Descanso de lance

Ela me disse que não tinha nenhum problema com falta de intimidade, desde que houvesse química, e que não via nada demais em sexo casual, tomadas as devidas precauções.

- Preservativos, etc?

Mais do que isso. Ela só procurava esse tipo de situação quando não estava envolvida permanentemente com alguém. Exceto se fosse um relacionamento aberto, e se isso houvesse sido colocado de forma clara entre ambos.

- E não é arriscado? Você conhece o cara numa balada, ou pelo Tinder, vai até um motel desconhecido, ou mesmo, como no meu caso, o apartamento dele...

Era preciso confiar na própria intuição, declarou. E, claro, avisar alguém de confiança onde estava indo. E o nome do sujeito - se julgasse que isso era importante.

- E o dia seguinte?

Nada de esperar flores ou mesmo um telefonema apaixonado. Até, porque, normalmente não daria seu endereço a alguém que acabara de conhecer e que provavelmente não tornaria a ver de novo. Exceto...

- Exceto?

Se fosse algo excepcionalmente bom. Não acontecia sempre, o sexo era quase sempre assim-assim, o suficiente para aliviar a tensão e preencher o vazio existencial por um curto período, nada mais. Mas uma vez ou outra...

- Merecia um repeteco?

Uma segunda chance. Até para provar que a primeira não fora um feliz acidente de percurso. Mas, com muito cuidado, para não correr o risco de entrar novamente num relacionamento dependente. Jurara para si mesma que nunca mais ficaria com alguém apenas para não se sentir só. Portanto, uma noite era quase sempre suficiente.

- E quais são seus sentimentos em relação a isso?

Certamente, não era algo de que fosse fazer ampla divulgação, mas também não se sentia envergonhada por procurar um pouco de prazer à moda masculina, sem consequências nem remorsos no dia seguinte. Tinha lá as suas compensações. E, sabendo escolher com cuidado - e tomando cuidado com a bebida - dava até para ser... prazeroso.

- É o nosso segundo encontro e não sei se vai haver outro, - comentei, entregando-lhe o presente que comprara - então achei que devia lhe dar algo para se lembrar. Não de mim, em particular, mas de uma fase da sua vida.

Ela recebeu a embalagem com ar de surpresa. Apertou-a entre as mãos, e depois a abriu, com cuidado. Seu rosto se iluminou.

- Um descanso de lance! Que lindo!

Na pequena almofada azul, estava escrito em letras brancas: "eu não acredito em sexo casual, pra mim são testes de elenco; se você não receber uma ligação no dia seguinte, é porque não pegou o papel".

- Adorei! - Declarou, sorridente.

- [20-06-2017]