Quarup
 
Tudo foi muito rápido, pode-se dizer que tenha sido instantâneo, num átimo vi-me numa grande festividade cultural e esportiva, homens carregavam toras de madeiras nos braços, correndo, numa demonstração de força, agilidade, poder e respeito. Respeito sim, pelos seus mortos. Via-me no meio da festividade do Quarup, numa tribo junto ao Araguaia.
 
O inusitado: eu também estava nu, no corpo e na alma. Explico: estava me sentindo extremamente incomodado em mostrar minha nudez.
 
Meu corpo, que foi, desde cedo, acostumado a ser tampado, com cueca, calça e camisa, num repente, mostra-se exposto aos olhos de todos, que esmiuçavam tudo, isso mesmo, procuravam na minha pequenez varonil, comparações com grandezas alheias...
 
Custei a me acostumar a ser eu mesmo, apesar das minhas dimensões diminutas. Lembrei, naquele momento, que mesmo assim como sempre fui, e apesar de tudo, eram com esses recursos, que conquistara prazeres imensuráveis; então, no momento em que assim pensei, num passe de mágica, passei a me assumir, a me sentir maior que todos os outros, como se fosse um padrão a ser copiado pelos demais, um verdadeiro benchmark.
 
Deixei de me observar e olhei o mundo à minha volta; as mulheres pintadas para a festa, em vermelho e preto, me fizeram lembrar outra festa, a da arquibancada rubro-negra no Maracanã.
 
Em fila, ao som dos tambores, elas desfilavam na minha frente, até que uma delas, menina nova, ainda, num impulso de ousadia, olhou bem dentro dos meus olhos, e arremessou seus seios nus sobre o meu peito.
 
Nesse momento acabou a festa do Quarup, acordei.