AMOR DE SALVAÇÃO.
- William Roco, esse era o seu nome, lembro-me bem do jovem. Era um aluno comum na escola, embora não tivesse muitos amigos e o fato de estar sempre sozinho, não o fazia muito diferente dos demais alunos do Anacleto de Sá. Suas notas pelo que me lembro eram até razoáveis, nenhum outro professor havia reclamado dele. Eu sempre lecionei educação artística, o William tinha um talento nato para o desenho, era sem igual. Ele era baixo, porém, de ombros largos, com braços fortes.
- Como tudo aconteceu exatamente.
Perguntou-me o delegado Claus.
- Para que o senhor entenda eu terei que contar a história desde o início, ou seja, a semana de artes. Uma exposição de desenhos e esculturas que faríamos na escola.
- Tudo bem professora Ana, prossiga com o seu relato,contando a história desde o início.
- A diretora da escola, Claudete, teve a ideia de fazer uma exposição de artes, desenhos e esculturas em argila. A princípio com os alunos das oitavas séries, apenas o aluno William havia ficado de fora, bem que tentamos convencê-lo, mas foi inútil, até que, apareceu a aluna Azira e tudo mudou.
- Quem é essa aluna Azira?
- Ela era uma aluna nova doutor Claus, fazia poucas semanas que ela estava na escola, veio transferida de outra escola de uma cidade próxima, uma jovem extremamente bonita e muito inteligente.
- Ela também participaria da semana de artes?
- Sim delegado Claus, ela veio a mim pedir para participar da semana de artes. Foi nesse dia que o William a viu, e se interessou pela semana de artes assim de repente. Ele não desgrudava os olhos da aluna nova, acho que começou a gostar dela, coisas de adolescente doutor.
- Sim claro eu sei como é, eu tenho um filho adolescente em casa, sei bem como são.
- Então doutor, foi fácil de notar, o pobrezinho não tirava os olhos dela, fez desenhos de seu rosto aos montes, e belíssimos por sinal. Até aí tudo bem, normal, o problema foi quando o antigo namorado da Azira apareceu. Thor, o filho de um vereador da cidade onde ela morava antes, acho que foi por esse motivo que mudaram para esta cidade. Ele começou a seguir a moça desde então. Azira queixou-se com as amigas e elas me contaram tudo.
- Muito bem, esse moço, o Thor, ele seguia a aluna Azira? Você saberia dizer-me se o moço a agrediu alguma vez, ou qualquer coisa dessa natureza ?
- Agredir eu acredito que não, se fosse as meninas teriam me contado, mas ameaças sim, ele fez várias. Disse que se ela não retomasse o namoro se vingaria dela.
- Como então se deu a aproximação da aluna Azira e o aluno William?
- Deu-se da seguinte maneira: Durante a aula de educação artística, deixei os alunos um pouco à vontade, alguns conversavam outros faziam desenhos. O aluno William ficou separado do grupo na última cadeira da sala, a aluna Azira aproximou-se dele sem que ele notasse, ele levou um tremendo susto e ela também, foi até engraçado, quando ela percebeu o desenho que ele havia feito, ficou admirada. "Nossa William você desenhou meu rosto direitinho que lindo parece coisa de artista" disse ela. O aluno William ficou muito envergonhado quase não falou naquele dia.
- E depois disso o que aconteceu?
- A amizade do dois foi florescendo aos poucos como uma flor ao desabrochar, pouco a pouco, desenho a desenho, William foi perdendo a timidez até se tornar o grande amigo da Azira. Ela o convenceu de participar da semana de artes que se aproximavam não me restava dúvidas, um grande amor começava a nascer entre os dois.
- Houve uma resposta por meio da garota?
- Não verbalmente, mas nos olhares sim, afinal, os olhos muitas das vezes dizem mais que as palavras.
- E quanto ao antigo namorado houve alguma reclamação dela ou das amigas?
- Teve uma ocasião apenas que presenciei uma discussão dela com outro rapaz na praça próxima da escola, nem passou pela minha cabeça que era o tal rapaz.
- Muito obrigado professora Ana, pelo seu depoimento e a sua disposição em cooperar conosco.
A professora Ana retirou-se visivelmente emocionada, o delegado Claus pediu para chamar a próxima testemunha, a melhor amiga da Azira, uma jovem por nome Katniss. Um pouco assustada com o ambiente da delegacia ela senta-se de frente ao delegado Claus.
