O LAGO DOS SONHOS
O LAGO DOS SONHOS
Sossego. Esta era uma das características de Vitória, uma pequena cidade do interior do Paraná.
Era o lugar ideal para quem queria passar as férias, ou simplesmente um final de semana, longe do barulho e da poluição da cidade grande. Todas as suas casas tinham detalhes da belíssima arquitetura italiana. A cidade era cercada por enormes árvores e campos floridos, mas sua beleza revelava-se ainda mais exuberante no lago do horto florestal.
Águas cristalinas, como um enorme espelho, refletiam a imagem de uma bela garota que, sentada numa pedra, deixava todo aquele cheiro de primavera que o vento soprava, entrar por suas narinas... Aquilo a fazia sentir-se leve, como se estivesse flutuando e, pelo menos naquele momento, nada se igualava àquela sensação de liberdade que estava sentindo.
- Olá!... – uma suave voz a tirou daquele transe.
Aquela voz macia entrou em seus ouvidos como uma brisa suave. Parecia a encher de pureza, magia, como a voz de um anjo protetor. Contudo, se assustou, pois não esperava que alguém aparecesse por ali naquela tarde de terça.
- Oi, quem é você? – perguntou com a voz um pouco trêmula.
- Ninguém especial... apenas um visitante admirado com tanta beleza!
A resposta a deixou um pouco perturbada. A que beleza ele se referiu com tanta admiração? Sim, o lago era realmente lindo, mas será que era capaz de deixar um jovem com os olhos brilhando como se estivesse apaixonando-se pela primeira vez?
Arriscou:
- Isto foi uma cantada, ou você é ecologista?
- E se for uma cantada? Você vai se fazer de convencida, ou vai fazer charme dizendo: “Imagina”? – brincou o jovem.
- Não sei. O que você acha?
Ele pensou um pouco, e depois:
- Acho que você vai se fazer de convencida e vai dizer: “Obrigada”.
Eles riram.
- Você parece ser uma pessoa muito legal!
- Como pode dizer isto?! Você nem me conhece!
- É que entendeu a brincadeira que fiz com você. Qual é o seu nome?
- Perguntei primeiro e você ainda não me respondeu.
- Já disse... Ninguém Especial. E você?
- Pode me chamar de Solidão.
- Solidão?... Não acredito que uma garota tão bonita possa ter um nome tão sem sentido. Foi a sua mãe quem te deu esse nome?
- Não. A vida... Meus dezesseis anos de vida.
- Vem sempre aqui, Srta. Solidão?
- Quase sempre.
- Gosta de ficar sozinha?
- Não. Na verdade acho que ninguém gosta, mas eu já me acostumei. E você, vem sempre aqui?
- Não. É a primeira vez. Estávamos passando de viagem e o carro deu defeito. Vamos passar a noite aqui. Meus pais já alugaram quartos no hotel da cidade.
- E aí você veio conhecer o lago?
- Não, exatamente. Para falar a verdade, eu nem sabia que tinha um lago por aqui. Eu saí para dar uma volta e acabei chegando aqui por acaso.
- Por acaso?... Em outras palavras você quer dizer que se perdeu, não é?
- É, é isto mesmo! Ainda bem que encontrei você!
- Ainda bem, por quê?
- Porque já está escurecendo e não me lembro do caminho de volta.
- Devia ser mais atencioso!
-Tem razão... Mas pelo menos, desta vez, você pode me tirar daqui...
- Como pode ter tanta certeza que eu o tirarei daqui?
- Porque não acredito que em tão encantadora beleza e inocência, possa haver sequer um pingo de maldade.
- Nossa! Você é bem seguro de si!
- Nem sempre. Mas quando eu tenho a companhia de uma pequena princesa...
A garota começou a rir.
Aquela risada doce e inocente entrava pelos poros do jovem como calmante que lhe acalmava os nervos, mas que agitava o coração.
- O que foi? Eu disse alguma coisa engraçada?
A menina, recompondo-se, lhe respondeu:
- Não. Só não dá para acreditar que eu lhe dê segurança...
- E por que não? Será que isto é impossível?
- Pode não ser impossível, mas é um pouco difícil de acreditar!
- Vai ser fácil, quando você se acostumar com a ideia.
- Vou tentar, eu prometo!
Silêncio.
- Este lago é muito bonito! Como se chama?
