“Que pena que você não veio”
Anos dourados.
Éramos muito jovens.
Cursávamos o 1º ano da Escola Técnica de Contabilidade.
Algumas vezes saíamos com a turma e curtíamos um papo legal em algum barzinho ou na praça central da pequena cidade.
Em muitas ocasiões íamos à danceteria do clube local.
Falávamos sobre o futuro, e assuntos que nos empolgavam àquela época dos verdes anos.
Beatles, Rolling Stones, Barão Vermelho e Jovem Guarda...”um papo legal, mora”
Todos conheciam quase todos na minúscula cidade.
Nas “soirées” dos finais de semana as mesmas garotas, os mesmos garotos.
Apenas bons amigos, a maioria não tinha namorada(o).
Haviam porém, dois locais misteriosos que atraiam os jovens.
Os internato feminino administrado pelas freiras sisudas e retrógradas do Colégio do Socorro e o masculino, o Champagnat, administrado pelos irmãos maristas, estes um pouco mais maleáveis.
Era muito difícil a comunicação com a(o)s jovens dos internatos, especialmente o das freiras.
Certo dia, sob o comando e supervisão ferrenha das freiras, houve uma campanha de arrecadação de livros e revistas para a biblioteca do colégio Socorro.
Devo confessar que n’uma ocasião, conversei com uma garota do internato.
Ela era de Belo Horizonte, uma mineirinha fantástica!
Tivemos um encontro casual e agradável no consultório de um dentista.
Loira lindíssima, simpática e tímida.
Ah!... ela estava acompanhada por uma supervisora do colégio e nosso diálogo foi formal e de pouca duração, mas senti que nossos olhares e angelicais sorrisos falaram mais alto.
Bem, na campanha do livro tive o prazer de atender a porta de minha casa.
Era ela, acompanhada de outras garotas e naturalmente, da megera de preto.
Com um sorriso encantador, explicou-me sobre os objetivos da campanha.
Cedi alguns livros à elas e entreguei um nas mãos da garota (o título era:”Quer dançar comigo?”).
Sem que a supervisora percebesse, deixei um bilhetinho na primeira página e passei às mãos daquela menina linda.
Recadinho apaixonado no bilhete: “ preciso conversar contigo no mesmo lugar que nos encontramos da primeira vez. ...vou estar esperando por ti!”
Na semana seguinte eu estava no consultório do dentista, cedi meu horário para diversos clientes, estava ansioso...
Passaram-se algumas horas e ela não apareceu.
Soube mais tarde por uma amiga em comum que o bilhete caíra nas mãos de uma freira satânica que a impediu de ir ao dentista naquele dia.
Fiquei muito triste e só pude lamentar profundamente:
“QUE PENA QUE VOCÊ NÃO VEIO”