- Katniss esse é o seu nome, correto?
- Sim senhor.
- Como era o seu relacionamento com a jovem Azira e o jovem William?
- Eu fui sua primeira amiga desde que ela chegou à escola, já o William nos conhecíamos a muito tempo, mas nunca trocamos mais do que cinco palavra. A Azira é inteligente e muito comunicativa se dá bem com todo mundo, deve ser por isso que o William se apaixonou.
- O que ela te disse do antigo namorado?
- Não muita coisa, apenas que ele era muito pegajoso.
- A jovem Azira demonstrou algum interesse no jovem
- Não exatamente, mas para que o senhor entenda tenho que lhe contar algo. Dias antes da semana de artes, estávamos conversando durante o intervalo, de repente a Azira é surpreendida com uma rosa dada pelo William, uma rosa vermelha linda. Azira não sabia o que fazer de tão emocionada que ficou. Ele a entregou a rosa e lhe deu um beijo no rosto, ela toda ruborizada esboçou um tímido sorriso, foi algo inusitado.
- Ela não disse mais nada para ele?
- Não.
- E quanto ao ex-namorado pelos meus registros ele a perseguia, você confirma isso?
- Sim doutor, aquele antipático a seguir diversas vezes, alguns dias depois da Azira ter recebido as rosas eu há vi um pouco triste cabisbaixa, ela me disse que o seu ex-namorado a viu saindo da escola com a rosa, isso o deixou enfurecido. Houve também outra ocasião em que estávamos na praça conversando, eu e a Azira, foi quando aquele estúpido apareceu, começou ali um desentendimento, uma conversa mais exaltada de ambos, tentei apaziguar, mas aquele estúpido me empurrou jogando-me no chão. Nesse momento o William passava pela praça quando ele viu a cena correu em nossa direção para ajudar.
- O que exatamente ele fez?
- Brigaram ali mesmo, mas como o William é mais forte obteve vantagem.
- O que fez o outro jovem, o Thor, é esse o seu nome correto?
- Sim senhor, é esse o nome dele, aquele crápula. Só uma pergunta doutor, ele será preso?
- Baseado no que temos no boletim de ocorrências que você e sua amiga fizeram, mais as ameaças que sua amiga conseguiu gravar, tudo está caminhando para isso, resta apenas mais um depoimento.
Carlos era o zelador da escola, um senhor simpático que a todos ajudava, e todos lhe devotava um tremendo Respeito. No dia do crime teve que sair para resolver algo, os alunos já havia saído, ele teria que ir até a loja de materiais de construção para comprar uma boia nova para a caixa d'água da escola, escolheu um atalho para ganhar tempo, quando ouviu um som estrondoso, e de longe alguém sendo espancado, imediatamente ele chamou a polícia.
- Por favor, sente-se senhor Carlos.
- Em que posso ajudá-lo delegado Claus.
- Conte-me o que você vil naquela quarta-feira a tarde, quando o senhor ia até a loja de materiais de construção.
- Eu tinha que comprar uma boia nova para caixa d'água da escola, e estava com pressa, resolvi pegar um atalho, pela rua Amaral Alfredo ao entrar no início da rua ouvi um barulho alto como tiro, bem mais a frente há uns cem metros avistei dois jovens surrando outra pessoa quando me viram saíram correndo. Percebi que um deles deixou cair algo que escorregou para o bueiro.
- O que o senhor fez em seguida?
- Chamei a polícia e o resgate.
Nesse momento entra na sala do delegado um policial com uma pasta nas mãos.
- Delegado Claus, chegaram os resultados da perícia e da balística, o revólver era mesmo do jovem Thor, coincide com o projétil retirado do jovem William.
- Obrigado Igael, vou anexar ao caso e emitir o mandado de prisão imediatamente para o jovem Thor, já temos tudo o que precisamos, vou dispensar as testemunhas, por favor.
- Tudo bem doutor.
Minha alegria foi imensa, finalmente aquele monstro iria para a cadeia, eu saí rapidamente para o hospital ver o William ele teria alta, eu queria ser a primeira a lhe dar as boas novas. A semana de artes aconteceria uma semana depois, a diferença é que o William seria o homenageado. Seus desenhos foram o tema da exposição, sobre a desenfreada violência entre os jovens. Nosso namoro aconteceria logo depois, afinal, foi inevitável.