-la para ir comigo e depois ir jantar adiantou, então o que eu fiz? Isso mesmo, desisti da minha vaga para sair com ela. Eu amo essa menina, fomos jantar no Kenko e pedimos o rodízio, conversamos bastantes, eu me lembro que ela tinha vergonha de pedir as coisas, com medo que as pessoas achassem que ela comia muito. Cara que saudade disso tudo, como eu pude injetar toda a minha vida nela? Eu penso as vezes como naquele filme com o Nicolas cage “um homem de família” e se eu tivesse tomado outras escolhas, seria diferente? Cade aquele anjo pra me fazer ver.

O resto do jantar e dos dias, foram bons até aquele maldito 25 de janeiro de 2016, a data em que minha vida mudou por completa e não foi para melhor. Amanhã te conto.

Com remorso

Vincenzo Ferrari”

Doni terminou seu lanche, embrulhou a carta e pediu ao garçom, uma cerveja escura.