FIM DE OUTONO
A tarde segue chuvosa, enquanto os passantes buscam abrigo nas marquises e pontos de ônibus. O movimento é crescente. É a famosa hora do rush quando as pessoas saem das escolas, empresas, casas, igrejas, deixando o recinto ou entrando nele.
As folhas caem das árvores formando um úmido e escorregadio tapete, mas nada disso tira a beleza da calçadas por onde todos passam. O tapete é colorido com folhas de todos os matizes, dando uma pálida alegria naquele final de tarde e início de noite longínquo.
Antonieta Vasques desce do ônibus e caminha rápido em direção ao corredor que leva aos casarões que foram transformados em apartamentos. Todos os dias a rotina é a mesma.
Antes mesmo de abrir a sombrinha que tira da bolsa, percebe Henrique Mackenzie, seu misterioso vizinho, ao seu lado com um enorme guarda-chuva que pode abrigar os dois.
Sem muitas palavras oferece abrigo para a bela mulher que sorrindo, guarda a sombrinha e aceita o braço que a resguarda sob o guarda-chuva.
Chegando ao casarão onde moram, despedem-se na portaria e cada um vai para o seu apartamento.
Reservada e tímida, Antonieta tem vontade de convidar o vizinho para um café, mas a vergonha a impede. Afinal foram três vezes que ele lhe oferece carona e nada mais.
Mas observa que ele está sempre pronto a oferecer uma carona e até mesmo carregar suas compras quando passa o mercado ou na confeitaria.
Enquanto seguem juntos sente o perfume amadeirado que a abraça juntamente com o forte braço que a protege dos encontros com os transeuntes. Será que algum dia terá coragem de convidá-lo para entrar?
O que a mulher desconhece é que ele vem fazendo isso há um bom tempo por interessar-se por ela, mas também a timidez e o sofrimento do passado impedem sua investida. Mas não impediu, no seu calado, de observar sua rotina para encontrá-la no exato momento em que ela chega do trabalho e vai a confeitaria da esquina justamente a tempo de trazê-la sob o seu guarda-chuva. Naqueles breves instantes sente o perfume marcante, uma mistura de pêra e flores, que sai do seu corpo e dos longos cabelos. A conversa que trocam é simplesmente sobre o tempo e o frio que se avizinha e as notícias do jornal. Nada íntimo nem sedutor, mas que tem uma enorme importância para ele.
Já observou também que ela sempre chega só e nunca a viu sair com ninguém. Espera que um dia tenha coragem de convidá-la para entrar.
A decisão foi tomada de comum acordo, mesmo estando cada um com seus pensamentos. Decidiram que não passa de hoje o convite. Antonieta, ao saltar do ônibus foi diretamente para a confeitaria onde comprou frios, salgadinhos, doces e uma garrafa de vinho. Enquanto isso, Henrique prepara tudo em sua casa para convidá-la para entrar. Salgadinhos, frios, vinho, doces e um café que acabara de fazer antes de ir buscá-la como se tivesse saída para comprar algo.
Quando prepara para sair da confeitaria esbarra em Antonieta com suas compras e querendo abrir a sombrinha para ir para casa.
_Oi, boa tarde, diz ele sorrindo. Que coincidência encontrarmo-nos aqui. Vamos juntos sob o meu guarda-chuva. –convida o homem com sorriso radiante.
_Oi, que bom encontrá-lo. – devolve a mulher também com sorriso luminoso.
Caminharam em silêncio e quando chegam na portaria de casa dizem ao mesmo tempo: _Não gostaria de entrar?
Diante da coincidência caem numa alegre gargalhada.
_Vamos para o meu apartamento porque o meu lanche já está pronto. – diz ele rapidamente.
_Perfeito, porque o meu está aqui nas bolsas para ser arrumado. – diz ela feliz.
Ele abre a porta e pela primeira vez Antonieta vê o interior do apartamento de frente ao seu e passa a conhecer um pouco do vizinho misterioso. Com design parecido com o seu e mesmo tamanho, ela sabe por onde ir para chegar à cozinha. Chegando lá coloca suas coisas sobre o grande e luxuoso balcão.
_Gostaria de ir ao lavabo. – diz ela sorrindo.
_Fique à vontade enquanto termino de arrumar as coisas. –diz Henrique com galanteria.
Ao sair, Antonieta mais tranqüila vai direto a cozinha sentindo o cheiro do café que está sendo passado.
Ele a acolhe gentilmente e puxa a cadeira para ela sentar.
_Vamos de qual bebida? – pergunta ele.
_Hummm esse vinho me parece ideal para essa tarde fria e chuvosa. – diz Antonieta.
E enquanto comem conversam sobre tudo que nunca falaram e ao final já eram íntimos como nunca foram com ninguém. Hoje habitam um apartamento maior e mais próximo da empresa em que Antonieta trabalha, já que Henrique como escritor trabalha em qualquer lugar. O amor fluiu no FIM DO OUTONO.
Regina Madeira – 15/06/2017
12:13 h
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