- Lago dos Sonhos.
- Lago dos Sonhos? Por quê?
- Dizem que se a pessoa realmente acreditar em um sonho, é só fazer um pedido quando vier aqui e este pedido se tornará realidade.
- Por isso é que você vem sempre aqui?
- É! – a garota levantou-se da pedra em que estava sentada e começou a seguir o caminho de volta à cidade, enquanto seu jovem amigo a seguia. – O meu maior sonho é mudar o meu nome.
- E qual seria o seu novo nome?
- Felicidade.
- É... Felicidade é muito mais bonito que Solidão!
- Mas acho que ainda vai demorar muito!
- Por que diz isto? Você não acredita no seu sonho?
- Acredito. Mas eu pensei que seria hoje...
O jovem parou em sua frente.
- Mas por que não? – foi aproximando-se para dar-lhe um beijo...
Ela desviou o rosto e continuou a caminhar.
- Porque hoje meu sonho só chegou porque se perdeu, e eu não quero me perder por um sonho impossível...
Caminharam em silêncio até chegarem ao centro da cidade. Pararam em frente ao hotel, que já estava todo iluminado.
Ela:
- Bom, acho que agora é adeus!
- Não gosto de dizer adeus. Prefiro dizer até logo!
- Então... até logo!
O jovem sorriu.
- Até logo!
- O rapaz entrou no hotel enquanto a garota foi afastando-se lentamente. Hesitou em olhar para trás e sua mente reprisava as últimas palavras que ouvira daquela boca sensual: “Até logo!”.
Será que algum dia voltariam a se ver, ou esse era apenas mais um daqueles sonhos que custam a se tornar realidade?
A noite parecia mais longa. Cada minuto dava a impressão de ser uma eternidade e ela não tinha um pingo de sono! Ficou lembrando daqueles olhos castanhos, cheios de magia, do cabelo encaracolado, dos lábios carnudos, enfim, ficou a noite toda lembrando daquele sonho lindo, mas que para ela parecia ser impossível.
No dia seguinte, nem tomou café. Acordou tarde e decidiu ir até o hotel, pois teria que vê-lo pelo menos mais uma vez, uma última vez.
Ficou sentada em um banco da praça em frente ao hotel esperando que aquele anjo lindo aparecesse para ela novamente.
Estranhou a demora.
Fazia quase uma hora que estava ali. “Será que ainda não acordaram?” – pensou.
Decidiu esperar mais um pouco, mas a ansiedade era mais forte e decidiu ir até a recepção do hotel.
- Pois não? – perguntou um homem de meia idade, bem vestido, cabelo impecavelmente penteado e muito elegante.
- O senhor sabe se aquela família que se hospedou aqui ontem à tarde já acordou?
- Eles já foram embora!
A resposta foi como uma apunhalada para a garota.
- Quando?
- Foram hoje bem cedo. Disseram que ainda tinham que viajar muito, por isso partiram cedo.
- Obrigada...
Saiu sem querer acreditar que era verdade o que tinha acabado de ouvir. Não compreendia o que se passava pela sua cabeça, seu coração... Será que estava apaixonada? Mas que bobagem se apaixonar por uma pessoa que nem conhecia, não sabia ao menos o seu nome. Mas sabia que não era “Ninguém Especial”, pois havia nele, sim, algo muito especial: o brilho dos seus olhos.
Os dias foram passando e mais ela pensava no jovem que a fez sentir-se alegre, como há tempos não sentia-se.
- Como vai, Srta. Solidão? – não, não poderia ser! Era a mesma voz que disse-lhe “olá” outro dia.
Srta. Solidão. Sim, era como aquele jovem a chamava: Srta. Solidão.
Virou-se e viu aquele sorriso lindo que só ele tinha.
Os esverdeados olhos da menina deixaram-se brilhar de uma forma intensa, sem fim... Os lábios rosados abriram-se num sorriso mágico e seu rosto foi envolvido por suave luz, que a tornava ainda mais linda. Linda como somente ela poderia ser.
Estava sentada na mesma pedra onde se encontraram pela primeira vez, olhando o mesmo lago e certamente desejando que tornassem realidade os seus mesmos sonhos...
- Ainda quer mudar o seu nome para Felicidade? Hoje eu não estou perdido, pois eu me encontrei no dia em que te conheci.