Amor adolescente
Maria, aos 12 anos, apaixonou-se por Roberto, namorado de sua vizinha com 20 anos. A cada olhar de Roberto Maria sentia um frio na barriga, embora soubesse que a distância de idade jamais permitiria qualquer proximidade.
Sentada na sarjeta após o almoço, naquela domingo ela nada mais queria do que ficar sozinha para entender o que estava sentindo. Há meses ouvia o seu coração bater fortemente e começava a viver os seus dias da mesma forma, sem qualquer encanto.
Na rua deserta e calma eis que Maria ouve o ronco de um motor. Era Roberto, certamente para visitar a namorada. Maria permaneceu no mesmo lugar, sem piscar um olho. Roberto estacionou o carro bem próximo dela e a questionou: “queres ir comigo e Iolanda assistir o Festival de Balonismo em Torres?” Esse Festival era um dos mais interessantes no calendário gaúcho. Balões de todas as cores perambulavam pelo céu em um sincronismo perfeito e, lá de cima, como que sorrindo, recebiam acenos das pessoas encantadas e sorridentes.
Com o rosto visivelmente avermelhado Maria travou. Ficou olhando para Roberto como se muda fosse. Ele fez novamente a pergunta e ela continuou estática. Foi então que Roberto falou que buscaria a namorada e retornaria para apanhá-la. Afirmou que o Festival era maravilhoso e que ela não se arrependeria. Novamente o ronco do motor, desta vez embaralhando ainda mais a cabeça de Maria. Obviamente que ela queria assistir o Festival, já que não teria outra oportunidade, mas como conviver com os namorados na maior intimidade e não sofrer? Era preciso jogar uma moeda na calçada para ver se o resultado seria cara ou coroa.
Mas nada foi preciso, uma vez que seu primo, de nome Jorge, surgiu na esquina pedalando a sua super bike e, balançando a cabeça parecia, mesmo um tanto distante, convidar Maria para mais uma aventura no Morro da Borússia. Aproximou-se e o pressentimento se confirmou. Com grande delicadeza afirmou à ela que a maioria da turma já estava à caminho e ele a aguardaria para mais um passeio com direito a banho de cachoeira.
Maria por um momento esqueceu o convite anterior e saiu correndo em direção à garagem para apanhar a sua bike. Levaram cerca de uma hora para chegarem na cascata, abreviando o caminho pela cidade de Caraá, tendo como cúmplices morros verdejantes e um céu tão azul que mais parecia um mar. Na chegada não hesitaram em cair na água. O Festival de Balonismo e Roberto ficaram para trás.
Jorge, com seu jeito moleque, abraçou a prima e, sem que ela ousasse recusar o abraço, iniciou um pequeno discurso falando do quanto a amava. Maria não entendeu nada. Era muito mais jovem do que ele e jamais imaginou tal fato. Sempre o considerou um primo próximo, amigo e protetor; jamais um homem que podia amá-la.
Por outro lado, não desgostou do abraço e, sem perceber, deixou-se tocar por ele, selando alí o seu primeiro beijo.
Depois disso, sozinhos naquele lindo lugar, afastaram-se. Nenhum olhar foi à procura do outro. Nenhuma palavra. Nenhuma reação, a não ser as toalhas de praia que precisavam ser recolhidas antes da decisão de partir. Em direção ao carro, visivelmente distantes, os dois corações dispararam, a ponto de um conversar com o outro em sintonia.
No retorno Maria tomou a frente e decidiu retornar por Osório. Teria mais tempo para refletir sobre o que estava acontecendo. Jorge a seguiu sem questionar nada. Avistando o paradouro, ainda no Morro da Borrússia, Maria parou, desceu da bike e dirigiu-se ao carramanchão, de onde podia avistar grande parte do litoral. Considerou a imensidão um choque para acordá-la para o sentimento que estava nascendo dentro dela e o problema que enfrentaria frente à família. Por alí ficou por mais de meia hora.
Com medo da noite cair, desceu o morro e rumo para casa, sozinha. Percebeu-se infantil, sem rumo. Por que ausentar-se de uma presença que lhe trouxera tamanha surpresa? Tomou uma ducha, vestiu uma camiseta leve e uma legging, pegou o telefone e ligou para o primo convidando-o para degustarem uma pizza à noite.
Maio.2017