Irmã Paola decidiu dar nova direção à sua linha de trabalhado, afastou-se da assessoria ao Conflito dos Guajajaras e desligou-se da Escola Brasil Grande, para assumir  missão evangelizadora em países da África. Ali, curou a ferida alheia e  com a alma na mão, guardou as suas dores na gaveta. Por qual espírito estaria sendo movida agora? Por que lhe vinha à mente o projeto de casar e ter muitos filhos? ‘Deixe-se conduzir pelo Espírito’, dizia, tomando para si as palavras do Apóstolo. Mas, também está escrito: ‘O homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher...’  A ideia pareceu absurda: casar com um jogador do Saint-Ettiénne, um brasileiro que conheceu na sala de embarque do aeroporto no Rio — e mais novo que ela? Não, não poderia sequer pensar nessas coisas, mesmo porque, embora  Américo a tenha cortejado com redobrada atenção, não lhe fizera nenhum  pedido de namoro. Nem poderia! Ela era consagrada a Deus com votos de pobreza e castidade. ‘Pode um homem tomar para si a esposa de Deus e não ser culpado de morte?’ Não figurava em seus planos morar na França. Seu projeto para o futuro seria voltar às raízes, fixar residência na Itália. Escrever livros, muitos livros.’
 
Compreendeu que a vocação para a vida consagrada é dom de Deus e alcança casados, viúvos, solteiros, velhos e jovens. ‘O próprio Deus  convoca-os junto a si por sua Palavra, por seus sinais que manifestam a vontade de Deus.’  Sabia também que o  matrimônio é vocação. Cabe, pois,  ao batizado seguir   o caminho apontado pelo  dedo de Deus. 
Reclinou a poltrona, e acomodou-se para dormir, mas o sono era interrompido pela  ideia de   abandonar a vida consagrada.
***
Comentário:

Amigo meu! Você me colocou de freira? Confesso que falta pouco!...  Paola Rhoden. 21.11.2010. Portal Literal.
***
Adalberto Lima, fragmento de Estrela que o vento soprou.
Reeditado em 07.09.2017