Não acredito!
A magnanimidade da vida também nos trai algumas vezes. Isso porque preenchemos de encanto o olhar do outro ou esperamos que façam o que nós faríamos.
A pressa de viver nos consome diariamente. A lista de tarefas para se fazer antes dos cinquenta aumenta depressa, e a cada dia é um dia a menos na contagem do tempo.
O amor não tem pressa. Amor é calmaria. Amor é espera. Amor é entrega. O amor não se espera, é completamente inesperado!
O amor é um sentimento gratuito, singular. Não é justo compará-lo a outro qualquer.
Eu já vivi o amor de perto. E, por fim, fiz um pacto comigo: abandonei alguns vícios que me faziam mal, e aprendi a gostar somente daquilo ou quem me faz bem.
Mas aí... Enquanto tudo fluía bem... No meio do meu caminho...
Encontrei um homem, no meio do meu tumulto pessoal, que sabe como tratar uma mulher. E, sorte a minha, esta mulher sou eu.
Esqueci sonhos que me entristeciam e abri mão de lembranças doloridas. Tratei de voltar meus pensamentos e ações para a realidade: pode até doer depois, mas agora é mais prático.
Então, acho que posso olhar para o mundo e pessoas de uma forma menos crítica, embora não esteja conformada com a banalização do amor. Apenas admiro meu horizonte por um novo ângulo. E já começo a revelar minhas novas percepções, não por minhas escritas, mas por meus atos.
Mas seria eu uma mulher decorosa o suficiente para amar um homem por inteiro? Sobretudo, tão repentinamente?!
Fazer do todo seu objeto de amor? [ e prazer ]
Pois eu digo que amo desta forma. Completa e intensamente. Só aprendi a ser assim.
Amo todas as partes do meu amor. Posso chamá-lo assim. Problema meu.
Porque seria muito fácil amar só um único pedaço ou dois, que seja.
Seria mais fácil ainda amar sua generosidade e cuidado.
Seria muito fácil amar só os olhos. Principalmente se os olhos são assim, como os dele.
Seria muito fácil amar só a pele lisa e morena e cheirosa e seus cabelos negros, organizadamente penteados. Muito fácil!
Fácil amar a sua voz rouca e firme ao pé do meu ouvido.
Digo que seria fácil amar suas mãos, nem tão grandes, nem pequenas, que quando me seguram, alcançam até a alma.
Bem fácil seria amar aquela boca. Ah, a boca... O que direi da tua boca? Apenas que não me canso em calar-lhe.
Absurdamente fácil amar tua nuca, ainda mais quando, saciada, desço até as costas e lá repouso.
É assim que se ama de verdade. Só sei amar se for assim, de verdade.
E eu sei, porque amo tudo: o sovaco fedido, o único cravo que ele tem. Ah! E também o bafo, que eu beijo sem mesmo escovar os dentes antes.
Amo aquele pé, desalinhado e todo estranho. Amo até as tuas unhas mal cortadas.
Amo o espirro totalmente fora de hora. Amo o grito assustador quando o Flamengo faz um gol. Amo, até mesmo, a mania irritante de querer saber de tudo.
Amo uma risada aguda e estrondosa.
E aquele cotovelo ressecado? Se não fosse pelo braço que amo, arrancava fora.
Amo, sem pestanejar, pernas magras.
Já não suporto minhas constantes crises de saudade.
Já não me reconheço mais quando ansiosa quero que venha me ver.
Chega!
Foi Caio quem disse: “Não, meu bem, não adianta bancar o distante. Lá vem o amor nos dilacerar de novo…”.
E antes que eu morra estralhaçada: pegue suas coisas e suma da minha vida!