Diferente

Anoitece. A sala de estar da casa da avó de Cindy, com quem ela mora, está mergulhada na obscuridade. Cindy e Marsha estão sós na residência. Cindy, sentada num canto do sofá, relaxada, olhos fechados, e Marsha deitada, a cabeça apoiada no colo de Cindy, olhos bem abertos.

- Eu sou quem eu sou e não posso mudar isso - diz Marsha, voz baixa.

- Está tudo bem - Cindy também fala baixo, sem abrir os olhos.

- As coisas pelas quais eu passei, o abuso que eu sofri durante anos... me fizeram a pessoa que sou hoje.

- Eu sei disso e te aceito, Marsha.

- Eu tenho consciência de que sou uma pessoa diferente.

- Diferente em quê?

- A maioria das pessoas que conheço, não importando gênero ou orientação sexual, podem sentir atração por alguém mesmo sem saber nada da pessoa. Podem até mesmo ficar com a pessoa. Ter uma noite de sexo casual... isso não rola comigo.

A voz de Cindy parece vir de muito longe, como se ela falasse num sonho:

- Você é diferente, Marsha. Percebi isso desde a primeira vez que nos vimos, no Pink Lid.

- Princesa Jujuba... - Marsha ri.

- Eu nem sabia quem era a Princesa Jujuba - Cindy entrelaça os dedos nos cabelos escuros de Marsha. - Mas você era a própria Marceline naquela noite.

Marsha encara Cindy, que continua de olhos fechados, como num transe.

- Eu não sou como as outras pessoas, Cindy. Levo um tempo muito longo pra confiar em alguém... e um tempo maior ainda pra gostar de alguém. Mas quando eu gosto, pode ter certeza...

Marsha estende um braço e toca de leve o rosto de Cindy.

- ...eu gosto de verdade.

Cindy abre os olhos. As duas se encaram em silêncio.

- Te gosto muito - diz finalmente Marsha, baixinho.

- [16-05-2017]